Observatório Psicanalítico – OP 335/2022

A importância do OP para nós, psicanalistas

Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo 

A importância do OP para nós, psicanalistas

Lucia Passarinho – SPBsb

O trabalho do psicanalista é essencialmente solitário. Não existimos, ou tentamos não existir, durante horas a fio no consultório. Como dizia Green, somos os “guardiões do setting”, comprometidos com a ética do desejo. O protagonista é o analisando. Tentamos nos manter sem preconceitos ou julgamentos.

A longa e profunda formação que recebemos, o desejo de aceitação e pertencimento ao grupo, como em toda profissão, molda o jeito de ser e estar no mundo. Com o tempo e a experiência, vamos adquirindo independência e estilo próprio de fazer psicanálise.

O espaço criado pelo Observatório Psicanalitico (OP) talvez seja um dos poucos lugares onde podemos nos revelar como cidadãs e cidadãos, inseridos na cultura e na realidade dos acontecimentos externos. Isso não é sobre partidarismos, mas sobre não ignorar o sofrimento social. 

Somos todos afetados pelo que acontece ao nosso redor. Percebo que, de uma maneira ou de outra, o cenário político atual tem, com frequência, mobilizado o que há de pior em todos nós: ressentimento, inveja, ódio, raiva e intolerância. Nossos pacientes, independentemente da posição política, não raro chegam até nós em busca de acolhimento e contenção de angústias primitivas afloradas. Lutamos para nos mantermos fiéis a nosso ofício como nos foi ensinado, ou seja, com a atenção flutuante, sem memória e sem desejo, com a escuta psicanalítica voltada para além do que é dito e do que não é dito, possibilitando que o inconsciente fale e seja ressignificado, sob forma de interpretação. Reconheço que não é fácil. O lugar do analista não é simples, daí a análise pessoal como o ponto central do vir a ser psicanalista.

Para o filósofo Norberto Bobbio “o núcleo da ideia de tolerância está no reconhecimento do igual direito a conviver que é reconhecido a doutrinas opostas, bem como a aceitação da possibilidade do erro honesto da verdade, e da irredutibilidade de todas as verdades”. O OP é nosso espaço de tolerância, de livre expressão e debate entre os psicanalistas comprometidos com questões políticas e sociais.

A escrita é um dispositivo organizador das ideias e das emoções que nos ajuda a entender e interpretar acontecimentos externos e internos, com certo controle das paixões. O OP talvez seja o único lugar de que dispomos, enquanto psicanalistas filiados à FEBRAPSI para expressar o pensamento político, no sentido filosófico do termo, para a troca respeitosa e estimulante de ideias. Precisamos cuidar para que se mantenha assim.

11 de agosto de 2022 deverá ser lembrado como um dia de união de gentes de todas as raças, cores, credos, ofícios ou posições políticas. As diferenças foram postas de lado em nome do amor à democracia. A Sociedade de Psicanálise de Brasília estava presente, bem como a sociedade de São Paulo, do Recife e a brasileira do Rio de Janeiro. A FEBRAPSI nos representou, com o apoio dos demais presidentes das sociedades filiadas. O OP nos proporcionou a compreensão de nossa presença, como cidadãos e como categoria profissional, nos atos de defesa do direito à liberdade.  Sim, isso é Psicanálise.

(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores) 

Categoria: Instituições Psicanalíticas 

Palavras-chave: Setting, Angústia, Sofrimento Social, Política e Observatório Psicanalitico 

Imagem: Correspondências – foto – The Freud museum London.

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Tags: Angústia | observatorio psicanalitico | Política | Setting | Sofrimento Social
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