Observatório Psicanalítico – 135/2019
Ensaios sobre acontecimentos sociais, culturais e políticos do Brasil e do mundo.
Nosso tempo…
Beth Mori (SPBsb), Daniela Boianovsky (SPBsb), Joyce Goldstein (SPPA), Ludmila Frateschi (SBPSP) e Marina Bilenky (SBPSP)
Finalizamos o terceiro ano de atividade do OP, Observatório Psicanalítico Febrapsi, que desde 2017 passou a fazer parte de nossa vida psicanalítica.
Neste ano de 2019 foram 51 textos escritos por colegas de diferentes lugares e momentos de formação, sempre estimulados por um acontecimento ou questão de interesse público. Os textos, que suscitaram uma ampla reflexão e riqueza de associações e elaborações compartilhadas em inúmeros comentários de nossos colegas, versaram sobre o trabalho do analista, cultura, sociedade e política, e buscaram priorizar a contribuição específica de nosso campo psicanalítico. Importante ressaltar, ainda, as valiosas colaborações e textos que, de forma espontânea, nos foram remetidos e enriqueceram o nosso debate.
Aos psicanalistas coube olhar para os acontecimentos enquanto analisadores do processo de subjetivação contemporânea e convidar a comunidade ao exercício do pensamento, ao desafio de acolher a alteridade e receber o estrangeiro com hospitalidade e abertura para uma troca efetiva e produtora de transformações. Tarefa necessária nesses tempos em que testemunhamos a tentativa de se calar as vozes que vêm, finalmente, conquistando seu espaço de fala e de escuta, após tantos séculos silenciadas e confinadas à exclusão do exercício de sua cidadania.
O Observatório Psicanalítico tem nos ajudado a pensar de forma mais fundamentada nos acontecimentos gerados pelo recrudescimento conservador e autoritário que se multiplica em nosso país e suas consequências: o estímulo e incentivo à atuação do ódio, do preconceito e o ataque ao conhecimento e à lei, que se traduzem em forte ameaça aos nossos ideais democráticos, alicerces que garantem o direito às diferentes subjetividades e à própria prática da psicanálise. Em tempos em que verdades autoproclamadas ecoam onipotência e perversidade, espaços como este representam um fôlego de reflexão e questionamentos tão em falta em nossas ruas.
Ao considerar a indissociabilidade entre a psicanálise e a política como base de nossa compreensão sobre a clínica extensiva, seja ela praticada no consultório privado ou fora dele, observamos, neste ano, o crescimento da polarização que cindiu nosso país, rompendo laços sociais e familiares e onde a força do ódio ao diferente aglutinou grupos que se identificam como semelhantes.
Como espaço que pretende fortalecer a troca, o debate e a liberdade de pensamento, o OP insiste no convite à participação de nossos integrantes, com suas diferentes posições e contribuições para que juntos possamos tecer nossa rede de elaborações e de resistência à onda destrutiva que parece querer naufragar o país. O desafio (ou seria um sonho?) é o de construir um lugar em que as diferenças, por mais intensas que possam ser, coexistam e, debatidas em clima de confiança e respeito, tragam crescimento e fortalecimento de nossa grupalidade.
Tal qual a psicanálise, o OP busca se diferenciar do instrumento normativo e disciplinador próprio aos espaços do micropoder, afirmando-se como um dispositivo que oferece uma escuta e uma interlocução atenta aos princípios éticos de uma política de incentivo à produção do novo. Um espaço para a pulsação da vida e da criatividade.
Neste sentido, temos como uma das metas para o próximo ano, a busca de diálogo entre as reflexões sobre os acontecimentos do mundo e o que se passa em nossas instituições: desenvolver um olhar que possa observar nossas tradições à luz das mudanças do nosso tempo e colocar em questão o papel social das sociedades psicanalíticas hoje.
Seguiremos em 2020 abrindo novas perspectivas. Joyce, nossa querida e valiosa colaboradora, nos deixa para assumir novas funções institucionais. É com imensa gratidão que nos despedimos, ao mesmo tempo em que temos certeza de que seguiremos próximas.
Em meio a tantos desafios e frutos que o nosso convívio gerou, é tempo de celebrar o aprendizado e a renovação que o fim de um ano – ou de um ciclo – pode nos proporcionar.
Vida longa ao OP!
Boas Festas!
(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores).
Colega, click no link abaixo para debater o assunto com os leitores de nossa página no Facebook.
https://www.facebook.com/252098498261587/posts/1505115236293234/?d=n