Observatório Psicanalítico – OP 419/2023 

Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo

Segunda-feira sombria

Monica Vorchheimer – APdeBA (Associação Psicanalítica de Buenos Aires) 

Chega o último paciente da segunda-feira pós-eleitoral. Um alívio; logo poderei mergulhar totalmente nas notícias da cidade e não ficar roubando minutos entre os pacientes para espiar a televisão. Quero ouvir o que está sendo dito, como pensar o impensável. Talvez ainda seja cedo. O medo não é uma boa companhia, mas o último paciente me ajudou a confiar. 

Anos atrás, quando estava começando sua análise, ele só imaginava deixar o país, emigrar como tantos outros jovens. Sempre havia algum paraíso esperando por ele; mas hoje, no entanto, ele veio aqui, assim como eu, triste e assustado, incapaz de acreditar que um louco havia sido eleito por um terço do país. Ele não estava mais pensando em deixar o país, mas estava preocupado com o que o futuro reservaria para seu filho recém-nascido e o que ele poderia fazer, como poderia se comprometer a mudar a maré de um país que parecia ser guiado por um louco.

Como é possível que um louco possa definir o destino de 46 milhões de argentinos? Não basta explicar a decepção, a desilusão com os políticos, as carteiras vazias e os salários insuficientes para cobrir as necessidades básicas. O desânimo é um terreno fértil. O “todo mundo mente” (OP-371)  de que falava na volta de minhas férias este ano…Tantos jovens e tantos outros das classes média baixa e pobre perderam a cabeça? Como podem acreditar? Como podem acreditar nele? Ele fala de loucura. Venda de órgãos, revogação da lei do aborto…

O discurso de ódio transforma uma parte em um terreno fértil para sua contraparte messiânica. Mas, embora Primo Levi já tenha nos ensinado, parece que ainda não aprendemos que “devemos desconfiar daqueles que tentam nos convencer com argumentos que não sejam os da razão, ou seja, líderes carismáticos. Como é difícil distinguir os profetas verdadeiros dos falsos, é melhor desconfiar de todo profeta; renunciar à verdade revelada, não importa o quanto sua simplicidade nos atraia e o quanto a achemos confortável por poder ser adquirida gratuitamente”.

A extrema direita não é apenas um fenômeno local ou mesmo regional. O que está acontecendo conosco? São promessas diante da desesperança geral e do pessimismo de uma população assolada por catástrofes de todos os tipos, onde o vínculo social parece estar se desmembrando em egoísmos solipsistas. Populismos de uma cor ou de outra auguram um renascimento nas mãos de um líder carismático, porta-voz de um futuro redentor das massas. Nesse momento, o líder salvador proclama uma redenção cuja condição prévia é a destruição.

Mas não nos esqueçamos de que o discurso messiânico traz consigo um núcleo de denúncia, e parece que é também daí que ele tira sua força.

O messianismo declara a morte do Pai e, com ele, a morte de toda legalidade anterior. A ameaça do caos que está por vir é tingida com o salvacionismo convincente da propaganda messiânica. Não é mais a razão que predomina, mas a exaltação das paixões que se torna razão, mesmo que aqueles de nós que olham aterrorizados vejam apenas irracionalidade.

A Argentina dói. E isso é assustador.

(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores)

Categoria: Política e Sociedade

Palavras-chave: messianismo, angústia, eleições, Argentina

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Texto original em Espanhol 

Observatorio Psicoanalítico – OP 419/2023

Ensayos sobre acontecimientos sociopolíticos, culturales e institucionales en Brasil y en el Mundo

Lunes Negro 

Monica Vorchheimer – APdeBA 

Llega el último paciente del día lunes post electoral. Un alivio; pronto podré sumergirme de lleno en los noticieros de la ciudad y no estar robando minutos entre paciente y paciente para espiar la televisión. Quiero escuchar qué se dice, cómo pensar lo impensable. Quizás sea  aún temprano. El miedo no es buena compañía;  pero el último paciente me ayudó a confiar . Años atrás cuando recién empezaba su análisis sólo imaginaba irse del país, emigrar como tantos otros jóvenes. Siempre había algún paraíso que lo esperaba;  pero hoy, sin embargo,  vino compungido y asustado como yo,  sin poder creer que un loco hubiera sido votado por un tercio del país. Ya no pensaba en irse del país sino que estaba preocupado por el futuro que le quedaría a su hijo recién nacido y qué podía hacer,  cómo podía comprometerse para torcer el rumbo de un país que parecía dejarse guiar por un loco. 

¿Cómo es posible que un loco fuera a definir el destino de 46 millones de argentinos? No alcanzan para explicarse la decepción,  no alcanza la desilusión de los políticos, no alcanza con medir las billeteras vacías y los sueldos insuficientes para cubrir las necesidades elementales. El desánimo es caldo de cultivo. El todos mienten  del que hablé al regreso de mis vacaciones este año…..¿Tantos  jóvenes, y tantos otros de las clases bajas o medias pauperizadas han perdido la cabeza y le creen? ¿Cómo pueden creer? ¿Cómo pueden creerle? Habla locuras. Venta de órganos, anular la ley del aborto….

El discurso del odio convierte al conjunto en terreno fértil para su contracara  mesiánica. Pero aunque ya nos enseñó Primo Levi , parece que no hemos aprendido que “Hay que desconfiar de quien trata de convencernos con argumentos distintos a los de la razón, es decir, de los jefes carismáticos. Puesto que es difícil distinguir los profetas verdaderos de los falsos, es mejor desconfiar de todo profeta; renunciar a la verdad revelada, por mucho que atraiga su simplicidad y las hallemos cómodas porque se adquieren gratis.”

Las ultraderechas no son sólo un fenómeno local , ni siquiera regional. Están tiñendo nuestro planeta a lo largo y a lo ancho. ¿Qué nos está pasando? Son promesas frente a la desesperanza y el pesimismo general de una población acechada por catástrofes de todo tipo, donde el lazo social parece desmembrarse en egoísmos solipsistas. Populismos de un color u otro auguran un renacimiento de la mano de un líder carismático, vocero de un futuro redentor de la masa. Allí y  entonces, el líder salvador pregona una redención cuya precondición es la destrucción. 

Pero no olvidemos que el discurso mesiánico conlleva un núcleo de denuncia y pareciera que es también desde allí  de donde recoge su fuerza. 

El mesianismo declara la muerte del Padre y con él la de toda legalidad precedente. La amenaza del caos por venir se tiñe de salvacionismo convincente desde la propaganda mesiánica. Ya no es la razón lo que predomina sino la exaltación de las pasiones que se convierte en razón, aun cuando quienes miramos aterrados veamos allí sólo irracionalidad.

Duele Argentina. Y asusta.

(Los textos publicados son responsabilidad de sus autores)

Categoría: Política y sociedad

Palabras clave: Mesianismo- angustia- elecciones- Argentina

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Tags: Angústia | Argentina | eleições | messianismo
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