Observatório Psicanalítico OP 588/2025 

Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo

O pequeno vão

Daniel Delouya – SBPSP

Uma amiga de várias décadas reage às minhas preocupações com Gaza:

Querido e amado Dani,
Tanta tristeza transparece em suas palavras…
Lamentavelmente, não tenho palavras de consolo a oferecer — apenas, quem sabe, uma outra perspectiva…
Como alguém que não tem alternativa senão permanecer no olho do furacão, eu — e nós — simplesmente continuamos a viver.
Suspendemos, em parte, a crueldade e os horrores que nos cercam, como única forma de preservar alguma vitalidade.
Temos consciência de que nossa capacidade de influência é ínfima, quase inexistente — e, ainda assim, seguimos participando das manifestações e, por uma porta traseira invisível, deixamos entreabrir um pequeno vão por onde a esperança possa entrar.
Sem ela, morreríamos.
(…)
Saudades, Haia

Haia, amiga de mais de cinquenta anos, e que não é da nossa área, trouxe em sua mensagem algo que, por vezes, perco nas ricas, necessárias e, não raro, belas trocas no OP. O pequeno vão de esperança que a psicanálise tem oferecido à cultura acaba, por vezes, esmagado em nome de um alívio ou gozo que a vigilância e a projeção do mal vêm proporcionando.

Curiosamente, nessas colocações, Luiz Meyer, um dos mais admiráveis psicanalistas de nosso meio — que acompanho de perto há três décadas e que é também um escritor e poeta de mão cheia — declara, com a honestidade que lhe é característica, que os conceitos psicanalíticos servem pouco, se é que servem, para nos aproximar dos acontecimentos históricos: basta costurar as circunstâncias no grande arcabouço do Capital. “Somos todos peões do capital.”

A etiologia socioeconômica é, de fato, uma chama fascinante — um fogo que logo consome o nosso campo de centeio. Freud previu também essa fuga, e nos adverte, ao final de sua obra:

“A tendência da época moderna é de relacionar os acontecimentos da história humana […] à influência decisiva das condições econômicas” (1939, O Homem Moisés e a Religião Monoteísta, p. 148), negligenciando e excluindo tudo o que diz respeito ao outro e ao homem — objeto de dedicação da psicanálise.

Se em O Mal-estar na Cultura (1929), Freud nos alerta para o retorno da lógica da posse, do domínio — isto é, a cultura sob os auspícios da pulsão de morte, em função do desamparo —, nosso ilustre colega parece confirmar: sim, o capital é tudo, e a psicanálise só tem lugar entre quatro paredes. Talvez sirva para nós auxiliar na fruição do amor e dos campos do saber — das belas obras da música, da literatura, da poesia e das artes.

Se, na arena social e política, viceja o mal, a ideia é vigiá-lo, denunciá-lo, atribuí-lo — numa espécie de projeção a jato — àqueles que governam, sempre em prol do capital. Por fim, a imprensa nos mune do melhor e mais sofisticado sistema de esgoto: um “seio-latrina” (Meltzer) para todos os mal-estares. Ou, segundo Freud, aquilo que se disjunta em pulsão de destruição precisa encontrar um fora para ser expurgado — já que a produção do mal não cessa.

Não obstante, a psicanálise começa e termina com o mal. A dor, afirma Freud, torna-se predicado da maldade e da hostilidade do outro. O melhor, recomenda ele, seria assumir, em primeiro lugar, a própria maldade — sobretudo a sexual — cuja negativação conduz a um mal ainda mais devastador para o sujeito e para os seus próximos. Em Melanie Klein, reconhecer a maldade (agressão, inveja etc.) em relação ao outro é requisito primordial da posição depressiva; e essa exigência se prolonga, como verdade necessária, em Bion, na forma doatonement — remorso e expiação.

