Wilfred Ruprecht Bion

W.R Bion nasceu em 8 de setembro de 1897 em Muttra, no Penjab, província anexada à Colônia Inglesa em 1849. Seu pai era engenheiro do serviço público britânico à época do seu nascimento, servindo, portanto, na Índia. Sua mãe foi uma pessoa simples de temperamento instável, mostrava-se freqüentemente triste e o garoto sofria muito com estas características da mãe. Os pais de Bion tiveram mais uma filha, chamada Edna.

Bion viveu na Índia até os sete anos sob os cuidados de uma ama indiana (Ayah), senhora que exerceu sobre ele marcante influência. Os altos funcionários ingleses tinham por praxe mandar seus filhos para estudarem na Inglaterra. Por volta dos oito anos Wilfred foi enviado para Londres e lá morou sem a família, interno em um colégio onde recebia escassas visitas dos pais. No período entre o final da infância e a adolescência, Bion encontrou dificuldades em se adaptar, pois sentia aguda solidão e declarou, quando adulto, que amargas impressões ficaram-lhe impressas em função do rígido e repressor sistema escolar da tradicional escola pública que frequentou neste período.

A atividade desportiva auxiliou Wilfred a desenvolver maior integração com os colegas, tornando-se capitão de equipes desportivas de rúgbi, natação e waterpolo. Nesse período também evidenciou seu brilhantismo como estudante. Aos 19 anos ingressou nas Forças Armadas, onde se destacou devido às suas competências intelectuais e desportivas. Atuou na I Grande Guerra com distinção, chegando a ser condecorado no Palácio de Buckingham, em função de seu desempenho em uma arriscada ação bélica. Na carreira militar atingiu a patente de capitão.

Ao término da Guerra foi para a Universidade de Oxford, onde estudou História Moderna, Filosofia – demonstrando interesse especial por Kant – e Teologia, licenciando-se em Letras, o que o levou a se dedicar ao magistério. Também apresentava talento inegável para pintura impressionista. Ao ler Freud ficou fascinado e resolveu fazer medicina e se tornar psicanalista. Após sua formatura como médico, aos 33 anos, conseguiu algumas condecorações como cirurgião. Em seguida, envolveu-se com a prática psiquiátrica e se empregou na Tavistock Clinic. Analisou-se por dois anos com J. Rickmann, quando a II Guerra provocou a interrupção do processo analítico.

Bion continuava a trabalhar na Tavistock quando voltou ao exército, em 1940, em plena 2ª Guerra Mundial; neste período se dedicou à reabilitação dos pilotos do exército. Com o final da Guerra, voltou a trabalhar na Tavistock com grupos. Essas experiências foram relevantes para suas concepções sobre trabalho com grupos.

Bion conhece Betty Jardine, famosa atriz de teatro e com ela se casa. Mas em 1945, então com 48 anos, seu casamento termina com a morte prematura de Betty durante o parto de sua filha Partenope. Este fato o deixa profundamente consternado, levando-o reiniciar sua análise, desta vez com Melanie Klein, processo que durou oito anos. Durante este período retornou para sua formação no Instituto de Psicanálise de Londres. Casou-se pela segunda vez com Francesca, que era pesquisadora e sua assistente na Tavistock. Tiveram um casal de filhos, Julian e Nicola. Francesca vive até hoje em Oxford, onde zela pela obra do marido. Partenope se tornou psicanalista na Itália, vindo a falecer, prematuramente, em um acidente de automóvel no final da década de 1990.

Bion fez diversas viagens pelo mundo, chegando a proferir algumas conferências no Brasil e Argentina; muitas delas em São Paulo. O clima em Londres começou a despertar muita rivalidade entre ele e os kleinianos e isto o fez aceitar um convite para residir na Califórnia, onde permaneceu por 11anos. Em agosto de 1979 decide voltar para a Inglaterra; parece que desejava se reaproximar dos filhos e se preparava para voltar a clinicar quando foi acometido cronicamente por leucemia mielóide aguda. Ao tomar ciência do diagnóstico teria dito: “A vida sempre nos reserva surpresas, geralmente desagradáveis”. W.R. Bion morreu em questão de dias, com 82 anos, em 08 de novembro de 1979 na cidade de Oxford, na Inglaterra.

Bion escreveu uma autobiografia que se transformou em um livro póstumo, em 1982. Este relato se intitula, The Long Week-end. Segundo Bléandonu, um de seus biógrafos, Bion aumentou nosso prazer em aprender. Reexaminou as coisas a partir de seus começos, e descobriu um novo caminho para a psicanálise. Surge como verdadeiro inovador de uma prática moderna. (Bléandonu, 1990).

Wilfred Ruprecht Bion e sua obra

Bion apresenta uma produção inovadora que revela seus sólidos conhecimentos científicos em diversas áreas. Propõe, também, uma expansão sensível para o momento do encontro psicanalítico, revelando a vivacidade envolvida nos fatos, com o objetivo de apreender a realidade o quanto possível. Essa produção abrange um período de 40 anos, distribuídos em aproximadamente 50 títulos. Alguns de seus estudiosos apresentam seu pensamento através de três modelos: científico-filosófico, influenciados principalmente pelo empirismo inglês e por Kant; estético-artístico, por Shakespeare; místico-religioso, por Mestre Eckat, São João da Cruz e Bhagavad-Gita.

Referências às suas principais obras

  • 1948. Experiências com grupos – Fundamentos da Psicoterapia de Grupo. Imago. Rio de janeiro, Janeiro, 1970.
  • 1950/1960. Estudos psicanalíticos revisados. (Second thougts). Imago, Rio de Janeiro, 1967.
  • 1962. O Aprender com a experiência. Imago, Rio de Janeiro, 1991.
  • 1963. Elementos de psicanálise. 2ª. Ed. Imago, Rio de Janeiro, 2004.
  • 1965. Transformações. Do aprendizado ao crescimento. 2ª. Ed. Imago, Rio de Janeiro, 2004.
  • 1970. Atenção e interpretação. 2ª. Ed. Imago, Rio de Janeiro, 2006.
  • 1973. Conferências brasileiras 1. Ed. Imago, Rio de Janeiro, 1975.
  • 1975. Uma memória do futuro I. O sonho. Imago, Rio de Janeiro, 1979.
  • 1977. Uma memória do futuro II. O passado apresentado. Imago, Rio de Janeiro, 1996.
  • 1979. Uma memória do futuro III. A aurora do esquecimento. Imago, Rio de Janeiro, 1996.
  • 1958/1979. Cogitações. Ed. Imago. Rio de Janeiro, 2000.

Referências Bibliográficas:

  • BLÉANDONU, G. Wilfred R. Bion. Imago, Rio de Janeiro, 1990.
  • REZENDE. A. M. A metapsicanálise de Bion – Além dos modelos. Papirus Ed. Campinas, 1994.
  • SANDLER. P. C. The language of Bion. A dictionary of concepts. Karnak. London. 2005.

Resenha elaborada por Aparecida Malandrin Andriatte, membro filiado do Instituto da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

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