Observatório Psicanalítico – OP 372/2023 

Boa tarde colegas do OP

A seguir publicamos um ensaio escrito pela nossa colega da Associação Psicanalítica Mexicana, Olga Santa Maria Pombo, também candidata a nos representar (latino-americanos) no Board da IPA. 

Bem-vinda Olga no grupo de e-mails do Observatório Psicanalítico. 

Equipe de Curadoria do OP

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Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo.

A mudança climática preocupa a nós, psicanalistas?

Olga Santa María Pombo (APM) (Associação Psicanalítica Mexicana) 

A mudança climática, assim como a pandemia do Coronavírus ou a guerra, é frequentemente negada em nossa consciência. Vemos diariamente notícias traumáticas de destruição humana e ecológica, imagens de inundações, temperaturas ameaçadoras, vírus mortais por toda parte, poluição, falta de água essencial à vida, interrupção da produção de alimentos, extinção de espécies, histórias de perda. 

Então, por que temos tal resistência dos psicanalistas para abordar a mudança climática?  Qual a relação das emergências climáticas com a psicanálise dentro e fora de nossos consultórios e instituições?  É perturbador trazer a realidade psíquica para o mundo real?  Nosso pensamento, nossos sonhos e nosso futuro também estão contaminados e envoltos em uma incerteza que provoca ansiedade e desespero.

A psicanalista Sally Weintrobe (2022) disse: “Esse [a mudança climática] é o tema do nosso tempo e envolve a morte em grande escala. Alguns o chamam de o começo do Necroceno”.  Nesta época de angústias e desastres ecológicos, a psicanálise não deve se calar, como bem disse Hanna Segal: “O silêncio é o verdadeiro crime”. Essa é uma crise provocada pelo homem, que se relaciona com os impulsos humanos e a psique humana.  A coconstrução de pontes entre a realidade intrapsíquica e o mundo externo é indispensável. As pandemias globais e as alterações climáticas representam, como refere Joseph Dodds (2012), “a possibilidade impensável não só da nossa morte, mas da nossa extinção”.

Em 1992, no Museu Freud, foi realizada uma conferência sobre Loucura Ecológica. Trinta anos depois, a “loucura ecológica” tornou-se uma emergência climática com impacto na saúde mental. Revisitando a fantasía filogenética de Freud, “Uma Neurose de Transferência”, “O futuro de uma ilusão”, “O estranho”, “Luto e  Melancolia”, são artigos que refletem uma sensação de perda que não é de  todo consciente, portanto, não se pode chorá-la por completo;  “Eros e Thanatos”, “As Pulsões de Vida e Morte”, são a base da ecologia psicanalítica, e têm tudo a ver com as ansiedades primitivas provocadas pelas mudanças climáticas.  “Não quero saber…“ é uma forma defensiva de evitar o que Bion chamou de pensamento catastrófico. Então, em desespero, ocorre uma clivagem, nos separamos de nossa percepção da realidade e o sinistro nos persegue. Podemos falar até mesmo de uma melancolia ambiental.

O entorno habita não apenas fora, mas também dentro de nós. Nesse sentido, a angústia muito primitiva e persecutória surgirá como uma ameaça apocalíptica que nos preencherá de pulsão de morte. Uma forma capitalista de viver com ganância e consumo se volta para a destruição. As alterações climáticas, gostemos ou não, entram nos nossos consultórios de muitas formas, nos visitará cada vez mais.  A psicanálise, fora da sala de consulta, beira a uma falta quase total de compromisso com os problemas climáticos.

Então, uma pergunta é: Como enfrentar as contradições entre progresso, tecnologia, normalização de uma realidade perturbadora e a informação sobre a emergência climática?  A tecnologia, o metaverso e os adultos “responsáveis” que cercam a Geração Z transmitem mensagens duplas e confusas. O contrário também é verdadeiro, a Geração Z trata de criar consciência por meio de diferentes formas de ecoativismo. Todos nós sabemos que normalizar a negação é uma forma de trauma cultural, que mais cedo ou mais tarde cobra seu preço.