Afinal, o mal é banal. Todos, de certo modo, adoram o mal: começa-se por bater e revidar, por gozar com o sofrimento do outro, por estabelecer equações que o justificam. Segundo André Green, “o malvado não é alguém que faz o mal, mas aquele que ama o mal”. Amar o mal é gostar de traçá-lo, detectá-lo, apontá-lo e localizá-lo, imaginando poder exterminá-lo — e, assim, assegurar o triunfo definitivo de um bem soberano. Dessa forma, aniquilam-se quaisquer vestígios de culpa ou remorso em si mesmos.

Esse modo de organização, associado ao gozo sadomasoquista, legou à história não apenas religiões fundadas na expurgação do mal, mas também os piores regimes totalitários — de direita ou de esquerda — liderados, por exemplo, por Hitler e Stalin. Neles, a imaginação de expurgação do mal se converteu em plano de execução: contra a “raça” judaica, contra os ciganos, contra os dissidentes de uma ideologia de Estado.

Entretanto, esse modo imaginário, esquizoparanóide, captura os indignados em sua malha e os impele a farejar o mal, denunciá-lo, demonizá-lo, expurgando-o em coro social, rumo a uma possível latrina que pudesse absorvê-lo e eliminá-lo. Essa é, aliás, a lógica da primeira comunidade dos irmãos no mito freudiano.

Rechaçados dos bens (mães e mulheres) por um pai perverso e todo-poderoso (o capital), os irmãos se reúnem, enquanto grupo marginalizado, num laço homossexual de satisfação atuada em relação ao mal que lhes foi imposto. Conseguem, então, derrubar o pai e desapropriá-lo — para logo elegerem um novo líder e instaurarem um novo regime, não muito diferente daquele que os antecedeu. De nada adianta curvar-se por anos sobre O Capital de Marx se, no momento em que o poder está nas mãos, um versado FHC compra, com nosso dinheiro, o Congresso Nacional e o Senado…

O caminho é outro: sair da equação projetiva e atuada, rumo ao reconhecimento da diferença, da singularidade. É disso que se trata na segunda comunidade dos irmãos, no mito freudiano: com a perda do pai, inaugura-se a abstinência do amor ao mal. Forma-se, então, uma sociedade dos enlutados (do poder), que se apercebe do outro por meio da linguagem do não saber (não equacionar), da poesia, da construção de narrativas junto aos outros — uma lógica de cooperação, em vez da colaboração para a expurgação do mal.

Afinal, há muito mais coisas entre o céu e a terra do que pode sonhar o nosso vão marxismo.

Coincido com Luiz Meyer na aguda análise que faz do uso do poder estatal israelense para sufocar as autoridades palestinas, além de chancelar a expansão dos territórios ocupados em benefício dos colonos. Trata-se, de fato, do plano deste — como de outros — governos da direita, e não do sionismo em si. Há uma semana, o ministro do Interior aprovou a construção de mais 22 vilarejos nessa área ocupada desde a guerra de 1967.

O interessante, porém, é que — salvo a parte oriental de Jerusalém, reconquistada (em 1948, os judeus foram expulsos de grande parte da cidade) — nenhum território foi formalmente anexado ao Estado de Israel, ao contrário do que ocorreu com diversos países que invadiram e anexaram terras de outras nações. Nada impede que esses colonos venham a ser removidos quando um acordo de paz for estabelecido e um Estado palestino for constituído. Colonos foram de fato retirados das belas cidadelas que haviam construído no Sinai, quando esse território foi devolvido ao Egito.

Como já afirmei em diversas ocasiões, a Nakba de 1948 para os palestinos tem um paralelo na catástrofe que representou, para Israel, a embriagante vitória da guerra de 1967. Catástrofe, em grego, significa “pôr abaixo”. E foi isso que a ocupação fez: pôs abaixo o projeto sionista ao degradá-lo na arrogância que todo poder confere à humilhação e à exploração de outro povo. Há quem afirme que o caldo entornou bem antes — certamente em 1948, ou talvez já nos anos 1920 — quando o mandato britânico se mostrou favorável ao projeto de uma pátria para os judeus na Palestina.

