Observatório Psicanalítico – OP 378/2023

Bom dia colegas 

Hoje publicamos o ensaio de um dos candidatos à presidência da IPA, nosso colega Heribert Blass, da Associação Psicanalítica Alemã (Deutsche Psychoanalytische Vereinigung) – DPV. 

Agradecemos ao Heribert por ter respondido prontamente ao nosso convite de escrever sobre um acontecimento da atualidade para o OP…

Forte abraço,

Equipe de Curadoria 

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Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo

O aumento da disforia de gênero e dos desejos transgêneros em nossas sociedades

Heribert Blass – Associação Psicanalítica Alemã (Deutsche Psychoanalytische Vereinigung) – DPV

Na última década, na Alemanha e em muitos países do mundo ocidental, tem havido um forte aumento de desconforto com o próprio sexo biológico, e um aumento do desejo de mudar de sexo, especialmente entre adolescentes, e já também entre crianças. Na Alemanha, o número de alterações hormonais de sexo e/ou cirúrgicas aumentou 2,9 vezes, passando de 883 em 2012 para 2598 em 2021 (Radtke, 2022).

Na verdade, a ocorrência do sentimento de não conseguir aceitar o próprio corpo sexual não é um fenômeno novo. Historicamente, isso tem sido conhecido desde tempos imemoriais, e em todo o mundo. A única diferença tem sido sempre a forma como a sociedade tem lidado com ele. Na Europa, as pessoas trans tiveram de se esconder até os tempos modernos, enquanto na Índia as mulheres trans são conhecidas há séculos como “Hijras” (Norte da Índia) ou “Thirunangai” (Sul da Índia). Na Polinésia, muitos homens vivem como travestis ou mulheres trans sob a designação de “fakafefefine” (“como uma mulher”) ou “fakaleiti” (“como uma senhora”). A psicanalista Heinemann (1998) compreendeu, após conversas durante uma investigação de campo em Tonga, que a transexualidade deles, particularmente, assegura o tabu do incesto na relação com a mãe e a irmã. Ela percebeu que, quando existe um pai socialmente fraco, há uma evitação da situação edipiana por medo de fusão com a mãe sedutora. Transexualidade como um rito social assegura o tabu do incesto do par de irmãos, pois o par de irmãos está no topo do clã e da sociedade em Tonga. 

Tendo em vista o vigente número crescente de pessoas transgênero, pode-se perguntar: essa descrição deve ser entendida como patologização ou como uma tentativa de compreensão psicanalítica? As opiniões divergem não só no discurso social, mas também dentro da comunidade psicanalítica. Enquanto isso, há autores psicanalíticos que não querem mais perguntar: “Por que transgênero?”, mas apenas: “Como transgênero? (Hansbury, 2017). Outros sustentam que a investigação de fantasias inconscientes pertence ao núcleo do entendimento e do trabalho psicanalítico (Becker, 2019; Nissen, 2019).

Pelo menos em países da Europa Ocidental e nos EUA, as pessoas afetadas e as organizações trans* têm exigido uma despatologização da transição de gênero há muitos anos. Como resultado, desde 1 de janeiro de 2022, o novo CID-11, válido, não contém mais o termo transsexualismo. Em vez disso, lista o termo incongruência de gênero (HA 60).

Para os psicanalistas, levantam-se questões sobre as possíveis razões para esse aumento, e a forma adequada de lidar com isso na situação clínica.

A precisão conceitual é altamente importante quando examinando essas questões, uma vez que o desconforto profundo com o próprio corpo sexual pode ser conceitualizado como “disforia de gênero”, e pessoas com procedimentos médicos em andamento ou passados são referenciadas como “transgênero”.

No uso comum e por defensores da “autodeterminação de gênero”, no entanto, os dois são equiparados. De acordo com o último, é exclusivamente o senso próprio, a que gênero e até mesmo se pertence ou não a um gênero, que deve decidir a identidade de gênero de cada um.

Qualquer disforia de gênero é, então, – a partir do meu resumido ponto de vista – considerada como confirmação de uma transidentidade.

