Observatório Psicanalítico – Editorial março/2022

Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo. 

Sódepois 23

Março/2022

O mês de março iniciou na terça-feira de carnaval, quando a festa de Dioniso  mais uma vez foi adiada devido à pandemia. A terrível Guerra na Ucrânia teve início no final do mês de fevereiro, e entramos em março desconfiados de que a pulsão de morte venceu mais uma vez. 

Dois anos de pandemia; uma guerra com ameaça nuclear, fato que achávamos que estava superado; crise climática, sem perspectiva de solução. Situações que esfregam em nossa cara que a civilização nunca está garantida, é preciso muito trabalho da pulsão de vida para encontrarmos saídas da repetição compulsiva e tanática.

Nós, aqui do OP, propomos um espaço de trocas afetivas e teóricas na tentativa de fazer Eros circular, aplacando o mortífero que nos circunda nos tempos atuais. Num mês tão desanimador, não é de surpreender que tenhamos produzido tanto por aqui.

Começamos o mês com o lançamento do Mirante, nosso podcast muito sonhado e finalmente realizado. A ideia é ampliar o debate sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais como já fazemos por escrito. Organizamos a primeira temporada com 06 episódios, lançamos dois nesse mês. O primeiro chamamos de “Psicanálise e Cultura” e contamos com a presença dos psicanalistas Leopoldo Nosek (SBPSP) e Renato Mezan (Sedes Sapientiae). No segundo episódio tivemos a participação do psicanalista Bernard Miodownik (SBPRJ) e da jornalista Taís Bilenky (Revista Piauí e Podcast Foro de Teresina) que debateram sobre o “Por que a Guerra?”. Tem sido uma satisfação poder ampliar o alcance de nossas discussões, e convidar colegas e profissionais de outras áreas para pensarem conosco, o que enriquece nossas trocas.

A produção é de Rodrigo Txotxa, os trabalhos técnicos são de Marco Rezende. Os roteiros desses dois primeiros episódios foram escritos por Ludmila Frateschi, e a locução é de Beth Mori. A identidade visual do programa ficou a cargo da designer Carla Chagas. Os episódios podem ser ouvidos nas maiores plataformas de podcast.

Agora vamos às notícias sobre os textos do mês. O primeiro ensaio publicado foi “Utopias Reais” (OP-300/2022) de Marlisa Taffarel (SBPSP) que aprofunda questões sobre utopias, solidariedade e indiferença social. A autora se propõem a pensar o mundo ocidental branco e escreve: “Faz-se necessária, como tantos têm alertado, uma epistemologia alternativa que reconheça saberes diversos dos dominantes no mundo ocidental, branco, eurocêntrico.”

Na sequência publicamos o texto “A Guerra da Ucrânia e A Felicidade das Pequenas Coisas” (OP-301/2022), de Daniel Dimand (SBPSP). O tema da guerra, como é de se esperar, têm nos ocupado a todos, e Daniel de forma reflexiva nos ajuda a entender os horrores de que a humanidade é capaz.

Em seu ensaio escreve: “Se pararmos para olhar retrospectivamente, veremos que nunca estivemos em paz: das guerras no Oriente Médio às atrocidades na África e América Latina, os horrores nunca cessaram.”

Ainda sobre a guerra e seus desdobramentos horrendos, publicamos o texto “A misoginia em pauta: “elas são fáceis porque são pobres” (OP-302/2022) de Aline Santos e Silva (SBPDePA), que parte do vergonhoso e violento ato do deputado estadual de São Paulo, Arthur do Val – com áudios enviados da Ucrânia para sua rede privada que se tornaram conhecidos através de vazamento – para discorrer sobre misoginia calcada em uma cultura violenta e machista. Aline nos alerta: “A expressão “mulher fácil” é parte desta cultura que culpabiliza as vítimas e torna a violência contra a mulher um problema de complexa solução”.

No início do mês, ocorreu na SBPSP a atividade intitulada “Questões raciais e formação psicanalítica: é tudo para ontem”, evento que reuniu Wania Cidade (SBPRJ), Ignácio Paim (SBPDEPA), o advogado Thiago Amparo e a psicóloga Lia Vainer Shucman, em um debate sobre ações afirmativas nas sociedades psicanalíticas. Sobre esse encontro foram escritos dois ensaios, de duas colegas em formação. Escritas potentes que testemunham a importância desse movimento na psicanálise brasileira. Joice Caroline Pinheiro dos Santos (SBPRJ), escreveu de forma comovente sobre sua experiência enquanto mulher negra e as dificuldades e virtudes de sua trajetória na psicanálise. Com o título “Memória e Escrevivência, um encontro com a psicanálise” (OP-303/2022), a autora vai apontando a crueldade do racismo cotidiano. Nas palavras de Joice: “O lugar final do racismo é sempre a morte. E um dos processos de morte que ocorreu dentro da psicanálise, foi o do apagamento dos psicanalistas negros.”

Ariana Marinho da Silva (SBPSP), colega branca que discorre sobre a mesma atividade, porém desde outro lugar, se inquietando com a situação racistas de nossas instituições e com a sua própria branquitude. A autora de “Águas de Março” (OP-304/2022) afirma: “É imperativo que façamos mais. Ações afirmativas são urgentes e não podem mais esperar. Precisamos abrir nossas portas institucionais e nossas mentes para essa população, descolonizar nossa Psicanálise e nossa prática.”

