Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo.
O imperativo categórico é fora Bolsonaro
Valton de Miranda Leitão (SPFOR)
Diante de tudo que vem sendo revelado na CPI da Covid-19 pelos meios de comunicação, não é panfletário dizer: Fora Bolsonaro. O impeachment tornou-se bandeira de luta que a voz das ruas começa a bradar em todo país. As análises políticas, sociológicas e psicanalíticas, embora necessárias, somente ganharão efetividade política com o povo em movimento nas praças e avenidas.
A população já sabia que o atual governo do capitão Jair Bolsonaro tinha optado, diante da pandemia do coronavírus, pela estratégia da “imunidade de rebanho’ escancarada nos depoimentos da CPI; agora surge um ingrediente explosivo revelado inesperadamente pelos irmãos Miranda, aliados do bolsonarismo. Não cai simplesmente por terra o mentiroso discurso do combate à corrupção, mas apresenta-se aos nossos olhos o uso inescrupuloso e desumano do sofrimento de mais de meio milhão de brasileiros para ganhar milhões de dólares através de uma negociata na compra da vacina Covaxin.
O escândalo é monumental, capaz de ferir de morte qualquer fanatismo religioso, supremacista ou de extrema direita, pois nenhum sistema algorítmico será capaz de sustentar essa degradação, atentando contra a lógica mais elementar do silogismo.
Assim, quando digo como simples brincadeira de adivinhação: qual é o animal rastejante de quatro patas, com um rabo e que muda de cor conforme o ambiente? A resposta é clara: o camaleão. Dessa forma, quando se faz um empenho para compra de um objeto – recusando-se todos os outros concorrentes -, feita pelas altas esferas da Presidência da República e do Ministério da Saúde, não se está fazendo um joguinho infantil, mas estamos em face de um gigantesco esquema mercadológico para suprir, com dinheiro roubado do povo, o caixa da campanha presidencial do Messias que se autoproclama mito.
O impedimento, entretanto, não será alcançado facilmente, pois o atual governo tem, apesar de declinante, uma base de apoio de 23% na população, o Centrão (súcia de degenerados comandados por Arthur Lira na Câmara dos Deputados) e apoio nas forças armadas de que agora já não sabemos a extensão. A acumulação de forças a cada manifestação nas ruas tende a desfazer o fanatismo e seu correlato, o negacionismo, que dão apoio emocional ao seu líder de claras inclinações antidemocráticas e ditatoriais. Existe uma parcela da população que carrega no seu inconsciente preconceitos atávicos, contrários à tolerância democrática.
Além disso, essa parte da população desenvolveu forte paranoia, estimulada pela propaganda governamental que atribui aos adversários, que considera inimigos, um mal moral, a incompetência na batalha do mercado e que tem, como corolário, o entrincheiramento no marxismo cultural nas universidades.
O ataque à cultura faz parte da estratégia nazifascista, cuja pretensão é o retorno a um tempo mítico supostamente puro e que fala a língua básica eleita por Deus. É essa mixórdia intelectualista olavista que está por trás do mamulengo presidencial e sua grei.
O enfrentamento desse poderoso conjunto somente pode ser feito com uma frente ampla, como aquela das Diretas Já que derrotou a ditadura militar. Nessa batalha, psicanalistas de todas as vertentes dão, ao lado de outros intelectuais, importantes contribuições para que a capacidade de pensar prevaleça sobre os ingredientes fanáticos e paranoicos, e alimente a organização dos setores político-partidários no plano objetivo.
A frente ampla precisa ser sustentada por um extenso movimento de esquerda capaz de hegemonizar o processo político que ganha o asfalto.
A trágica situação sanitária, moral e política brasileira é agravada por um governo que pôs a ética de cabeça para baixo. É necessário que a bandeira nacional seja assumida como símbolo da ética que representa a preocupação com todo o povo brasileiro; o dilema entre civilização e barbárie somente será superado derrotando de maneira incontestável o infame bando instalado no Palácio do Planalto. Esta é a verdadeira e fundamental questão democrática.
(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores)
Imagem: Rafael Smaira, 29 de Maio de 2021.
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