Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo
Por um Carnaval de gestos espontâneos
Denile Thé (SPFOR)
Os dias oficiais da maior folia e festa popular do planeta se encerraram.
Aqui no Ceará vi desfilarem o maracatu e as escolas de samba, e acompanhei a festa e a folia nas praças, nas praias, nos famosos ‘mela-mela” e nos bloquinhos. Brincantes locais e de outros lugares do Brasil buscaram o litoral para dias diferentes e alegres, com sol, mar e um merecido descanso.
O Carnaval é uma festa democrática. São dias de grande e intensa irreverência, na presença de manifestações com críticas políticas e sociais, por exemplo. Há transgressões de todas as ordens, a brincadeira carnavalesca é um convite à soltura e tudo parece ser possível.
Uma frase chamou a minha atenção: “O Carnaval é resistência! A persistência do resistir, para existir!” Pensei: o que Winnicott diria sobre ela?
Talvez ele ficasse curioso: será que há, para esse existir, alguma ameaça? Ele lembraria, possivelmente, que a essência do viver está no existir. Ao resistir, busco gestos espontâneos de um viver criativo. A possibilidade de um viver criativo servirá de tecido para muitas construções em várias etapas da vida. O que é meu e o que é do outro, o dentro e o fora. Tudo isso norteará toda uma vida criativa, e um viver que valha a pena ser vivido. Nisso tudo, o concernimento surge como algo importante que possibilitará mais ainda a experiência do espaço transicional, da área brincante, criativa e rica na qual o carnaval cria-se e recria-se a cada ano.
Talvez Winnicott trouxesse ainda outra questão, ao pensar sobre os dias de intensa folia carnavalesca. Afinal, é um tempo circunscrito e delimitado, em que tudo parece poder, ser e acontecer. Há a possibilidade de expandir os gestos espontâneos, o que põe em ação o verdadeiro self, ampliando a criação, o brincar, a magia, o lúdico, e a comunicação de um modo geral. Tudo sendo movido pela alegria e divertimento, buscando assim um descanso e um reabastecimento mediante a toada das responsabilidades do viver.
A possibilidade do carnaval como um brincar entre a realidade e o sonhar agrega, amplia, recria, dá novas cores ao viver. É a possibilidade de um faz de conta em que podemos retornar mais fortalecidos pela capacidade de brincar. É uma chance de ser reconhecido e reconhecer o outro em sua alteridade. É a esperança de compartilhar a realidade de ser e se fazer.
Que possamos estimular, possibilitar e favorecer o desabrochar e expansão de gestos espontâneos desde a infância com a iniciativa, por exemplo, dos bailinhos carnavalescos infantis. Em Fortaleza, tem acontecido alguns, dando espaço para que as crianças brinquem de faz de conta, seja pelas fantasias lindas e coloridas ou mesmo sem elas, criando e recriando várias formas de serem e de se fazerem a si e no mundo.
Por mais gestos espontâneos desde sempre…
(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores)
Categoria: Cultura
Palavras-chave: Gesto espontâneo, Winnicott, Carnaval
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