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PSICANÁLISE CONTEMPORÂNEA COMO ARTE DE PENSAR ENTRE-DOIS |Abril2023

15/04 | 16 às 19h
ÁREA DE ILUSÃO: UM PONTO DE VIRADA E DE EXPANSÃO DO OLHAR CLÍNICO.
ENTRE WINNICOTT E MILNER.
Palestrante: Mirian Malzyner (SBPSP)
Apresentação / Coordenação: Raquel Pires (SBPSP)

 

Investimento:
Membros SBPSP, Febrapsi, IPA, Fepal e Estudantes de graduação: Sem ônus
Profissionais: R$ 60,00
5 cotas para profissionais negros, indígenas e refugiados.
Inscrições pelo site: www.sbpsp.org.br
Informações: [email protected]

 

É lugar comum entre antropólogos dizer que a “cultura define a humanidade do ser humano como animal simbólico” (E. Cassirer). A elaboração do programa da DCC para o ano de 2023 parte de algumas perguntas básicas que supõem esse lugar comum, mas vão um pouco além. Ou seja, até que ponto a cultura é necessária para a formação do psicanalista? Como pensar a articulação entre os campos psíquico e cultural? E como entender que esses campos se necessitam intrinsecamente? Com essas indagações em mente, pareceu-nos interessante realizar um programa cujo propósito seria apresentar a relação entre cultura e psicanálise, analisada por autores consagrados na filosofia e nas ciências humanas. Acreditamos que essa proposta poderia resultar numa contribuição, pois o dito que se tornou popular menos é mais – que significa menos é melhor do que mais alguma coisa – nem sempre se aplica. Afinal, menos Educação não é melhor do que mais Educação; menos Cultura não é melhor do que mais Cultura. Ou seja, a aquisição de novos conhecimentos que nos auxiliam a rever os antigos nunca é demais, ou melhor, ela será sempre bem-vinda, pois, à luz de novos conhecimentos, podem acontecer transformações. Entretanto, no “momento atual da modernidade” (M. Berman), muitos psicanalistas se encarregaram de ir além das fronteiras, dialogando com filósofos, historiadores, antropólogos, linguistas, escritores e artistas, formulando proposições psicanalíticas originais. Assim, não seria necessário recorrer ao trabalho de autores externos à Psicanálise para desenvolvermos o nosso projeto. Então, contando apenas com psicanalistas contemporâneos que realizaram reflexões no campo híbrido formado pelas relações entre a cultura e a psicanálise, assim como entre a teoria e a clínica, lembramos que o próprio Freud, como observou Pontalis, denominou o campo psicanalítico com a expressão reino intermediário. E há muitas variantes desse campo entre dois como, por exemplo, entre o sonho e a dor, mas também, entre o masculino e o feminino, entre a criança e o adulto, entre o morto e o vivo, entre o corpo e o espirito, entre o saber e a fantasia, entre a experiência e a interpretação da experiência, entre o objeto e o sujeito… Nessa medida, a vida psíquica pode ser considerada por intermédio da relação entre dois polos – entre o fora de si e o dentro de si – formadores de um campo entre-dois, marcado com um hífen. E, nesse caso, o hífen é importante, pois, sem esse sinal de ligação, a expressão denotaria qualquer relação. Ou seja, com o hífen a expressão ganha um caráter que não significa uma relação entre outras, mas uma articulação estrutural na qual os termos relacionados são inseparáveis. Trata-se de uma relação que é intrínseca (não casual ou extrínseca) aos próprios termos relacionados.