Nos EUA, o Equality Act foi recentemente aprovado como uma lei anti-discriminação com o direito à autodeterminação irrestrita, incluindo de gênero. Na Alemanha, há um debate político, particularmente sobre a autodeterminação legal de menores após a idade de 14 anos. Há cada vez mais ideias de restringir os direitos parentais, permitindo os adolescentes a recorrer a uma vara de família se os seus pais não consentirem com as medidas de “mudança de gênero” (Engelmann-Gith, 2022). Não somente os representantes de uma visão “clássica” de gênero, mas também as feministas, se opõem veementemente a tais planos (cfe. Fairplay For Women, 2022). Em geral, a pressão para considerar como não-problemáticas as medidas hormonais e cirúrgicas para a mudança de sexo está também aumentando na Alemanha. Cada vez mais jovens estão entrando em contato com temas de disforia de gênero e trans*identidade através dos meios de comunicação social.

Essa pode ser uma das razões possíveis para o rápido aumento dos números: há muitos indícios de que a participação em grupos de conversa online não somente ajuda jovens transgêneros, como também atrai um grupo heterogêneo de jovens devido a um senso de pertencimento e reconhecimento (cf. Ahrbeck 2022, p.75-86). O aumento de jovens gênero-disfóricos certamente inclui jovens que ousam “aparecer” de uma forma que tem estado escondida há muito tempo, mas também pode ser visto como uma busca por afiliação em um grupo durante uma fase de desenvolvimento, a adolescência, que é caracterizada por incertezas naturais.

Com base no meu trabalho psicanalítico com crianças e adolescentes gênero-disfóricos, gostaria de levantar duas questões para consideração:

Em contraste com um programa político que pretende evitar qualquer pausa e reflexão face a um desejo de mudança de sexo, todos os meus pacientes adolescentes indicaram um conflito psicológico, e a sua melhor compreensão ajudou a aliviar o sofrimento pessoal. “Ninguém decide realmente ir por este caminho voluntariamente. É sempre uma dificuldade” afirmou uma jovem transexual no contexto do seu processo de transição. Com esta declaração, que foi feita analogamente por outros jovens com disforia de gênero, ela claramente se colocou de uma forma diferente da ideia de pura afirmação de sua disforia. Ao mesmo tempo em que ela não desistiu do seu caminho de transformação de masculino para feminino, ela também não negou o seu conflito interior, que ela felizmente elaborou em terapia. O termo disforia de gênero abrange esta dimensão dolorosa.

O reconhecimento de um conflito interior leva a um segundo aspecto: seria um mal-entendido compreender a pausa e a empatia/reflexão sobre os conflitos mentais relacionados com a disforia de gênero como transfobia ou homofobia. Tal equação representa um curto-circuito mental e emocional, o que seria uma desvantagem sobretudo para as próprias pessoas trans*, se fosse permitido apenas um acompanhamento exclusivamente afirmativo.

Para o nosso trabalho clínico e para o bem-estar dos nossos pacientes, precisamos de uma melhor compreensão da relação entre as representações do corpo biológico primário e do corpo fantasiado e possivelmente reconfigurado transgênero em relação ao estado mental e às relações interpessoais resultantes. Na minha experiência clínica, encontrei em todos os pacientes uma fantasia inconsciente central individual relacionada a sua disforia de gênero. Ela acompanha o desejo de uma transição que parte da identidade associada ao corpo biologicamente dado para uma identidade trans*. É importante abrir espaço e tempo dentro da relação analítica para se perceber e elaborar essa fantasia central, preferencialmente antes, mas também durante o processo de transição. Não considero que esta oportunidade seja patologizante.

Segundo Freud, é igualmente possível analisar porque é que as pessoas se tornam heterossexuais. Do meu ponto de vista, elaborar fantasias relacionadas ao gênero dentro da relação analítica permite uma melhor coesão do eu.

Assim, pude aprender com uma garota que tinha 7 anos no início do processo, e que se sentia como um rapaz, o quanto a feminilidade e o corpo materno, feminino, estavam ambos ligados às ideias tanto de morder desmembrando, quanto de, inversamente, uma grande vulnerabilidade nos vários orifícios do corpo. Um rapaz de 15 anos de idade percebeu as suas repetidas explosões de raiva como uma consequência compelida pela testosterona masculina, à qual ele já não estava mais exposto em sua nova identidade feminina.

