Thomas Ogden

Thomas Ogden é psiquiatra e psicanalista filiado à Associação Americana de Psicanálise e à International Psychoanalytical Association (IPA). Reside em São Francisco (EUA), onde clinica e é diretor do Center of the Advanced Study of the Psychoses.

Ogden completou sua residência em psiquiatria na Yale University School de Medicina e, posteriormente, fez a formação psicanalítica no San Francisco Psychoanalytic Institute. Porém, continuou seus estudos na Tavistock Clinic, em Londres, pois estava insatisfeito com a psicologia do ego, que sofria rígida influência de Hartman. Ao longo dos anos de estudo, Ogden se questionou sobre a teoria estrutural do desenvolvimento da personalidade, sobre a interação interpessoal e o tratamento psicanalítico. Desses questionamentos nasceu um grande volume de publicações. São oito livros:

  • Projective Identification and Psychotherapeutic Technique (1992)
  • The Matrix of the Mind: Object Relations and the Psychoanalytic Dialogue (1992)
  • The Primitive Edge of Experience (1992)
  • Subjects of Analysis (1994)
  • Reverie and Interpretation. Sensing Something Human (1999)
  • Conversations at the Frontier of Dreaming (2002)
  • This Art of Psychoanalysis: Dreaming Undreamt Dreams and Interrupted Cries (2005)
  • Rediscovering Psychoanalysis: Thinking and Dreaming, Learning and Forgetting (2009)

O único livro traduzido para o português até o momento é Os Sujeitos da Psicanálise, publicado em 1996 pela Casa do Psicólogo. Além disso, existem vários artigos e capítulos de livros, muitos deles traduzidos e publicados no Brasil.

As obras de Ogden são muito bem escritas e de grande profundidade. Suas referências teóricas principais são Freud, M. Klein, Bion, Tustin, Fairbairn e principalmente Winnicott. Ogden ofereceu grandes contribuições para psicanálise. Nesta resenha privilegiarei os conceitos de terceiro analítico e de posição autista-contígua.

Ogden propõe um novo olhar para o processo analítico, estabelecendo uma visão dialética entre o sujeito e o objeto, ressaltando dessa forma, a intersubjetividade. Os sujeitos da análise, analista e analisando, criam-se mutuamente, não há analista sem analisando e não há analisando sem analista, embora mantenham o contorno de suas individualidades. No processo analítico, o analisando não pode ser apenas o sujeito da investigação e tampouco o analista poderá ser apenas o observador dos esforços do analisando. O analisando precisa ser sujeito nesta investigação, criar esta investigação, e o analista também precisa fazer parte ativa no processo, pois a sua experiência subjetiva é o caminho possível para a compreensão da relação que está sendo vivenciada. Então, da inter-relação das subjetividades do analista e do analisando produz-se o terceiro analítico.

“O terceiro analítico não é apenas uma forma de experiência de que participam analista e analisando, é ao mesmo tempo, uma forma de vivenciar a eu-dade (uma forma de subjetividade), na qual (por meio da qual) analista e analisando se tornam outros do que foram até aquele momento.” ¹

O terceiro analítico geralmente se manifesta por meio de imagens, sensações ou sentimentos produzidos na mente do analista no momento do encontro terapêutico. O analista capta o terceiro através de sua função reverie e dá voz à experiência. Desse modo, analista e analisando vivenciam o passado vivo do analisando criado intersubjetivamente no terceiro analítico, possibilitando assim, sua elaboração e transformação.

Ogden estudou com entusiasmo as organizações psicológicas mais primitivas da mente humana. Ele propõe a idéia de uma posição ainda mais antiga que as posições esquizo-paranóide e depressiva, propostas por M. Klein. Esta posição foi denominada autista-contígua. O termo autista significa a mais primitiva organização psicológica, e contígua se refere a partes que se tocam, uma vez que, nesta posição, o contato de pele é o meio mais importante para produzir sentido e gerar os rudimentos da experiência de self. A posição autista-contígua é pré-simbólica e marcada pelas sensações. Em situações normais, ela é o pano de fundo, o delimitador sensorial para as experiências posteriores da vida psíquica.

“A experiência sensorial no modo autista-contíguo tem uma qualidade de ritmo que vai se tornando continuidade de ser; ela tem a tessitura, que é o início da experiência de um lugar onde se sente, pensa e vive; possui forma, dureza, frieza e calor, textura etc., que são o início das qualidades de um ser.” ²

O tipo de ansiedade própria desta posição é a de um terror sem nome de dissolução dos vínculos, que resulta em sensações de vazar, cair ou dissolver-se em formas infinitas e espaços informes. As posições autista-contígua, esquizo-paranóide e depressiva permanecem em relação dialética. Cada uma delas cria, preserva e nega as outras.

O objetivo desta resenha é oferecer algumas informações básicas para que você, leitor, possa ter a curiosidade de ler as obras de Thomas Ogden e se deliciar com o seu pensamento e a sua forma poética de escrever. É imperdível.

Resenha elaborada por Tânia Oliveira de Almeida Grassano, psicanalista em formação pelo Grupo de Estudos Psicanalíticos de Minas Gerais (GEPMG).

¹ OGDEN, Thomas. Os sujeitos da Psicanálise. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996, PP. 4-5.
² OGDEN, Thomas. Sobre o conceito de uma posição autista-contígua. Revista Brasileira de Psicanálise, V.xxx(2): 341-364, 1996.

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