Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo
“Evoé Zé, puxa nosso pé”
Eduardo de São Thiago Martins – SBPSP
Meu cavalo tá pesado, meu cavalo quer voar. Atuar! Atuar, pra poder voar” – canta a multidão que ocupa todos os espaços do Oficina, do céu ao inferno. Lá é assim… quem teme se queimar, que não deixe de ir. Senta mais pro alto, mais perto dos anjos, só que mais longe da música. Quem topa dançar com o capeta, ou fazer ciranda com espíritos da natureza, senta no chão.
Atuação não é um destino impensado ou mal elaborado da pulsão. Que mau gosto. Mau hábito este, de tomar palavras emprestadas e as queimar com sentidos escaldados em caldeiras normativas.
Zé Celso foi um xamã das artes, nos dizia criaturas celulares de amor e água. Deu à atuação teatral um sentido mundialmente novo. Sempre novo, afinado com o instante, pulsante. Quem esteve com Zé, do jeito que fosse, penetrado por seu olhar ou pendurado nos andaimes de Bo Bardi, ou saltitando na praça carnavalesca, ou observando o passeio de seu cocar na avenida Paulista… quem esteve com Zé, não passou ileso. Suas células eram de amor e lava. Um amigo fantasia: “é uma performance, ele vai levantar do caixão no meio do Templo Oficina”. Ao final dos espetáculos país afora, desde sua morte, atores estão pedido um minuto… de bagunça.
Não poderia ter tido a morte de um homem comum. Só mesmo uma tragédia poderia retirar este ator, desta cena. Celebrou o amor, e inflamou. Agora, a outra cena se inferniza e se eleva, daemon sobe no trono, cede o lugar e rebola, dionísio desorganiza a orgia e os anjos, ah os anjos, sentem gotas de suor, talvez pela primeira vez, lubrificando suas asas. “Habemus sexo!”, celebram. Moralistas fervorosos dirão: “viram só, queimou no pecado”. Sim, está comprovado. O demônio existe e puxará os pés de todos que não aprenderem a dançar. Não para puni-los ou assustá-los, mas para conduzi-los à pista. Evoé, Zé! Vem puxar nosso pé e fazer bagunça em nossos sonhos. Pois o resto, silêncio não é.
(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores)
Categoria: Cultura; Homenagem
Palavras-chave: Zé Celso, teatro, arte, pulsão criativa, atuação
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