Um homem trans de 17 anos de idade que já tinha começado o tratamento hormonal não temia nada mais que a fragilidade emocional contida no choro da sua mãe. Como homem, ele podia se sentir mais livre do medo de sua delicadeza emocional. E um adolescente de 15 anos de idade que se experienciava como trans sentia que, como mulher, tinha que viver sendo muito “empática,” no sentido de ser permeável, sem fronteiras interpessoais seguras. A ideia de poder ser masculina e sem seios dava-lhe um apoio interior. De acordo com as suas próprias declarações, todos os adolescentes aqui mencionados acharam muito útil poder compreender melhor os seus conflitos interiores, bem como os prós e os contras de um processo de transição em uma relação que os reconhecia e que, ao mesmo tempo, continha conflitos de transferência. Dois deles continuaram com a transição, um permaneceu indeciso, e outra cautelosamente desistiu da sua aspiração à transição porque sentiu que ela já não era mais necessária para a sua coesão interior. Ao mesmo tempo, eles se tornaram capazes de habitar os seus próprios corpos mais eroticamente, desenvolver mais fantasias sexuais e, em alguns casos, ter mais reciprocidade sexual em relações de parceria, e lidar com a difícil questão da sua generatividade. 

Deixe-me somente acrescentar algumas outras fantasias que estavam relacionadas aos medos primitivos de alguns de meus pacientes. Por exemplo, a menina de 7 anos, que queria ser um menino, inicialmente não tinha nenhuma representação consciente de seus genitais femininos, e uma pergunta que permaneceu por um longo período em nossa terapia foi se estava faltando uma representação libidinal ou se, em vez disso, havia uma negação de uma representação agressiva-destrutiva de seu corpo feminino. Essa última possibilidade provocava muito medo nela. Em seus desenhos, o nascimento de uma criança só poderia acontecer ao pressionar um ovo para fora dela ou do ânus de outra pessoa. Posteriormente, na terapia, ficou claro que ela equacionava a boca aberta de um tubarão que continha dentes afiados com a abertura de uma vagina – e tornou-se muito claro que essa imagem trazia muita ansiedade. A elaboração dessa fantasia amedrontadora permitiu que ela desenvolvesse uma representação mais clara de seus genitais femininos, e foi surpreendente para mim que ela posteriormente não se tornou muito amedrontada de sua menarca. Mas ela ainda tinha a fantasia que ela poderia vir a ter um bigode aos 20 anos. Claro, esse bigode ainda parecia ser semelhante a um pênis. O homem trans de 15 anos contou sorrindo que, entre 3 a 5 anos de idade, ele/ela tinha a crença e a convicção que ele/ela experienciaria o crescimento de um pênis. De acordo com ele/ela, era uma questão de tempo, e isso também tinha uma qualidade calmante. A decepção veio gradualmente, e também veio gradualmente o sentimento de ser trans. Eu quero sublinhar que esse aparente “estereótipo psicanalítico” foi um relato de um paciente, não veio de mim, eu também não dei nenhum tipo de interpretação respectiva. Os dois outros pacientes negavam os seus genitais. Ambos relataram que eles tentavam evitar qualquer tipo de toque ou olhar em relação aos seus genitais. Em ambos os casos, poderia soar como um estereótipo, mas a mulher trans de 15 anos não queria tocar, nem olhar o seu próprio pênis porque parecia ser uma parte violenta de seu corpo. O homem trans de 17 anos não queria olhar para baixo, entre suas pernas, porque isso destruía um sentimento existente de força pessoal. Foi muito importante lidar com essas fantasias porque a elaboração permitiu uma representação mais completa do próprio corpo, mesmo que, para alguns pacientes, isso não mudou a disforia de gênero. 

Como psicanalistas, temos a responsabilidade social de apresentar a necessária elaboração de conflitos internos – independentemente do resultado – como uma oportunidade, não um impedimento, para um senso de autonomia crescente. E no contato com os nossos pacientes, é importante que enfrentemos sem preconceitos essa tarefa nem sempre fácil.

Referências

Ahrbeck, B. (2022). Feira de sensibilidades. Da sociedade civil à comunidade Sacrificial. Salto: Editora zu Klampen 

Becker, S. (2019). Pode sempre obter o que quiser – Psicanálise na época neoliberal (comentário sobre “O Vaginal Masculino” de Hansbury). Psyche – Z Psychoanal 73, 585-596. doi 10.21706/ps-73-8-585. 

Engelmann-Gith, H. (2022). A autodeterminação do género para se tornar lei.