Em 9 de junho de 2022, o movimento “Just stop the oil”, formado por uma população jovem do Reino Unido, colou suas mãos em obras de arte em Glasglow. Um deles tentou encostar o rosto no vidro, enquanto o outro jogava molho de tomate no vidro que protegia o quadro. Fica a pergunta: Isso é vandalismo? Ou consciência ecológica proativa? Esta é a declaração de um dos ativistas: “Como você se sente quando vê algo bonito e valioso sendo destruído diante de seus olhos… pense, é o mesmo com o nosso planeta?” Muitas perguntas surgem: as obras-primas são o alvo certo?  Foi uma manifestação violenta contra a violência, então estaria assim passando a mensagem certa?  Ou o silêncio que enfrentamos sobre esta questão é tão brutal que precisamos gritar metaforicamente para o mundo ouvir?  A jovem ativista Greta Thunberg acredita que a maioria dos jovens não busca esperança, eles apenas querem nos deixar em pânico.

A COP 27, realizada em novembro de 2022 no Egito, concordou que não temos tempo. A população mundial é agora de 8 bilhões, espera-se para o ano 2100, 10,4 bi. Esse é um dado muito relevante porque as atividades humanas poluem, há cada vez mais emissões de gases e estamos sob o efeito estufa. Os líderes mundiais encerram a conferência reconhecendo a necessidade de um fundo econômico para lidar com perdas e danos, especialmente para as nações mais vulneráveis ​​às mudanças climáticas. Muitos acham que foi insuficiente e que vai prevalecer a modalidade chamada BAU (Business as Usual), ou seja, se discute, se propõe e nada se resolve.

É necessária uma cultura de envolvimento psicanalítico em nossas sociedades em relação à crise climática.  Os Neologismos “eco-ansiedade” – medo crônico do cataclismo ambiental -, e “solastalgia – mistura de ansiedade e melancolia – nos visitarão cada vez mais em nossos consultórios.  A psicanálise precisa encontrar um caminho dentro e fora do divã, afastando-nos da negação e nos aproximando da ação.

(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores)

Categoria:  Política e Sociedade 

Palavras-chave: Mudanças climáticas, Eco-ansiedade, Solastalgia, Negação

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Ensaio Original em Espanhol 

Observatorio Psicoanalítico – OP 372/2023

Ensayos sobre acontecimientos sociopolíticos, culturales e institucionales en Brasil y en el Mundo

Nos concierne el cambio climatico a los psicoanalistas?

Olga Santa María Pombo – APM (Asociación Psicoanalítica Mexicana) 

El cambio climático, como el coronavirus o la guerra cuando comienzan, son frecuentemente evitados en nuestra conciencia. Vemos diariamente noticias traumáticas de destrucción humana y ecológica, imágenes de inundaciones, temperaturas que amenazan la vida, virus mortales por todas partes, contaminación, falta de agua esencial para la vida, alteración de la producción de alimentos, extinción de especies, historias de pérdida, entonces ¿por qué tenemos tal resistencia los psicoanalistas para abordar el cambio climático? ¿Cuál es la relación de las emergencias climáticas con el psicoanálisis dentro y fuera de nuestros consultorios e instituciones? ¿ Es perturbador traer la realidad psíquica al mundo real? Nuestro pensamiento, nuestros sueños y nuestro futuro también están contaminados y envueltos en una incertidumbre que provoca ansiedad y desesperación.

La psicoanalista, Sally Weintrobe (2022) dice: “Es EL tema de nuestro tiempo e involucra la muerte a gran escala …..algunos lo llaman el comienzo del Necroceno ”. En esta era de angustias y desastres ecológicos, el psicoanálisis no debe permanecer silenciado, como bien dijo Hanna Segal: El silencio es el verdadero crimen. Esta es una crisis provocada por el hombre que se relaciona con los impulsos humanos y la psique humana. Resuta indispensable la co-construcción de puentes entre la realidad intrapsíquica y el mundo externo. Las pandemias globales y el cambio climático representan como menciona Joseph Dodds (2012) “la posibilidad impensable no solo de nuestra muerte, sino de nuestra extinción”.

