“Em Turim, no dia 3 de janeiro de 1889, Friedrich Nietzsche deixa a residência no número 6 da Vila Carlo Alberto, talvez para dar um passeio, talvez para ir até o correio recolher sua correspondência. Não longe dele, ou realmente bastante longe dele, um cocheiro tem problemas com seu cavalo teimoso. Apesar de sua premência, o cavalo resolve empacar. O que faz com que o cocheiro – Giuseppe? Carlo? Ettore? – perca a paciência e comece a chicoteá-lo. Nietzsche avança até a multidão e põe um fim ao brutal espetáculo do cocheiro, que está espumando de raiva. O forte e bigodudo Nietzsche repentinamente pula na carroça e abraça o pescoço do cavalo, soluçando. Seu vizinho o leva para casa, onde ele fica deitado por dois dias, imóvel e silencioso, em um divã… Até que finalmente murmura suas últimas palavras: “Mãe, eu sou um idiota”.
Com essa narrativa se inicia o filme “O cavalo de Turim”, de Béla Tarr e Ágnes Hranitzky, de 2011.
Segundo Deborah Danowsky e Eduardo Viveiros de Castro em seu livro “Há mundo por vir?”, o filme pode ser interpretado como uma dentre muitas produções da cultura que tentam elaborar um fim do mundo já anunciado pela “intrusão de Gaia”, que é o nome dado por Isabelle Stengers para se referir a eventos como o aquecimento global ou a extinção de espécies, entre outras catástrofes. Que respostas locais temos conseguido construir?
Em seu tempo, Freud constatou que o projeto civilizatório seria um projeto sempre inconcluso, de repetições, avanços e retrocessos, tensões entre forças de construção e destruição, e que o mal-estar seria uma condição inescapável.
Reconhece a nossa capacidade destrutiva, mas não previu que a destrutividade humana sobre a natureza chegaria as dimensões caracterizadas hoje pelo Antropoceno, uma prova material dos efeitos da relação de dominação dos seres humanos sobre os outros seres.
Como avançar em uma ideia de política que seja verdadeiramente atravessada por diferentes formas de estar no mundo?
Como a psicanálise poderia contribuir para recuperar o elo apagado entre natureza e cultura? Como construir um futuro que reconheça a nossa ancestralidade?
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Abraços, equipe de Curadoria do OP