De fato, ali começa a polarização e a hostilidade entre árabes e judeus, embora ainda distante de qualquer relação de dominação. Naquele momento, não havia razão para alarmes nacionalistas: os imigrantes judeus assimilavam os hábitos alimentares, os trajes e os modos de vida da população árabe. Em 1924, um jovem deixou a aldeia judaica na Ucrânia e emigrou para a Palestina, onde se encantou com o convívio com os árabes sob o sol intenso do Oriente Médio. Trabalhava em suas terras e jamais atendeu aos apelos dos parentes na Europa, buscando extirpar da alma as lembranças das agruras sofridas pelos judeus em sua terra natal. Tornou-se um poeta exímio, mesclando árabe e hebraico em sua obra. Em 1946, soube do extermínio de toda a sua família na Europa. Com a saída dos ingleses da Palestina e a eclosão da guerra — provocada pela rejeição palestina à partilha em dois Estados — assistiu, de coração partido, à fuga e à expulsão de palestinos de suas terras. Os refugiados lembravam-lhe os judeus da Europa, o que o levou a criticar duramente o novo Estado, por atentar contra um princípio fundamental do judaísmo: o Yhandes, que em ídiche exprime compaixão e responsabilidade pelo outro. Mudou então seu nome para Avot Yeshurun (“sob a mira de meus antepassados”) e tornou-se o mais importante poeta modernista de Israel nos anos 1960. Contudo, o método terrorista adotado pela Organização para a Libertação da Palestina o tornou cético quanto à possibilidade de reconciliação entre os povos.

No texto de Luiz, sobressai a lógica da posição esquizoparanóide: as vítimas de ontem são os algozes de hoje. A Bíblia já enuncia o risco de “quando o escravo se torna rei” — versão arcaica do Ricardo III que Freud retoma no ensaio “Alguns Tipos de Caráter Extraídos da Obra de Ficção” (1916), na seção dedicada às exceções. Apoiar-se no artigo superficial e tendencioso de Daniel Aarão Reis, que afirma que os palestinos de hoje são os judeus massacrados de ontem, apenas perpetua a ideia de que os judeus (ou, ao menos, o Estado que os “representa”) são os nazistas contemporâneos. Daí deriva-se também a adesão à tese conspiratória de que a falha da inteligência israelense em 7/10 teria sido proposital — um pretexto para justificar o genocídio dos palestinos. Luiz compara a guerra contra o Hezbollah no Líbano, onde se atingiam combatentes, com a ofensiva em Gaza, onde se “preferiria” matar civis e inocentes — ignorando as diferenças profundas entre a estrutura militar do Hezbollah e a do Hamas. Tal apagamento serve, como diz a colega Adriana Augusta, ao propósito de sustentar que Israel se tornou uma nação nazifascista, cujo plano genocida se manifestaria em sua educação, arte, cultura e turismo. Em resumo: o nazismo retornaria, agora sob o sol do Oriente Médio. Esse é o combustível da nova onda antissemita que assola o planeta: a tentadora equação “vocês também — estamos quites”. Dizer a uma criança de dois anos que ela é feia é provocar, inevitavelmente, a resposta: “feio é você.” Luiz atribui também à denúncia do antissemitismo a defesa de medidas totalitárias à la Trump contra manifestantes pró-palestinos — o que nos prende à lógica da retaliação própria à posição esquizoparanóide do grupo de luta e fuga.

Não há dúvida de que um trauma coletivo leve à retaliação e à insensibilidade diante do inimigo. Para pôr fim à Segunda Guerra Mundial, os Aliados praticamente “dedetizaram” cidades inteiras — destruindo Berlim, Dresden, Munique, Hamburgo, Nuremberg, entre outras — e submeteram a própria população inimiga faminta a episódios de estupro e depredação, resultando na morte de mais de 500 mil civis. A mídia ocidental aplaudia constantemente tais “vitórias”. A indignação só sobreveio décadas depois, com a revelação das atrocidades cometidas pelos próprios Aliados, entre elas as dos russos em Berlim.

