(1896 – 1971)
Pediatra e psicanalista, nasceu numa próspera família de Plymouth, na Grã-Bretanha, em 7 de abril de 1896, e morreu em Londres, em 25 de janeiro de 1971. Donald tinha duas irmãs mais velhas e aos 14 anos foi para um internato. Posteriormente ingressou na Universidade de Cambridge onde estudou biologia e depois medicina. Entretanto, irrompeu a guerra de 1914-18, o que o levou a servir como estagiário de cirurgia e oficial médico em um destróier. Em 1923, foi indicado para o The Queen’s Hospital for Children e também para o Paddington Green Hospital for Children, onde permaneceu pelos 40 anos seguintes, trabalhando como pediatra, psiquiatra infantil e psicanalista.
Foi um colaborador de jornais médicos, psiquiátricos e psicanalíticos, e também escreveu para revistas destinadas ao público em geral, nas quais discutia problemas das crianças e das famílias. Sua extensa obra foi dedicada à construção da teoria do amadurecimento pessoal (um caminho a ser percorrido partindo da dependência absoluta e dependência relativa rumo à independência relativa), que, além de constituir uma teoria da saúde, com descrição das tarefas impostas, desde o início da vida, pelo próprio amadurecimento, configura também o horizonte teórico necessário para a compreensão da natureza e etiologia dos distúrbios psíquicos.
A distinção de seu trabalho, metodologicamente, em relação a Freud e outros, foi a decisão de estudar o bebê e sua mãe como uma “unidade psíquica”, o que lhe permitia observar a sucessão de mães e bebês e obter conhecimento referente à constelação mãe-bebê, e não como dois seres puramente distintos. Assim, não há como descrever um bebê sem falar de sua mãe, pois, no início, o ambiente é a mãe e apenas gradualmente vai se transformando em algo externo e separado do bebê.
O ambiente facilitador é a mãe suficientemente boa, porque atende ao bebê na medida exata das necessidades deste, e não de suas próprias necessidades. Esta adaptação da mãe torna o bebê capaz de ter uma experiência de onipotência e cria a ilusão necessária a um desenvolvimento saudável.
O conceito de “Preocupação Materna Primária” pode ser comparado a um estado de retraimento da mãe e é necessário para que ela possa estar envolvida emocionalmente com seu bebê. Uma grande contribuição do autor refere-se ao conceito dos objetos transicionais e fenômenos transicionais que surgem na superação do estágio de dependência absoluta em direção à dependência relativa, sendo que não é importante o objeto que está sendo utilizado, mas sim, o uso que a criança faz desse objeto. Ele se coloca na zona intermediária, na separação entre a mãe e o bebê, ajudando a tolerar a angústia de separação e ausência materna.
Para Winnicott, o potencial inato de crescimento num bebê se expressava em gestos espontâneos. Se a mãe responde apropriadamente a esses gestos, a qualidade da adaptação proporciona um núcleo crescente de experiência para o bebê, o qual resulta num senso de completude, força e confiança, que ele chama de “verdadeiro self”. A sua crescente força permite ao bebê lidar com posteriores frustrações e fracassos relativos por parte da mãe, sem perder sua vivacidade.
Se a mãe é incapaz de responder adequadamente aos gestos do bebê, este desenvolve a capacidade de adaptar-se e submeter-se às “invasões” da mãe, isto é, às iniciativas e exigências dela, e sua espontaneidade é gradualmente perdida. Winnicott chamou este desenvolvimento defensivo de “falso self”. Quanto maior o “desajuste” entre mãe e o bebê, maior a distorção e interrupção no desenvolvimento da personalidade deste.
Para Winnicott, a psicopatia ou tendência anti-social caracteriza-se como um transtorno no qual a falha ambiental tem um importante papel. O jogo da espátula teve sua origem na clínica diagnóstica de mães e bebês e o jogo dos rabiscos surgiu de sua prática psiquiátrica com crianças.
A teoria de Winnicott baseia-se no fato de que a psique não é uma estrutura pré-existente e sim algo que vai se constituindo a partir da elaboração imaginativa do corpo e de suas funções – o que constitui o binômio psique-soma. Essa elaboração se faz a partir da possibilidade materna de exercer funções primordiais como o holding (permite a integração no tempo e no espaço), handling (permite o alojamento da psique no corpo) e a apresentação de objetos (permite o contato com a realidade).
O psique-soma inicial prossegue ao longo de uma linha de desenvolvimento desde que sua continuidade de existência não seja perturbada, e para que isso ocorra, é necessário um ambiente suficientemente bom onde as necessidades do bebê sejam satisfeitas.
Um ambiente mau é sentido como uma invasão à qual o psicossoma (o bebê) precisa reagir e esta reação perturba a continuidade de existência do bebê. O adoecimento, então, se dá devido a perturbações na relação mãe-bebê que provocam falhas no desenvolvimento do indivíduo. Tais perturbações criam uma sensação de falta de fronteiras no corpo, ameaças de despersonalização, angústias impensáveis, ameaças de desintegração e despedaçamento, de cair para sempre, e falta de coesão psicossomática.
Referências às obras de D. W. Winnicott publicadas em português:
- 1958: Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 2000.
- 1964: A criança e seu mundo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982.
- 1965: A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
- 1965: O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.
- 1971: O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
- 1971: Consultas terapêuticas em psiquiatria infantil. Rio de Janeiro: Imago, 1984.
- 1977: The Piggle: o relato do tratamento psicanalítico de uma menina. Rio de Janeiro: Imago, 1979.
- 1984: Privação e delinqüência. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
- 1986: Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
- 1986: Holding e interpretação. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
- 1987: Os bebês e suas mães. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
- 1987: O gesto espontâneo. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
- 1988: Natureza humana. Rio de Janeiro: Imago, 1990.
- 1989: Explorações psicanalíticas. C. Winnicott, R. Shepperd e M. Davis (orgs). 2ª reimpressão. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005.
- 1993: Conversando sobre crianças [com os pais]. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
- 1996: Pensando sobre crianças. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
Resenha elaborada por Denise Aizemberg Steinwurz, membro filiado do Instituto da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.