Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo.
A Repetição Histórica no Brasil
Valton de Miranda Leitão (SPFOR)
O pesadelo vivido pelas mentes mais lúcidas da intelectualidade brasileira somente poderá ser compreendido trazendo de volta fatos relevantes que marcaram o período abrangido entre o golpe congressual de 2016, até a eleição do líder genial, Lula, em outubro de 2022. O combate ao fascismo com suas teses preconceituosas e supersticiosas se deu, principalmente, através da comunidade intelectual que acompanhou essa notável liderança.
Quando Regina Esteves, então presidente da SPFOR, pronunciou seu discurso em Londres, no 51º Congresso da IPA, compreendi sua importância para os psicanalistas brasileiros. Transcrevo, portanto, parte do discurso:
“(…) Aqui estamos nós, em Londres, 81 anos depois da chegada de Freud, quando ele precisou fugir do nazismo. Freud e sua família foram recebidos pelos ingleses com flores, cuidado e respeito.
Aqui estamos nós, psicanalistas brasileiros, recebidos pela IPA com carinho neste importante congresso.
Nesta curta fala, eu não poderia deixar de dizer o quanto nós estamos preocupados com nossa situação no Brasil.
Hoje, nós estamos vivendo sob um regime político que lembra a situação vivida por Freud: nossos livros e pesquisas estão sendo queimados pelo fogo da ignorância e da arrogância. Nossas escolas públicas e universidades estão sendo desmontadas.
Nossas florestas estão sendo destruídas, incluindo a amazônica, a maior floresta tropical da Terra, com 70% do total da superfície do planeta e 50% da biodiersidade mundial.
O número de brasileiros assassinados tem crescido assustadoramente, especialmente entre mulheres, indígenas, homossexuais, negros e pobres. (…)”
A famosa frase de Marx, nos “18 Brumário(s) de Luís Bonaparte,” de que a história se repete ora como tragédia, ora como farsa, cabe como uma luva no explosivo e brilhante discurso lido em inglês por Regina Esteves. Agora, é possível ver como este pronunciamento foi antecipatório da incrível devastação ocorrida no Brasil, no período citado. O tratamento genocida, ou seja, quando deliberadamente se deseja deixar morrer, é apenas um dos elementos dessa cadeia catastrófica.
A espinha vertebral do sistema de saúde público brasileiro, o SUS, que é exemplo para o mundo, foi atingida de um modo tal que a futura ministra da saúde terá dificuldade em recompor essa notável estrutura. Os centros de produção de pensamento, as escolas, as universidades, os sindicatos etc, foram perseguidos sob a alegação de que produziam as bases ideológicas do socialismo. As igrejas foram manipuladas separando os crentes de modo maniqueísta, entre os adeptos do bem e do mal. A floresta amazônica foi duramente atacada, sendo a consequência não somente do incremento do efeito estufa, mas de mudanças no regime pluviométrico. O uso instrumental cibernético para consolidar o regime e ganhar a eleição de outubro foi utilizado de modo praticamente indiscriminado. A corrupção, que é palavra-chave de quase todos os regimes fascistas, ganhou proporções inimagináveis, sendo o derramamento de dinheiro, segundo estimativas da equipe de transição, cerca de 300 bilhões de reais.
O poder que se absolutizava com o apoio do delírio militarista somente não prosseguiu porque o povo brasileiro compreendeu que era necessário dar um basta à infâmia. O avanço da destrutividade inconsciente foi igualmente barrado pelo judiciário (TSE, STF), que compreendeu o tamanho do desvario. Freud, em Totem e Tabu, mostra a relação existente entre o poder e o totemismo, entre a obsessão e a magia.
O pensamento selvagem substitui a razão crítica pela imagem enquanto as cores jogam um papel fundamental, tornando o desenvolvimento do pensamento irrelevante. É isso que está acontecendo com as pessoas que aderem ao fascismo como formação política, enquanto os mais atrasados e incultos foram às portas dos quartéis, tal como as vivandeiras iam aos bivaques no Império Romano.
Ânsia de poder, que mobilizou de tal modo a selvageria inconsciente levando a massa fascista instrumentalizada a atacar o coração da República brasileira.
A destrutividade atingiu os símbolos maiores do Estado em Brasília. O mundo civilizado, estupefato, apoia a punição das hordas bárbaras e louva a democracia que resiste através de seu líder, Lula.
(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores)
Categoria: Política e sociedade
Palavras-chave: Terrorismo, Repetição, Delírio, Pulsão, Perversão
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