Os vasos comunicantes em que a dor se converte em agressão ao outro — o par Doerand Done to, de Jessica Benjamin — são inevitáveis, e nos ensinam por que a posição dual, esquizoparanóide, constitui uma defesa primária incontornável antes que se atinja a dimensão tridimensional da posição depressiva: há uma oscilação permanente entre ambas. Um morador de bairro de classe média em São Paulo não hesita em mobilizar forças policiais contra um indigente que ocupa a calçada diante de seu prédio. O que então dizer de um ataque corpo a corpo que evoca os piores pesadelos de um povo?

Bion comparou o impulso de um bebê desamparado, que elimina os entes que se interpõem entre ele e o seio materno, ao de um psicopata que assassina pessoas na fila da padaria para obter o pão do padeiro. O ataque do Hamas, no qual “combatentes” com câmeras acopladas à testa registraram e transmitiram o massacre indiscriminado de jovens, mulheres e crianças, incendiaram abrigos e perpetraram estupros e depredações, não poderia ficar sem resposta. A retaliação e a vingança tornaram-se evidentes nos atos genocidas do exército israelense, que violaram compromissos morais anteriores em relação à população civil. O fato de o Hamas utilizar habitações privadas e públicas como escudos civis, armazenando nelas armas e delas atirando contra o inimigo, não justifica que se mire deliberadamente essas estruturas, vitimando civis, mesmo quando previamente avisados. Chamar essas vítimas de “efeitos colaterais” é o prenúncio de uma alienação assombrosa.

Quero, no entanto, retomar a questão da defesa psíquica dos atingidos pelo trauma de uma chacina. Embora avesso a podcasts, após outubro de 2023, fui tomado, em minhas andanças, pela escuta de mais de cem horas de relatos e discussões de colegas psicanalistas em Israel. Entre eles, analistas palestino-israelenses que se viram obrigados a passar por soldados na porta das casas de suas supervisoras judias israelenses; ou que atenderam judeus tomados de ódio contra palestinos. Judeus israelenses que, por sua vez, enfrentaram dificuldades para seguir atendendo pacientes palestinos e restabelecer contato com colegas em Gaza com os quais mantinham projetos conjuntos. Em uma reunião entre representantes de diversos grupos de psicoterapeutas, relatou-se que pacientes, até então simpáticos à causa palestina, passaram, a partir de outubro de 2023, a se declarar incapazes de se identificar com o sofrimento dos habitantes de Gaza.

Em janeiro deste ano, dois casais — amigos de décadas e historicamente engajados com a causa palestina — me receberam para um jantar durante minha visita a Israel. Quando abordei a situação em Gaza, instalou-se um mal-estar profundo. Uma das amigas, às lágrimas, retirou-se da mesa, dizendo que mal conseguia lidar com o trauma de outubro de 2023, e se sentia, por ora, incapaz de suportar também a catástrofe em Gaza. No dia seguinte, os amigos me escreveram, dizendo que, como eu, mal conseguiam pregar os olhos à noite.

Espanta-me o comportamento de alguns colegas analistas que se refugiam em posições políticas previamente elaboradas, sem se implicarem minimamente — como ocorre em sua poltrona — com a singularidade da cena em questão. É fácil reduzir tudo à crueldade dos interesses do capital. É fácil afirmar, como faz Luiz, que os israelenses protestam apenas pela libertação dos reféns. E poderia ter sido diferente logo após a chacina? É fácil sustentar essa versão quando, diariamente, há protestos nas bases aéreas, com jovens empunhando fotografias de crianças mortas pelos bombardeios, além de manifestações contra a ofensiva em Gaza.

Será demais pedir a um analista que consiga diferenciar entre uma matança indistinta realizada face a face — contra jovens, mulheres e crianças — e outra executada à distância, a partir da terra ou do alto de aviões? Para onde se refugiou o corpo do analista? Pilotos que, ao se aproximarem de seus alvos, perceberam a presença de civis inocentes, revoltaram-se e se uniram para protestar contra suas próprias missões, reunindo centenas de outros, inclusive comandantes, contrários às ações genocidas em Gaza. É verdade que a chacina perpetrada ao estilo do açougueiro em 7 de outubro soma bem menos vítimas do que os bombardeios subsequentes. Recordo-me do podcast “Mirante”, sobre literatura libertina, ocorrido em novembro de 2023, no qual as participantes foram questionadas sobre os acontecimentos. Minha colega Berta H. Azevedo mostrou-se sensível ao trauma do ataque terrorista, ao passo que sua interlocutora, Eliane R. Morais, se apressou por diversas vezes em igualar o ataque às ofensivas militares.