Ora, entendendo a cultura, segundo a concepção de Alfredo Bosi, como “uma reflexão sobre a experiência”, reflexão da qual é criada “a experiência pensada, a vida pensada, o mundo pensado”, isto é, “simbolizado” – conceito que norteou os programas desta Diretoria no biênio 2021/22 – a cultura ganha o estatuto de um processo estrutural que se contrapõe às manifestações ideológicas que, por não serem submetidas à reflexão, formatam o modo de ser de qualquer indivíduo alheio à cultura, portanto, à elaboração crítica do saber sobre si e sobre o mundo em que vive, acreditando que “menos é mais”. E nesse processo de formatação, inevitavelmente, tal indivíduo comprometerá a forma do seu trabalho como prática ideológica, alienada e conservadora, indiferente à cultura, portanto, à reflexão sobre as experiências. Nessa medida, tal prática estaria condenada à repetição do mesmo e não-disponível para as figuras da alteridade, isto é, para a diferença, o desconhecido, o novo e o porvir – prática contrária ao que se espera da psicanálise. Assim, o programa definido para 2023 pretende abrir espaço para ideias que poderão surgir da comparação entre as reflexões de psicanalistas que propõem um pensamento original, tendo em vista a máxima colocada por Winnicott que diz – “não é possível ser original senão no contexto de certa tradição”. Nesse sentido, a tradição define-se como um campo em relação ao qual o pensamento original se discrimina para se afirmar como inédito ou como exceção à regra proposta e imposta pela tradição. Mas, para elaborarmos concretamente o temário desse programa, nos deparamos com a difícil escolha de um autor que pudesse nos servir como ponto de referência à discussão. Diante dessa exigência, decidimos escolher um autor para o qual o tema da cultura tem importância explícita na totalidade das suas elaborações teórico-clinicas.
E dada a conhecida sequência histórica – “Freud, Klein, Bion, Winnicott” – o último mostrou-se significativo, tendo em vista não apenas o destaque dado por ele ao tema da cultura, mas, sobretudo, ao modo como é considerado nas perspectivas da transicionalidade, da ambiguidade e do paradoxo que, se forem discutidas à luz dos pensamentos de diversos autores, revelam, comparativamente, a Psicanálise contemporânea como modo de pensar entre-dois. Em suma, o programa começa com autores da Psicanálise inglesa, atravessa o Atlântico para chegar aos USA, voltando em seguida à Inglaterra para logo transpor o Canal da Mancha, chegar em Paris e daí até a Itália para encontrar a Psicanálise associada à literatura e às artes. Trata-se de um percurso ao longo do qual faremos contato com um modo de pensar que – conforme apresentamos nos cursos da DCC em 2021 e 2022 – é desenvolvido desde os artistas modernos até os contemporâneos cuja característica principal é interrogar o instituído com um fazer que interpela o espectador, como seu outro, com uma linguagem que promove um novo modo de ver, assim como uma arte de pensar o mundo.

Nesse sentido, pode-se perceber alguma semelhança entre esse modo de fazer arte e certas proposições da psicanálise contemporânea que renunciam à aplicação de uma grade de leitura conceitualmente pré-formada aos objetos e optam por uma abertura fenomenológica à implicação com a alteridade. Por exemplo, como observa Civitarese (2019), considerando as transferências reciprocas entre analista e analisando – tanto na sala de análise quanto na cultura – de cujo cruzamento “nasce um campo emocional que prescinde dos elementos de partida, representando mais do que a sua soma”, assim também “a leitura de uma obra se realiza como prática da curiosidade e de abertura para o desconhecido”, prática da qual nasce a experiência estética como fruto de um trabalho entre-dois – entre o analista e o analisando, entre o espectador e uma obra, entre um analista e outro analista… Finalmente, resta dizer que esse programa da DCC aspira propor uma viagem reflexiva cuja forma assemelha-se à espiral. Ou seja, associando a Psicanálise ao modo de pensar entre-dois, cujo perspectivismo comparativo que o caracteriza, ao mesmo tempo, afasta e aproxima os contrários, interrogando-os para ampliar o campo trabalhado, pretendemos avançar com a reflexão crítica que desfaz ilusões e gera novas configurações. Afinal, como a arte, “o conhecimento é uma aventura em espiral que tem um ponto de partida histórico, mas não tem fim…” (E. Morin).

João Frayze-Pereira
Diretor – DCC

PROGRAMA DO 1º SEMESTRE: Abril – Junho

15/04 | 16 às 19h
ÁREA DE ILUSÃO: UM PONTO DE VIRADA E DE EXPANSÃO DO OLHAR CLÍNICO.
ENTRE WINNICOTT E MILNER.
Palestrante: Mirian Malzyner (SBPSP)
Apresentação / Coordenação: Raquel Pires (SBPSP)

06/05 | 10 às 13hs
OS DESAFIOS DA EXPERTISE PSICANALÍTICA E SEUS CONTRAPONTOS – IRONIA?
ENTRE WINNICOTT E ADAM PHILLIPS.
Palestrantes: Rahel Borács e Marlene Rozenberg (SBPSP)
Apresentação e Coordenação: Tania Zalcberg (SBPSP)

03/06 | 10 às 13hs
O OBJETO SOBREVIVENTE.
WINNICOTT NA LEITURA DE JAN ABRAM.
Palestrante: Olivia Porcaro (SPRJ)
Apresentação e Coordenação: Norma L. Semer (SBPSP)

24/06 | 16 às 19hs
O LUGAR DA EXPERIÊNCIA NO TRATAMENTO PSICANALÍTICO.
OGDEN E WINNICOTT.
Palestrante: Leopoldo Fulgêncio (USP)
Apresentação e coordenação: Marisa Grancchelli (SBPSP)

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