En el Museo Freud una conferencia sobre Locura Ecológica se celebró en 1992. La “locura ecológica” se ha convertido treinta años después en una emergencia climática con impacto en la salud mental. Revisitando la fantasía filogenética de Freud, una neurosis de transferencia e imaginando el futuro de una ilusión, sobre lo siniestro, duelo y melancolía, son escritos que reflejan una sensación de pérdida que no es del todo consciente y por lo tanto, no se puede llorar por completo; eros y tánatos , las pulsiones de vida y muerte, son todos la base de la ecología psicoanalítica, y tienen todo que ver con las ansiedades primitivas provocadas por la subjetividad psicoanalítica del cambio climático. No quiero saber … es una forma defensiva de evitar lo que Bion llamó pensamiento catastrófico, así que en la desesperación nos escindimos y lo siniestro nos acecha. Podemos hablar inclusive de una melancolía ambiental.

El entorno habita no sólo fuera sino también dentro de nosotros, en este sentido, la angustia muy primitiva y persecutoria surgirá como una amenaza apocalíptica que nos llenará de pulsión de muerte. En este sentido, una forma capitalista de vivir con la codicia y el consumo se vuelca en la destrucción. El cambio climático nos guste o no, entra en nuestros consultorios de muchas formas, nos visitará cada vez más. El psicoanálisis fuera de la sala de consulta, bordea una falta casi total de compromiso con los problemas climáticos.

Entonces una pregunta es: ¿ Cómo enfrentar las contradicciones entre el progreso, la tecnología, la normalización de una realidad inquietante y la información sobre la emergencia climática? La tecnología, el metaverso y los adultos “responsables” que rodean a la generación Z, dan mensajes dobles y confusos. Lo contrario también es cierto, la generación Z tratando de crear consciencia a través de diferentes formas de eco-activismo. Todos sabemos que normalizar la negación es una forma de trauma cultural, que tarde o temprano pasa factura.

9 de junio de 2022: El movimiento Just stop the oil conformado por una población joven pegó sus manos con pegamento a obras de arte en Glasglow. Uno de ellos intentó pegar la cara al cristal, mientras que el otro tiró salsa de tomate al cristal que protegía el cuadro. Aquí está la pregunta: ¿Es esto vandalismo? ¿O eco-consciencia proactiva? Esta es la declaración de uno de los activistas: “¿Cómo te sientes cuando ves algo hermoso y valioso siendo destruido frente a tus propios ojos…. piensa, ¿es lo mismo con nuestro planeta? Surgen muchas preguntas, ¿son las obras maestras el objetivo correcto? Fue una manifestación violenta contra la violencia, entonces envía el mensaje correcto? ¿O el silencio con el que nos enfrentamos en este tema es tan brutal que necesitamos gritar metafóricamente de esta manera para que el mundo escuche? La joven activista Greta Thunberg, considera que la mayoría de los jóvenes no buscan esperanza, solo quieren nuestro pánico.

La COP 27: celebrada en Noviembre de 2022 en Egipto, acordó que no tenemos tiempo. La población mundial es ahora de 8 mil millones, se espera para el año 2100, 10 mil, 400 millones, este es un dato muy relevante porque las actividades humanas contaminan, cada vez hay más emisiones de gases y estamos bajo el efecto invernadero. Los líderes mundiales finalizan la conferencia reconociendo la necesidad de un fondo económico para enfrentar pérdidas y daños especialmente para las naciones más vulnerables al cambio climático. Muchos piensan fue insuficiente y que prevalecerá la modalidad denominada BAU (Business as Usual), es decir, se habla, se propone y nada se resuelve.

Una cultura e involucración psicoanalítica en nuestras sociedades, en relación a la crisis climática es necesaria. Los neologismos: ecoansiedad: que hace referencia al miedo crónico al cataclismo ambiental, así como solastalgia: una mezcla de ansiedad y melancolía nos visitará cada vez más en nuestros consultorios. El psicoanálisis necesita encontrar un camino dentro y fuera del diván, alejándonos de la negación y acercándonos a la acción.

(Los textos publicados son responsabilidad de sus autores)

Categoría: Política y Sociedad

Palabras clave: cambio climatico, eco anisedad, solastalgia, negación

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Tags: Eco-ansiedade | Mudanças climáticas | Negação | Solastalgia
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