O posicionamento político é uma linguagem de fácil acesso, alheia à distinção própria da compreensão. Quase todos, no OP, assumem atitude semelhante diante do cenário político. Contudo, tal atitude incorre numa evacuação confortante do mal, desprovida tanto de uma vontade de compreensão psicanalítica genuína quanto de uma leitura histórica do conflito na Palestina. A proteção esquizoparanóide não foi propriedade exclusiva dos israelenses após 07/10/2023.

O povo palestino — que se define como tal há, no máximo, cem anos — conta hoje com aproximadamente 14,7 milhões de pessoas no mundo. O povo judeu, por sua vez, cuja definição identitária remonta a pelo menos quatro milênios e cuja maioria encontra-se desvinculada de Israel, soma cerca de 15,3 milhões. Quando começaram as ofensivas israelenses, foram judeus em Nova York que se mobilizaram em protesto; ao passo que nenhuma voz palestina na diáspora — com exceção de um grupo de mulheres palestinas em Israel — se levantou contra o massacre de 7/10. Eis os efeitos da dor e da recompensa vingativa, da lógica dos afetos primários e de seu processamento, em contraste com a planura direta da lógica triunfante do capital.

Ignorar o imenso esforço de judeus e árabes na Palestina para combater a lógica do domínio e do poder é minar o propósito de alcançar a verdade histórica no campo político e social — refugiando-se, em seu lugar, nos cálculos próprios à linguajar do capital.

David Grossman, um ano antes da primeira intifada palestina na Cisjordânia e em Gaza (1988), publicou o testemunho de suas visitas aos campos superpopulosos de refugiados palestinos, onde entrevistou tanto os civis quanto seus governantes militares. Nesse livro, O tempo amarelo, ele evoca, em conversas com idosos, a memória da perda de seus territórios — lembranças que se assemelham às histórias que o próprio autor ouvira de seus avós sobre as terras que foram obrigados a abandonar na Europa, ao se refugiarem na Palestina. Grossman enfrentou ali a raiva dos jovens que prometiam vingar-se, matar todos os judeus e retomar toda a terra da Palestina. O livro dessas entrevistas foi sua segunda obra, sete anos após a publicação do romance de estréia, O sorriso do cordeiro, no qual um velho palestino, em seu imaginário, captura um soldado israelense e com ele trava diálogos que os libertam do entulho ideológico.

“Estamos parados, contemplando juntos o vale belo e sereno. A fumaça dos fogareiros se enrosca no ar, os cardos e as serralhas florescem e enchem os olhos. Este é o tempo da floração amarela. Contei a Abu Harb que dei ao meu livro o nome O Tempo Amarelo, e ele sorriu e perguntou se eu já ouvira falar do vento amarelo que virá em breve — talvez ainda em vida dele.

Do portão do inferno virá o vento, Reiḥ Asfar, assim o chamam os habitantes do lugar. É um vento quente, oriental e terrível, que aparece a cada algumas gerações. As pessoas fogem de sua fúria para cavernas e fendas nas rochas, mas mesmo ali o vento alcança os que praticaram a injustiça e a crueldade, e ali, nas reentrâncias das pedras, ele os abate um por um.

Depois de um dia assim, conta Abu Harb, a terra estará coberta de cadáveres, as pedras incandescerão de tanto calor, e as montanhas se desfazerão em pó — um pó que repousará sobre a terra como algodão amarelo.”

Estamos, talvez, num tempo amarelo — logo virá outro, melhor. Eis minha fresta de esperança.

Os textos publicados são de responsabilidade dos autores) 

Categoria: Política e Sociedade 

Palavras-chave: capital, seio-latrina, discurso político, discurso psicanalítico

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Tags: capital | discurso político | discurso psicanalítico | seio-latrina
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