Observatório Psicanalítico – OP 309/2022 

Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo

IPA, 112 anos

Cláudio Laks Eizirik (SPPA)

A IPA completou 112 anos no dia 27/3, e minha querida amiga Beth Mori me estimulou, mais uma vez, a contribuir com algumas reflexões e lembranças para o OP.

As circunstâncias históricas que levaram à criação da IPA e seus desenvolvimentos posteriores são bastante conhecidas, mas talvez seja útil repassar alguns desses aspectos e verificar como influenciaram nos períodos posteriores.

Em 1910 Freud se inclinava para a ideia de uma organização que fosse mais ampla do que uma simples sociedade local. Escreveu a Jung sobre a ideia de que seus partidários pudessem reunir-se num grupo mais amplo para trabalhar por um ideal prático.

Curiosamente, havia sido visitado por um farmacêutico de Berna, buscando seu apoio para uma Fraternidade Internacional para a Ética e a Cultura, presidida por Auguste-Henri Forel (1848-1931), psiquiatra e entomologista. Sentiu-se atraído por um aspecto do programa, que lhe pareceu prático, e de caráter combativo e protetor ao mesmo tempo: a obrigação de lutar diretamente contra a autoridade do Estado e da Igreja quando estes cometem uma injustiça manifesta. Mas, ao mesmo tempo, repudiava a ideia de se unir a um movimento contra o alcoolismo, como queria Forel. A ideia foi deixada de lado, em benefício de formar uma associação puramente psicanalítica.

A IPA foi fundada em março de 1910, durante o Congresso de Nuremberg, em meio a tensas negociações. Freud havia pedido a Ferenczi que fizesse a proposta para a sua criação, o que ocorreu numa reunião administrativa após os trabalhos científicos. As palavras de Ferenczi foram recebidas com uma tempestade de protestos, pois em sua exposição havia feito observações negativas sobre a qualidade dos analistas vienenses, e sugerido que o centro da futura administração só poderia ser em Zurique, com Jung como presidente. Ferenczi, apesar de seu encanto pessoal, tinha uma forma muito direta de expressar suas ideias, e suas propostas foram bem além do que é usual nos meios científicos (Jones, 1960).

Face à reação que as palavras de Ferenczi produziram, a discussão foi adiada para o dia seguinte, pois os vienenses, principalmente Adler e Stekel, não aceitavam a proposta da liderança dos suíços. Ao saber que os vienenses realizavam uma reunião de protesto no quarto de Stekel, Freud se dirigiu para lá e fez-lhes um apaixonado pedido de adesão, enfatizando a virulenta hostilidade que os rodeava e a necessidade de apoio para contrapor-se a ela.

Depois desses momentos, foram feitos acordos que permitiram a adesão de todos à nova associação, que teve Jung como seu primeiro presidente. Como se vê, desde a nossa pré-história associativa, conflitos, dissociações, disputas pelo poder e pela influência, constituem “o pão nosso de cada dia” institucional. E fica claro como Freud se opunha à ingerência do Estado ou da Igreja.

Em “A História do Movimento Psicanalítico,” Freud (1914) é mais econômico em seu relato desses fatos. Explica que desejava deslocar o centro da psicanálise para uma cidade melhor posicionada na Europa, onde um professor universitário havia aberto as portas para a nova ciência; retirar de sua pessoa o fardo único de representá-la pois, segundo ele, a ambivalência que o cercava fazia com que o comparassem com Colombo, Darwin e Kepler, ao mesmo tempo que o chamavam de PGP (Paralisia Geral Progressiva), ou seja, a sífilis terciária, chamando-o de louco; e também retirar da psicanálise o caráter de uma disciplina judia. Em suas palavras:

“Julguei necessário formar uma associação oficial porque temia os abusos a que a psicanálise estaria sujeita logo que se tornasse popular. Deveria haver uma sede cuja função seria declarar: Todas essas tolices nada têm a ver com a análise, isto não é psicanálise. Nas sessões dos grupos locais (que reunidos constituiriam a associação internacional) seria ensinada a prática da psicanálise e seriam preparados médicos, cujas atividades receberiam assim uma espécie de garantia. Além disto, visto que a ciência oficial lançara um anátema solene contra a psicanálise e tinha declarado um boicote contra médicos e instituições que a praticassem, achei que seria conveniente os partidários da psicanálise se reunirem para uma troca de ideias amistosa, e para apoio mútuo. Isto, e nada mais, foi o que esperava alcançar com a fundação da Associação Psicanalítica Internacional. Mas tudo leva a crer que era querer demais. Do mesmo modo que os meus adversários iriam descobrir que não era possível lutar contra a corrente do novo movimento, assim também eu acabaria percebendo que este não seguiria a direção que eu desejava vê-lo seguir“ (Freud, 1914, p.57).

