Observatório Psicanalítico  – OP 366/2023

Bom tarde, colegas 

Publicamos mais um ensaio sobre o evento do dia 8 de Janeiro, em Brasília.  Agradecemos a colega (e amiga de muitos de nós) Laura Verissimo de Posadas, da APU (Associação Psicanalítica do Uruguai) pela oferta de sua elaboração sobre esse acontecimento.

Bem-vinda Laura em nosso grupo do OP.

Forte abraço, Beth e equipe da Curadoria

Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo.

Contra-dizer

Laura Verissimo de Posadas – APU (Associação Psicanalítica dó Uruguai)

A “questão que crava uma farpa em nosso pensamento” – conforme a Alicia Killner no OP 362 – que diz respeito, no fundo, aos antecedentes e às motivações que movem a massa que em 8 de janeiro nos impactou com a vandalização das instituições representativas do laço social democrático. 

A análise de Freud, em “Psicologia das Massas”, ilumina os mecanismos em jogo.  Estima-se que a horda contou com 3.000 integrantes que invadiram, vandalizaram e se vangloriaram de suas ações, tão minuciosamente analisadas pelos colegas do OP. Ações registradas em selfies que marcam, para eles, os 15 minutos de fama (Andy Warhol); de vergonha e horror para nós.

“A farpa” que “me encrava” com dor é o fato de que quase 50% dos brasileiros votaram a favor do instigador dessas ações. Também nos EUA, em torno de 50% votaram a favor do inspirador e parceiro de Jair Messias Bolsonaro. E na Argentina, pode haver muitos que votem nesse outro messias, Javier Milei, dando-lhe assim a chance de chegar a um segundo turno e de lá para o governo.

Parece que uma nova modalidade da Operação Condor está em andamento.  Atribui-se a Steve Bannon a concepção e execução de um plano com instrumentos que, sem serem novos, atingem um nível de refinamento superior: os algoritmos, hoje, possibilitam campanhas personalizadas de fake news, prêt-à-porter de acordo com as medidas das tendências e preconceitos de cada alvo, cada sujeito “objetivo”. Para os psicanalistas, a perversão é precisamente degradar o outro sujeito humano à categoria de objeto para o gozo do perverso. 

Cada Dona Maria ou Dona Sebastiana, como cada Pedro ou João, de todas as faixas etárias e de todos os estratos sociais recebem mensagens destinadas a tocá-los em seus mais íntimos e singulares recônditos: suas crenças religiosas ou esotéricas, seus preconceitos de raça, de orientação sexual, seus ódios indizíveis e suas idealizações inconscientes.

A ética do psicanalista impõe a abstinência de julgamento, a de generalização e desqualificação.  Digo isso porque seria uma negação da realidade ignorar que naqueles quase 50% de eleitores podemos ter familiares, amigos, colegas, pacientes… Afinal, 50% é muito.

Como falar com eles?  Tanto na sessão de análise quanto nas práticas das diferentes inserções dos psicanalistas na vida cotidiana, há todo um trabalho de desconstrução dessas narrativas e de seus enraizamentos em convicções. Como essas narrativas e convicções se aprisionam em “resorts” inconscientes da história libidinal e identificatória de cada um? Só pensando-os um a um poderemos abordar e talvez tocar em algo que permita desvencilhá-los do fascínio pelos messianismos, da “servidão voluntária” (Etienne de la Boétie) à sedução do Amo.

Parece-me que essa tarefa é uma ação política para a qual torna-se prioritário pensarmos juntos, “buscarmos juntos”, como propõe o colega psicanalista Javier García e para a qual o OP tem contribuído desde a sua criação, ao que sou grata e honrada por participar, tanto antes quanto agora.

(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores)

Tradução: Samantha Nigri (SBPRJ)

Categoria: Política e sociedade

Palavras-chave: Massa, Amo, Ética do Psicanalista, Análise.

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Observatorio Psicoanalítico – OP 366/2023

Contra-decir 

Laura Verissimo de Posadas – APU

La “interrogante que nos clava una astilla en el pensar” – como dice Alicia Killner en OP 362- atañe al trasfondo, las motivaciones y los antecedentes que mueven a esa masa que el 8 de enero nos ha impactado con la vandalización de las instituciones representativas del lazo social democrático. Para una primera lectura, el análisis de Freud en “Psicología de las Masas”, ilumina los mecanismos en juego. Se calcula que la horda contó con 3.000 integrantes quienes irrumpieron, vandalizaron y se jactaron de sus acciones, tan finamente analizadas por colegas del OP. Acciones que registraron en selfies que fijan el cuarto de hora de fama, para ellos, de vergüenza y espanto para nosotros. 

“La astilla” que se me clava, con dolor, en el pensar es que casi el 50% de los brasileños emitieron su voto a favor del referente instigador de estas acciones. También en USA fueron casi el 50% quienes votaron a favor del inspirador y socio de Jair Mesías Bolsonaro. Y como pueden ser muchos los que en Argentina voten por ese otro mesías, Javier Milei dándole, así, posibilidades de llegar a una segunda vuelta y de allí al gobierno.

Parece que una nueva modalidad del plan Cóndor estuviera en marcha. Se atribuye a Steve Bannon el diseño y la ejecución de un plan con instrumentos que, sin ser nuevos, llegan a un mayor nivel de refinamiento: Los algoritmos, hoy en día, hacen posibles campañas de fake news personalizadas, pret a porter, según las medidas de las inclinaciones y prejuicios de cada target, cada sujeto “objetivo”. Para los psicoanalistas la perversión es, justamente, degradar a otro sujeto humano al rango de un objeto para el goce del perverso.

A cada doña María o doña Sebastiana, como a cada Pedro o Joao, de todas las franjas etarias y de todos los estratos sociales le llegan mensajes destinados a tocarlos en lo más íntimo y singular: sus creencias religiosas o esotéricas, sus prejuicios relativos a las razas, a las orientaciones sexuales, sus odios inconfesables y sus idealizaciones inconscientes.

La ética del psicoanalista impone la abstinencia del juicio, de la generalización y de la descalificación. Lo evoco porque sería una desmentida de la realidad desconocer que en ese casi 50% de votantes podemos tener familiares, amigos, colegas, pacientes… Porque 50% es mucho.

¿Cómo hablarles? Tanto en la sesión de análisis, como en las prácticas en las diferentes inserciones de los psicoanalistas, como en la vida cotidiana, hay toda una tarea de deconstrucción de estos relatos y sus enclaves en convicciones. ¿Cómo ellos han prendido en resortes inconscientes de la historia libidinal e identificatoria de cada uno? Solo pensandolos uno a uno podremos bordear y tal vez tocar algo que permita desprenderse de la fascinación por los mesianismos, de la “servidumbre voluntaria” (Etienne de la Boétie) a la seducción del Amo.

Me parece que esta tarea es una acción política sobre la que es prioritario pensar juntos, “buscar juntos” como propone Javier García y a la que el OP ha contribuido desde sus inicios, por lo que agradezco y me honra haber participado antes como ahora. 

(Los textos publicados son responsabilidad de sus autores)

Categoría: Política y Sociedad

Palabras-clave: Masa- Amo- Etica psicoanalitica- Análisis

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Tags: Amo | Análise | Ética do Psicanalista | massa
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