O governo federal quer reforçar os direitos das pessoas trans*, inter* e não-binárias. In: Weitderdenken, 6/2022 

https://library.fes.de/pdf-files/bueros/nrw/19859.pdf (04.02.2023) 

Fair Play For Women (2022). https://fairplayfuerfrauen.org/eckpunkte2022/ (04.02.2023) 

Hansbury, G. (2017): O Vaginal Masculino: Trabalhando com os homens Queer

Encarnação na Borda Transgênero. Journal of the American Psychoanalytic Association 65, 1009-1031 

Heinemann, E. (1998), Fakafefefine: Homens que são como as mulheres. Tabu do Incesto e Transsexualidade em Tonga (Polinésia). In: Psyche, Journal of Psychoanalysis and its Applications, H. 5, 1998, pp. 472-498. 

Nissen, B. (2019). Quando o queer se torna transversal – Psychoanalytic understanding and. Conceptualizando na dinâmica queer. In: Nissen, B. & Zeitzschel, U. (eds.) Queer(es) Thinking in Psychoanalysis. Uma controvérsia sobre G. Hansbury: O Vaginal Masculino – Na Fronteira do Transgênero.

(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores)

Tradução: Lina Schlachter Castro (SPFOR)

Revisão Técnica: Sergio Nick (SBPRJ)

Imagem: Cartaz em um Vagão do Metrô de Düsseldorf (Alemanha):

-trans*

As pessoas trans* têm um gênero diferente do que foi determinado para elas no nascimento. O asterisco é um asterisco para todos os termos que podem ser anexados ao prefixo “trans-” (latim = além, mais além) para descrever os diferentes locais de gênero: Transsexualidade, Transgênero, Transidentidade, Transsexualidade e muito mais.

Trans* é frequentemente usado como um termo guarda-chuva para resumir as diferentes expressões e identidades de gênero em um só termo.

Categoria: Política e Sociedade

Palavras chave: Disforia de gênero, Transgênero, Ascensão na sociedade, Fantasia inconsciente central, Orientação psicanalítica

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Texto original em inglês

Psychoanalytic Observatory – OP 378/2023

Essays on sociopolitical, cultural and institutional events in Brazil and in the World

The increase of gender dysphoria and transgender desires in our societies 

Heribert Blass, German Psychoanalytical Association (Deutsche Psychoanalytische Vereinigung) – DPV 

In the last decade, in Germany and many countries of the Western world, there has been a sharp increase in discomfort with one’s own biologically based gender and increased desires to change gender, especially among adolescents and already among children. In Germany, the number of hormonal and/or surgical sex changes increased by a factor of 2.9 from 883 in 2012 to 2598 in 2021 (Radtke, 2022).

Basically, the occurrence of the feeling of not being able to accept one’s own sexual body is not a new phenomenon. Historically, it has been known since time immemorial and worldwide. The only difference has always been how society has dealt with it. In Europe, transpersons had to hide until modern times, whereas in India transwomen have been known for centuries as “Hijras” (North India) or “Thirunangai” (South India). In Polynesia, many men live as transvestites or transwomen under the designation “fakafefine” (“like a woman”) or “fakaleiti” (“like a lady”). The psychoanalyst Heinemann (1998) (Heinemann,1998) understood after conversations during field research in Tonga their transsexuality, in particular securing the incest taboo in the relationship to mother and sister. With a socially weak father role she saw an avoidance of the oedipal situation out of fear of fusion with the seductive mother. Transsexuality as a social rite secures the incest taboo of the sibling pair, because the sibling pair is at the top of the clan and society in Tonga. 

In view of the currently increasing numbers of transgender people, one can ask: is such a description to be understood as pathologization or as an attempt at psychoanalytic understanding? Views on this diverge not only in social discourse, but also within the psychoanalytic community. Meanwhile, there are psychoanalytic authors who no longer want to ask, “Why transgender?” but only, “How transgender?” (Hansbury, 2017). Others maintain that the investigation of unconscious fantasies belongs to the core of psychoanalytic understanding and work (Becker, 2019; Nissen, 2019).  

At least in Western European countries and the USA, affected persons and trans* organizations have been demanding a depathologization of gender transition for many years. As a result, since January 1, 2022, the new ICD-11 is valid, which no longer contains the term transsexualism. Instead, it lists the term gender incongruence (HA 60).

For psychoanalysts, questions arise both about the possible reasons for this increase and about the appropriate way to deal with it in the clinical situation. 

Conceptual precision is highly important when examining these issues, as deep discomfort with one’s gendered body can be conceptualized as ‘gender dysphoria,’ while ‘transgender’ refers to people with ongoing or past medical procedures. 