Podemos entender as preocupações de Freud e seus propósitos gerais, que ainda hoje são encontrados e, predominantemente, foram atingidos, mas também seu desgosto, nas linhas finais, relacionado à cisão com Jung, e talvez à antecipação das situações críticas que de tempos em tempos ocorrem em nossa Associação.

Tentando incluir, dentro do possível, algumas linhas mestras que acompanham nossa história compartilhada, podemos observar: o crescimento quantitativo, a crescente internacionalização, o autoritarismo dos primeiros tempos, em contraste com a progressiva democratização e transparência dos anos recentes; o pluralismo teórico dos últimos tempos (apesar de periódicas regressões), em contraste com a censura e as cisões de outros tempos, em que aspectos pessoais, éticos e de poder se mesclavam; o autoritarismo centralizador na formação analítica, em contraste com a realidade atual dos três modelos de formação; a proposta de um solo comum para a psicanálise em contraste com a aceitação de diferentes formas de ser psicanalista, em suas várias acepções; a existência de novas vienas, como capitais do pensamento psicanalítico e seu poder, em contraste com a noção de que se pode produzir pensamento ou prática da psicanálise e psicanalistas de qualidade com qualquer um dos modelos de formação e em qualquer um dos inúmeros centros ou regiões que habitam os mais de 13000 membros da IPA; a abertura de novas fronteiras, como o leste europeu, depois da dissolução da União Soviétiva, em 1991, novos centros na América Latina e na Ásia; uma maior participação de membros e analistas em formação em todos os níveis da associação, em contraste com tentativas de centralização e manutenção de um espírito de elite; a busca de encontro com outros saberes, instituições, universidade, saúde pública, educação, filosofia, as grandes questões de nosso tempo e os grandes desafios do mundo em que vivemos (dentro do espírito que animava Freud , um pensador da cultura), em contraste com visões que privilegiam o espírito da torre de marfim, do trabalho apenas intramuros, da busca de uma suposta pureza ou exclusividade da psicanálise; a procura afanosa por ouvir, tentar entender e empatizar com o outro, seja de outra cultura, de outra teoria, de outro vértice, como diria Bion, em contraste com a repetição de nossas mais arraigadas convicções pessoais, teóricas e institucionais, num solipsismo tão bem descrito por Faimberg; a busca das verdadeiras controvérsias em contraste com a repetição do conhecido, conforme estudado por Bernardi; a noção de que a IPA é um patrimônio comum, da qual somos todos sócios e condôminos, em contraste com tentativas hegemônicas de pequenos grupos que supostamente seriam os herdeiros dos filósofos propostos na república de Platão (Eizirik, 2010).

Como funciona a IPA ? Quais seus alcances, possibilidades e limitações?

Para tentar dar uma ideia dessa complexa estrutura, penso que pode ser interessante relatar aqui minha própria experiência como presidente, de 2005 a 2009. Naturalmente, é um recorte fragmentário, muito mais baseado nas minhas lembranças, percepções e sentimentos. Afinal, é com a subjetividade que trabalhamos, e esta é a minha versão, ou narrativa, dessa experiência. Como aprendemos com Akira Kurosawa, em “Rashomon”, o mesmo suposto fato pode ter diferentes versões.

Como eu havia sido presidente da FEPAL entre 1998 e 2000, e vinha participando de vários comitês e sido um dos vice-presidentes, nas gestões de Horácio Etchegoyen e Otto Kernberg, vários colegas e amigos passaram a me estimular a concorrer para a presidência de nossa Associação, no que seria a segunda administração latino-americana, tendo a primeira sido presidida por Etchegoyen. Convidei minha hoje saudosa amiga Monica Siedmann de Armesto para ser a secretária-geral. Naquela eleição, havia três candidatos: o peruano Moisés Lemlij e os brasileiros Ana Maria Azevedo e eu. Houve uma série de debates entre nós, nas três regiões, em Nova York, Praga, Turim, Rio, Montevideu, São Paulo, num clima predominantemente amistoso, dentro do possível, em que cada um expunha seus planos e havia ampla discussão com os colegas. Penso hoje que essa ampla exposição e discussão de ideias foi um marco positivo para estimular a participação e inclusão de membros e analistas em formação.