No dia 23 de março tivemos o início do 28° Congresso da FEBRAPSI: “Laços: o Eu e o Mundo”, que aconteceu de forma virtual. O OP esteve presente na mesa “A escrita na construção do Laço Social”, e contou com a participação dos psicanalistas: Cíntia Xavier de Albuquerque (SPBSB), Cláudio Laks Eizirik (SPPA) e Raya Angel Zonana (SBPSP). A coordenação ficou por conta de Beth Mori (SPBsb) e quem secretariou a mesa foi Ludmila Frateschi (SBPSP). O debate foi rico, descontraído e profundo, características que gostamos de resguardar e incentivar por aqui.

Vanessa Corrêa (SBPSP e GEP São José do Rio Preto e região) comenta suas impressões sobre o Congresso no ensaio “A emoção no Ato (OP-305/2022), onde pontua: “(…) para gostar de escrever é preciso ter um interlocutor. É preciso um leitor introjetado a quem se possa agradar ou com quem desejamos brigar, para escrever é preciso não estar órfão.”

O último texto publicado nesse mês, “O Bezerro de Ouro do Ministro” (OP-306/2022), de Valton de Miranda Leitão (SPFor), levanta questões sobre narcisismo e cegueiras ideológicas, afirmando que: “A criatura humana presa no narcisismo não pode contemplar com amor o resto do outro ser humano, pois o espelho que os separa tem dupla face, e assim, a sociedade fraterna ou a paz perpétua jamais podem ser alcançadas.”

Contamos também com o Instagram para divulgarmos nossas produções. Publicamos lá os ensaios inéditos semanais e também rememoramos alguns nos espaços que chamamos de #tbt (toda quinta-feira) e na Terça Cultural (toda terça-feira).

Nos #tbt desse mês relembramos os textos:

– “Como Athena poderia enfrentar Ares?”, das psicanalistas Ana Valeska Maia Magalhães e Lina Schlachter Castro (SPFPR), publicado originalmente em 2021;

– “Mulher Negra Existe?”, da psicanalista Wania Cidade (SBPRJ), publicado originalmente em 2018;

– “Genocídio”, do psicanalista César Antunes (SBPDEPA), publicado originalmente em 2021;

– “Política, Psicanálise e Religião”, do psicanalista Julio Gheller (SBPSP), originalmente publicado em 2021;

– “O Psicanalista como guardião do laço social”, da psicanalista Rafaela Degani (SBPDEPA), publicado originalmente em 2019.

Na Terça Cultural recordamos os ensaios:

– “Quando o carnaval chegar”, da psicanalista Maria Teresa Lopes (SBPRJ), originalmente publicado em 2019;

– “Grada Kilomba: imagens, palavras e símbolos que mudam de lugar”, da psicanalista Ludmila Frateschi (SBPSP), publicado originalmente em 2019;

– “ Tempos árduos: a arte da escrita psicanalítica…”, da psicanalista Renata Sarti (SBPRP), publicado originalmente em 2021;

– “As Vísceras de Rubem Fonseca”, do psicanalista Daniel Senos (SBPRJ), publicado originalmente em 2020.

Para quem ainda não nos segue no Instagram, pode procurar pelo perfil: @observatorio_psicanalitico, assim podem acompanhar tudo que publicamos em tempo real!

Temos novidades na equipe de Curadoria. Com tristeza nos despedimos de nossa querida companheira Ludmila Frateschi, que integrou a equipe por 3 anos. Sentimos tristeza, mas também orgulho do trabalho competente e dedicado realizado por ela até aqui. Sentiremos saudades! Nem só de despedidas vivemos, estamos também dando as boas-vindas a colega de Fortaleza, Ana Valeska Maia Magalhães que começará a integrar o grupo no início de Abril. Estamos contentes em formar um grupo de mulheres psicanalistas representantes do Centro-Oeste, Sudeste, Sul e Nordeste. É nosso desejo que cada vez mais psicanalistas da FEBRAPSI escrevam e participem do OP.

O mês de março termina com a triste data descomemorativa dos 58 anos do golpe-civil-militar, fato que precisamos lembrar, para não repetir. Sabemos que em nosso país a violência de Estado, desde os tempos da escravidão, nunca foi assumida, punida e reparada. Por isso o episódio 03 do Mirante, lançado no dia 02 de abril versa sobre “Memória e Verdade”, quando contamos com a psicanalista Liana Albernaz de Melo Bastos (SBPRJ) e do filósofo Edson Telles.  

Como dissemos no início, foi um mês que exigiu muito da nossa capacidade de suportar o mal-estar. Em resposta produzimos bastante, o que faz lembrar a famosa frase de Nietsche “A arte existe para que a realidade não nos destrua.”

Um bom início de mês a todos e todas!

Um abraço fraterno,

Equipe de curadoria

Beth Mori, Daniela Boianovsky, Ludmila Frateschi, Rafaela Degani e Renata Zambonelli

(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores)

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Categoria: Editoriais
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