In common usage and by advocates of ‘gender self-determination’, however, the two are equated. According to the latter, it is exclusively the sense of self, to which gender and whether to belong to a gender at all, that should decide one’s gender identity. 

Any gender dysphoria is then – from my point of view shortened – considered as confirmation of a transidentity. In the USA, the Equality Act has now been passed into law as an anti-discrimination law with the right to unrestricted self-determination, including gender. In Germany, there is a political debate in particular about the legal self-determination of minors after the age of 14. There are increasing ideas to restrict parental rights by allowing adolescents to appeal to a family court if their parents do not consent to ‘gender reassignment’ measures (Engelmann-Gith, 2022). Not only representatives of a ‘classical’ view of gender, but also feminists vehemently oppose such plans (cf. Fairplay For Women, 2022). Overall, the pressure to regard hormonal and surgical measures for gender reassignment as unproblematic is also increasing in Germany. More and more young people are coming into contact with the topics of gender dysphoria and trans*identity via social media. 

This may be one possible reason for the rapid increase in numbers: there is much to suggest that participation in online chat groups not only actually helps transgender youth, but also attracts a heterogeneous group of youth because of a sense of belonging and recognition (cf. Ahrbeck 2022, p.75-86). The increase in gender-dysphoric young people certainly includes young people who dare to “come out” in a way that has been hidden for a longer time, but it can also be seen as a search for group affiliation during a developmental phase in adolescence that is characterized by natural uncertainties. 

Based on my psychoanalytic work with genderdysphoric children and adolescents, I would like to raise two issues for consideration:

In contrast to a political program that wants to prevent any pause and reflection in the face of a desire for gender reassignment, all of my adolescent patients indicated a psychological conflict, the better understanding of which helped to alleviate personal suffering. “Nobody really decides to go this way voluntarily. It’s always a hardship” stated a transgender youth in the context of her transition process. With this statement, which was made analogously by other youth with gender dysphoria, she clearly differed from an expression of pure affirmation. At the same time, she did not give up her path of transformation from male to female, but she did not deny her inner conflict, which she was glad to work through in therapy. The term gender dysphoria takes up this sorrowful dimension. 

The recognition of an inner conflict leads to the second aspect: it would be a misunderstanding to understand the pausing and empathizing/reflecting on mental conflicts in connection with gender dysphoria as transphobia or homophobia. Such an equation represents a mental and emotional short circuit, not least to the disadvantage of trans*persons themselves, if only an exclusively affirmative accompaniment should be allowed. 

For our clinical work and for the well-being of our patients we need a better understanding of the relationship between the representations of their primary biological body and their fantasized and possibly reconfigured transgender body in connection with their mental state and the resulting interpersonal relationships. In my clinical experience, I have found in all patients an individual central unconscious fantasy related to their gender dysphoria. It accompanies the desire of a transition from the identity associated with the biologically given body to a trans*identity. It is important to open space and time within the analytic relationship for noticing and working through this central fantasy, preferably before but also during the process of a transition. I do not consider this opportunity to be pathologizing. 

According to Freud, it is equally possible to analyze why people become heterosexual. From my point of view, working through gender-related fantasies within the analytic relationship allows for a better cohesion of the self.

Thus, I was able to learn from a girl who was 7 years old at the beginning and who felt like a boy how much femininity and the female, maternal body were connected both with ideas of dismembering biting and, conversely, with high vulnerability in the various orifices of the body. One 15-year-old boy perceived his repeated outbursts of anger as a compelling consequence of male testosterone, to which he was no longer exposed in his new, female identity.

A 17-year-old transman who had already started hormone treatment feared nothing so much as the emotional weakness in crying he knew from his mother. As a man, he could feel more fear-free emotional softness. And a 15-year-old adolescent who experienced herself as trans felt that as a woman she had to live too ‘empathically’ in the sense of permeably, without secure interpersonal boundaries. The idea of being able to be male and without breasts gave her inner support. According to their own statements, all of the adolescents mentioned here found it very helpful to be able to better grasp with me their inner conflicts as well as the pros and cons of a transition process in a relationship that acknowledged them and at the same time contained transference conflicts. Two of them stayed with their transition, one remained undecided, and another cautiously gave up her aspiration to transition because she felt it was no longer necessary for her inner cohesion. At the same time, they were able to occupy their own bodies more erotically, develop more sexual fantasies and, in some cases, more sexual reciprocity in partner relationships, and deal with the difficult question of their generativity.