Tendo sido eleitos, Monica e eu passamos a participar das atividades do Board em 2003 e tomamos posse em 2005. No discurso de posse, em português, no Congresso do Rio, o primeiro da IPA a ser realizado no Brasil, com intensa participação de analistas e analistas em formação brasileiros e total apoio da FEBRAPSI, tentei descrever como via a psicanálise e a IPA naquele momento e o que pretendíamos fazer. Descrevendo a psicanálise como uma obra em construção, ou seja, desde o início enfatizando a natureza evolutiva e em transformação de nossa teoria e de nossa prática, propus ao Board três objetivos estratégicos: 1. Estimular o desenvolvimento e a qualificação de uma boa prática analítica; 2. Reforçar a relação da IPA com seus membros e analistas em formação, sociedades e grupos de estudos, e federações regionais; 3. expandir a relação com o mundo em que vivemos.

Em nenhum momento deixamos de pensar, como nosso objetivo político, na necessidade de internacionalizar mais a IPA, que ainda contava com uma certa hegemonia dos principais e mais tradicionais centros psicanalíticos, e vivia, em muitos aspectos, num modelo colonizador/colonizado, apesar de inegáveis progressos anteriores. Como atingir tal objetivo? Criando novos comitês nessa direção, mantendo os existentes e incluindo o maior número possível de analistas latino-americanos e de outras latitudes menos representadas.

Hoje, como na época, estou convencido de que as conquistas daquela gestão, ou os resultados possíveis, (como, aliás, de todas as gestões) tiveram relação direta com o trabalho conjunto com vários comitês e grupos e seus membros que, como se verá, se tornaram nos anos seguintes líderes destacados da IPA.

O primeiro desses comitês foi o CAPSA (Comitê de Prática Analítica e Atividades Científicas), com o objetivo de tornar mais paritário o intercâmbio entre sociedades e regiões. A IPA financiaria esses intercâmbios, desde que a cada analista convidado por uma região,  outro analista da sociedade que convidou seria convidado reciprocamente. Esse comitê, que continua plenamente ativo na IPA, foi um sucesso, graças ao trabalho de Elias Mallet da Rocha Barros (coordenador), Glen Gabbard, Stefano Bolognini e Abel Fainstein.

Um novo Comitê de Educação foi nomeado, com o objetivo de aprofundar e elaborar o projeto para a discussão dos três modelos de formação. Até então, a IPA só reconhecia o modelo Eitingon, apesar de saber que existiam outros. Coordenado por Shmuel Erlich, desse comitê participavam também Aloysio d’Abreu e Fernando Weissman. O assunto vinha sendo discutido desde a administração anterior, do saudoso Daniel Widlocher, e produzia debates acalorados e ameaças de uma cisão da IPA, caso fosse aprovada alguma mudança. Finalmente, nas reuniões do Board de 2006, em Berlim, foram oficialmente aceitos os modelos Eitingon, Francês e Uruguaio.

Embora de início as posições estivessem muito radicalizadas, e hoje se pode observar que dominadas por dissociações e projeções recíprocas, foi possível criar condições para que o grupo de trabalho superasse os supostos básicos e, com concessões de cada grupo antes irredutível, com perdas e ganhos de cada proposta original, ganharam  a psicanálise e a IPA. Um passo adiante foi dado pelo Board, na gestão de Stefano Bolognini, em 2017, com a flexibilização do modelo Eitingon. Essas decisões, no entanto, tanto a de 2006, como a de 2017, embora em pleno vigor, ainda contribuem para questões e controvérsias, ostensivas ou veladas.

