Observatório Psicanalítico – 189/2020
Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo.
Um amigo inesquecível
Gley Silva de Pacheco Costa (SBPdePA)
“Nós temos duas vidas, a segunda começa quando percebemos que só temos uma”. Mário de Andrade
Vítima da Covid-19, depois de vinte e dois dias de sofrida hospitalização, no sábado, dia primeiro de agosto de 2020, às dezenove horas e trinta e cinco minutos, aos 75 anos de idade, faleceu José Luiz Freda Petrucci, nascido na cidade de Pelotas em 27 de novembro de 1944. Formado em medicina pela Universidade Federal de Pelotas em 1969, realizou no Rio de Janeiro sua formação psiquiátrica e, também, sua formação psicanalítica na Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ), entidade na qual, por muitos anos, desenvolveu atividades diretivas e didáticas.
A nosso convite, em 1989 começou a participar do ensino da Fundação Universitária Mário Martins e em 1991 transferiu-se definitivamente para Porto Alegre, onde abriu seu consultório e deu início ao atendimento psicanalítico de pacientes. A partir de 1990, participa do movimento para uma nova sociedade psicanalítica em Porto Alegre, berço da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SBPdePA), na qual integra o quadro de fundadores, torna-se analista didata e ocupa diversos cargos, sendo os mais importantes o de primeiro coordenador do Centro de Atendimento Psicanalítico (CAP) e o de Diretor do Instituto nos anos 2012-2014.
Petrucci, além de Freud, estudou por muito tempo e profundidade outros autores psicanalíticos, destacando-se Melanie Klein, Bion, Winnicott e Ogden. Suas leituras, no entanto, íam muito além dos temas psicanalíticos, tornando-se um homem dotado de grande cultura literária, além de pianista, pintor e escultor, cujas obras serão postumamente expostas ao público tão logo seja possível. Publicou grande número de trabalhos psicanalíticos, sendo o último, intitulado “Who I think the layman is to Freud: comments on Sigmund Freud’s ‘the question of Lay Analysis’, no livro On Freud’s “The Question of Lay Analysis”, editado por Paulo Cesar Sandler e Gley Pacheco Costa (Routledge, Londres, 2019).
Casado por dezoito anos com Marta de Menezes Novaes, teve quatro filhos (Donatella, Pricilla, Bernardo e Humberto), os quais lhes deram sete netos. Nos últimos dois anos, esteve casado com Joice Zamprogna, com quem desfrutou uma grande felicidade. Devido a seus conhecimentos psicanalíticos e múltiplos interesses, conquistou admiração, reconhecimento, gratidão e estabeleceu vínculos afetivos com um grande número de instituições, não somente as psicanalíticas, mas também com pessoas dos mais variados interesses e grupos sociais. Mantinha amizades desde a infância e sempre foi amigo dos seus amigos.
Se tudo isso já não bastasse para justificar esta homenagem que o Jornal da Brasileira e o Observatório Psicanalítico FEBRAPSI lhe prestam, como amigo inseparável desde a adolescência, acrescento uma característica simples, mas singular em nossa cultura marcada pela competição: em todos esses anos de relacionamento, jamais ouvi o Petrucci subestimar um colega, um aluno ou qualquer outra pessoa, mesmo que possa ter tido com um ou com outro algum desentendimento, como sabemos que teve, revelando uma capacidade incomum de convivência e respeito humano, expressa num sorriso franco e cativante.
(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores).
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