Let me only add a few other fantasies that were related to early fears of some of my patients. For instance, the 7-year-old girl who wanted to be a boy had initially no conscious representation of her female genitals, and it remained a question throughout a long time of our therapy whether it was a lacking libidinal representation or rather a denial of an aggressive-destructive representation of her female body. This latter possibility caused a lot of fear in her. In her drawings, a birth of a child could only happen by pressing an egg out of her or another person´s anus. Later in the therapy, it became clear that she equated the open mouth of a shark that contained sharp teeth with the opening of a vagina – and it became very clear that this image caused a lot of anxiety. The working through of this fearful fantasy allowed her to develop a clearer representation of her female genitals, and it was surprising for me that she later became not so afraid of her menarche. But she still had the fantasy that she could get a moustache at the age of 20. Of course, this moustache seems still to be near to a penis. The 15-year-old transman reported smiling that in the age between three and five, he/she had the belief and conviction that he/she would experience the growth of a penis. According to him/her, it was a matter of time. and this had also a soothing quality. The disappointment came gradually, and also gradually came the feeling of 4 being trans. I want to underline that this seemingly ‘psychoanalytic stereotype’ was a report of the patient, it didn´t come from me, nor did I give any kind of a respective interpretation. The two other patients denied their genitals. Both reported that they tried to avoid any kind of touch or gaze in relation to their genitals. In both cases, it could sound as a stereotype but the 15-year-old transwoman didn´t want to touch or to look at the own penis because it seemed to be a violent part of the body. The 17-year-old transman didn´t want to look down between the own legs because this shattered an otherwise existing feeling of personal strength. It was very important to deal with these fantasies because the working through allowed a more complete representation of the own body, even if for some patients this did not change the gender dysphoria.

As psychoanalysts, we have a social responsibility to represent the necessary working through of inner conflicts – regardless of the outcome – as an opportunity, not an impediment, to a sense of growing autonomy. And in contact with our patients, it is important that we face this not always easy task without prejudice. 

Literature 

Ahrbeck, B. (2022). Fair of sensitivities. From civil society to Sacrificial community. Jump: zu Klampen Publishing House Becker, S. (2019). You can always get what you want – Psychoanalysis in neoliberal times (comment on Hansbury’s “The Male Vaginal”). Psyche – Z Psychoanal 73, 585-596. doi 10.21706/ps-73-8-585. Engelmann-Gith, H. (2022). Gender self-determination to become law.
The federal government wants to strengthen the rights of trans*, inter* and non-binary persons. In: Weitderdenken, 6/2022 https://library.fes.de/pdffiles/bueros/nrw/19859.pdf (04.02.2023) 

Fair Play For Women (2022). https://fairplayfuerfrauen.org/eckpunkte2022/ (04.02.2023) Hansbury, G. (2017): The Masculine Vaginal: Working with Queer Men’s
Embodiment at the Transgender Edge. Journal of the American Psychoanalytic Association 65, 1009-1031 Heinemann, E. (1998), Fakafefine: Men who are like women. Incest taboo and Transsexuality in Tonga (Polynesia). In: Psyche, Journal of Psychoanalysis and its Applications, H. 5, 1998, pp. 472-498. Nissen, B. (2019). When queer becomes transverse – Psychoanalytic understanding and. Conceptualizing in queer dynamics. In: Nissen, B. & Zeitzschel, U. (eds.) Queer(es) Thinking in Psychoanalysis. A Controversy on G. Hansbury: The Masculine Vaginal – On the Border to Transgender. 

(The published texts are the responsibility of their authors)

Image: Poster on a Subway Car in Düsseldorf

-trans*

Trans* people have a different gender than what was determined for them at birth. The asterisk is a placeholder for all terms that can be attached to the prefix “trans-” (Latin = beyond, beyond) to describe the different gender locations:

Transsexuality, Transgender, Transidentity, Transsexuality, and many more.

Trans* is often used here as an umbrella term to summarize the different gender expressions and identities in one term.

Category: Politics & Society 

Key words: gender dysphoria – transgender – rise in society – central unconscious fantasy – psychoanalytic approach

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Tags: Ascensão na sociedade | Disforia de gênero | Fantasia inconsciente central | Orientação psicanalítica | Transgênero
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