Por falar em Berlim, tivemos um emocionante Congresso naquela cidade, em 2007, o primeiro a ser realizado lá desde o congresso de 1922, que foi o último a que Freud compareceu. Havia alguns colegas que se opunham a realizar um congresso em Berlim, como tinha havido oposição a realizar o anterior no Rio, seja por razões históricas ligadas ao nazismo, seja por razões de segurança. Junto com a maioria do Board, defendi as duas decisões, porque via nos argumentos contrários um elemento de preconceito e de revanchismo. Como tema para o congresso de Berlim, sugeri e foi aceito “Recordar, repetir e elaborar na psicanálise e na cultura”, o que permitia celebrar o aniversário do texto, dedicar a atenção à sua relevância teórica e clínica e pensar em sua utilidade para entender o mundo em que vivíamos e havíamos vivido.

Decidi iniciar meu discurso de abertura com as primeiras estrofes do hino dos partisans judeus, que enfrentavam os nazistas, em iidiche , com ênfase na frase “mir zainen do“, ou seja, “estamos aqui”. E de fato, estávamos de novo em Berlim, com uma maravilhosa organização e participação dos analistas alemães, coordenados por Georg Bruns, com uma impactante conferência de abertura da escritora Christa Wolf, com André Green recebendo e agradecendo, em lágrimas, o prêmio máximo da IPA, e sendo aplaudido de pé; com sessões de discussão das vivências do holocausto e de outras formas de traumas decorrentes de ditaduras e totalitarismo, com a inauguração de uma estátua da Gradiva em frente ao prédio em que funcionara o Instituto Psicanalítico de Berlim, e que depois abrigara o escritório de Eichmann (e aí li uma saudação em alemão aos presentes naquele entardecer inesquecível), e, entre tantas coisas, uma festa de encerramento animada por uma banda composta só por talentosas musicistas.

Outra área que enfrentou fortes desafios foi a questão da formação analítica na China, onde vários colegas das três regiões já trabalhavam há alguns anos em viagens periódicas para supervisão e seminários. Como havia uma analista alemã morando em Pequim com seu marido diplomata, o Board decidiu conceder-lhe funções didáticas e assim nove colegas chineses iniciaram suas análises. Durante uns viagem a Pequim, em outubro de 2008, junto com o Comitê da China, coordenado por Peter Loewenberg, decidimos iniciar formalmente a formação analítica para aquele grupo. Depois de um longo percurso, com todas as dificuldades do sistema político daquele país, em julho de 2021 o Board reconheceu o Grupo de Estudos da China. Uma das resistências provinha da ideia de que a mentalidade chinesa não seria capaz de entender a forma de pensar psicanalítica, o que não deixa de ser, no mínimo, curioso, dada a cultura milenar que ali se desenvolveu.

Numa ação conjunta com a FEPAL, então presidida por Álvaro Rey de Castro, criamos o ILAP (Instituto Psicanalítico da América Latina), para organizar estudos e futuramente formação analítica em países onde a IPA não estava presente, coordenado por Javier Garcia, com Telma Barros, Juan Vives, Alicia Lustgarten e Pedro Boschan, e que continua em franco desenvolvimento.

Um novo Comitê sobre Psicanálise e Cultura, coordenado por Leopold Nosek, promoveu estudos e encontros nas três regiões.

Um Comitê sobre o Preconceito (incluindo racismo, anti-semitismo, questões de gênero), coordenado por Janine Puget, e do qual participava Viviane Mondrzac, produziu vários textos e discussões bastante relevantes, até os dias de hoje.

Os 100 anos da IPA foram marcados por inúmeros eventos nas três regiões, e um encontro especial em Pequim, sob a coordenação geral de Stefano Bolognini.

O COCAP (Comitê da Psicanálise de Crianças e Adolescentes) manteve seu programa e se desenvolveu, com a eficiente coordenação de Virgínia Ungar, tanto quanto o COWAP, dirigido por Giovanna Ambrosio.

A Comissão de Publicações, coordenada por Letícia Glocer de Fiorini, da qual participava Sérgio Lewkowicz, realizou uma efetiva internacionalização e qualificação dos livros publicados pela IPA.

Celebrando os 150 anos do nascimento de Freud, em 2007, nosso Comitê das Nações Unidas, coordenado por Afaf Mahfuz, do qual participava Miguel Sayad, organizou um dia de atividades na ONU, sobre o tema Aproximações à prevenção da transmissão intergeracional do ódio, da guerra e da violência, em que após nossas apresentações, ouvimos e discutimos o trabalho de várias ONGs e instituições envolvidas com questões da violência e de sua transmissão, em diferentes contextos. Foi uma das mais emocionantes experiências desse período.

Sob a inspirada liderança de Sérgio Nick, foi criado um Comitê de Informação Pública, que trabalhou na divulgação dos congressos de Berlim e de Chicago e estabeleceu uma nova forma de apresentar a psicanálise e sua relevância para fora de nossos muros.

Adriana Prengler de Benveniste coordenou um eficiente sistema de empréstimos a analistas em formação, que beneficiou a formação de inúmeros colegas.

A gestão foi encerrada com o Congresso de Chicago, em 2009, tendo como tema “A prática psicanalítica: convergências e divergências”, organizado por uma comissão coordenada por Abel Fainstein. Foi uma maneira de enfatizar, mais uma vez, a importância  do trabalho clínico para a psicanálise.

Nas gestões seguintes, participei das de Stefano Bolognini e de Alexandra Billinghurst e de Virginia Ungar e Sérgio Nick que promoveram grandes desenvolvimentos, cada uma delas, como os Dicionário Enciclopédico da Psicanálise, o Boletim Conjunto da IPA e das federações regionais, a noção do quarto eixo da formação, mais ênfase na relação com as outras áreas da saúde e da cultura (a primeira), um novo programa denominado “A IPA na comunidade”, mais atenção à infância e ao feminino, e expansão do envolvimento de membros e analistas em formação na relação com a comunidade (a segunda), estudos sobre o racismo e as ameaças ao clima, tendo ambas gestões realizado excelentes congressos, o último dos quais pela primeira vez virtual. Embora imaginasse que minha principal contribuição à IPA tivesse sido concluída em 2009, fui convocado para uma nova imersão intensa por Virginia Ungar, como coordenador do Comitê Internacional dos Novos Grupos (ING), durante toda a sua gestão, e que foi muito estimulante. Vejo como muito promissora a gestão que já estão realizando Harriet Wolfe e Adriana Prengler.

Este relato de uma experiência, talvez muito descritivo, possivelmente só ficaria mais genuíno com “as vastas emoções e os pensamentos imperfeitos”, as dúvidas, as ansiedades, as incertezas, as alegrias, os prazeres e um certo orgulho de pertencer a uma Associação que faz jus a esse nome, como sonhava Freud.

Observando a partir de uma perspectiva histórica, um elemento comum entre  aqueles primeiros momentos da formação da IPA e as etapas sucessivas é justamente essa relação dialética entre tentativas de organização e ruptura, de cuidado com a associação e seu desmembramento, de busca de elementos comuns e negação de qualquer possibilidade de conviver com o outro, o diferente, o estrangeiro, entre tentativas de ligação e desligamento, como diria Green.

Se há algo que podemos aprender ao acompanhar essa história centenária, que na verdade é apenas um pequeno fragmento na grande história das ideias revolucionárias que vão modelando e dando sentido à mentalidade humana, penso que os fundamentos  da IPA estão no trabalho árduo, diário e capaz de enfrentar as decepções, conflitos, limitações, e os ganhos possíveis na busca do cuidado e na aceitação de uma responsabilidade compartilhada pelo outro, sendo esse outro não só o paciente que nos procura para análise, mas o próprio objeto psicanalítico, em suas dimensões teóricas, clínicas, institucionais e de inserção na comunidade e na cultura.

A maneira como cuidamos e nos responsabilizamos  por esse objeto elusivo, desafiador, tantas vezes frustrante, sempre exigente, que algumas vezes também nos mostra seu esplendor e capacidade de produzir beleza e reduzir o sofrimento psíquico, em cada campo analítico e em cada experiência institucional ou na comunidade, talvez seja a melhor maneira de celebrar mais um aniversário de nossa morada comum.

Referências:

Eizirik, CL ( 2010) L´´ethique aux fondements de l´API, Paris, Colóquio da SPP, novembro de 2010 Eizirik, CL ( 2011) The IPA administration from 2005 to 2009. In Loewenberg, P. and Thompson, N 100 Years of the IPA, London, Karnac, Freud, S (1914) História do Movimento Psicanalítico, Ed Standard Brasileira das Obras Psicológicas, Rio, Imago, 1969 Jones, E (1960) Vida y Obra de Sigmund Freud, Buenos Aires, Editorial Nova

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