Observatório Psicanalítico OP-Editorial Dezembro/2024

Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo

Sódepois 56

Dezembro/2024 

Adeus ano velho…

Este é o editorial de dezembro que nos convidou a olhar para todo o ano de 2024. Um ano intenso, por vezes tenso, mas produtivo e, como sempre por aqui, criativo. 

Neste fechamento de ano, fizemos uma retrospectiva revendo tudo o que foi produzido através do OP, ao longo dos últimos 12 meses. Com alegria, e sensação de dever cumprido, contabilizamos 92 ensaios publicados; 9 podcasts do Mirante lançados; 11 Sódepois publicados; o ensaio especial de número 500 celebrado; mais uma categoria temática para publicação de textos lançada: “emergência climática”; uma mesa do OP no congresso da FEPAL com sala lotada; além de muita, mas muita troca, entre colegas através de e-mails e postagens no Instagram e Facebook.

Em 2024, o Observatório Psicanalítico foi palco e espaço para reflexões, diálogos, concordâncias, discordâncias, aprendizados, encontros e aproximações apesar das distâncias geográficas do Brasil e da América Latina. Foi lugar para pensar diferentes aspectos da contemporaneidade, tais como questões políticas, o carnaval em diferentes culturas, o feminino e tudo que implica ser mulher, a guerra e os conflitos, as questões raciais, as enchentes do RS e a forte rede de solidariedade que surgiu, as questões climáticas, as olimpíadas, a análise de filmes e livros, o sexual na polis. 

OP foi espaço também para homenagear colegas que partiram neste ano, e tornou-se uma importante rede para lidar com o luto e com a finitude de forma sensível e coletiva. Da mesma forma que foi espaço para homenagear e celebrar colegas em vida. Tivemos expressiva participação de colegas da América Latina, tanto nos ensaios como nas trocas por e-mail, ampliando e enriquecendo esta rede participativa. 

O OP foi ainda uma espécie de continuação do 35 Congresso Latino-Americano de Psicanálise, uma vez que textos apresentados no congresso foram publicados aqui, bem como surgiram novos ensaios a partir dos temas trabalhados no mesmo. 

Tudo isso a partir de e em articulação com a psicanálise! Cada ensaio, postagem e podcast é um convite para refletir sobre o nosso ofício, sobre o lugar da psicanálise e dos psicanalistas na atualidade e na cultura. Acreditamos fortemente que assim estamos produzindo ainda mais psicanálise, validando, transformando, ampliando! 

Que bom poder olhar para trás e encontrar tanta produção! Para além dos números, é de fundamental importância ressaltar a qualidade das produções e dos debates, o engajamento para contribuir e ampliar as reflexões. Produções tão singulares que se transformam em coletivas. 

A equipe da curadoria trabalhou praticamente todos os dias deste ano, são muitos movimentos nos bastidores, mas temos a certeza que nada disso aconteceria se não fosse a participação de todos, onde a contribuição de um convida e provoca a participação de tantos outros. Assim esta rede – única na psicanálise mundial – cresce cada vez mais. A cada leitor/leitora, escritor/escritora, participante destes diferentes espaços, o nosso mais sincero muito obrigada!

Especificamente no mês de dezembro, tivemos o lançamento do podcast Mirante 38/2024 intitulado “Corpos sem corpo: o mundo virtual hoje” que contou com a participação do professor de filosofia de adolescentes e adultos jovens Thiago Gruner e da psicanalista Cris Vasconcelos, da SPPA, ambos de Porto Alegre. Os convidados dialogaram sobre a forte presença dos dispositivos eletrônicos nas vidas de crianças e adultos, bem como o sofrimento psíquico devido ao uso abusivo dos celulares ou pela abstinência do uso desses aparelhos. Além disso, pensaram sobre as possíveis consequências a longo prazo para as novas gerações, nascidas no caldo cultural da onipresença das telas, e sugeriram o que a psicanálise tem a ofertar em perspectiva para esse debate.

Tivemos ainda o lançamento de 8 ensaios. Ruggero Levy (SPPA), no ensaio “A essência simbólica do ser humano: sua força e sua fragilidade” (OP 546/2024) discorreu sobre o fanatismo e a polarização nas instituições psicanalíticas. Ele apontou que, ao mesmo tempo que encontramos instituições psicanalíticas se modificando e se aproximando mais do meio social, há também instituições rígidas, incapazes de crescer e de se transformar. Ruggero considerou que a discussão deve ser substantiva e não adjetiva (tu és conservador/eu sou progressista, eu vou salvar a psicanálise/tu vais destruí-la). Falou sobre a importância de não cair no “nós e eles”, em que o outro não é escutado,  e ressaltou que “o debate das ideias baseadas em conceitos é fundamental para o crescimento científico e para o desenvolvimento da psicanálise.”

Bernardo Tanis (SBPSP), através do ensaio “Política institucional, clínico e formação no contexto da intolerância e fanatismo” (OP 547/2024) trouxe reflexões sobre a vida institucional e a formação em psicanálise, ressaltando que a intolerância e o fanatismo também se fazem presentes no meio psicanalítico. O autor propôs pensar os modelos de formação e as possíveis ampliações do ofício para além da sala de análise. Tanis sugeriu que “torna-se imperativo recuperar a ousadia dos fundadores e desburocratizar nossos institutos. Isso não significa abandonar o rigor e o compromisso ético da psicanálise.” Desta forma, ele apontou que “a clínica psicanalítica, no sentido amplo, o diálogo com os colegas sobre como a psicanálise se transforma ao longo do tempo e nos diferentes contextos em que atuamos, envolve a criação de espaços coletivos para refletir sobre essas transformações.”

No clima de Campeonato Brasileiro, Hemerson Ari Mendes (SPPel), através do ensaio “E o Botafogo foi campeão…” (OP 548/2024), celebrou a vitória do Botafogo bem como a paixão pelo futebol. O autor apontou a capacidade que o esporte tem de unir, conectando gerações através dos tempos. Comentou que, ao torcerem/sofrerem pelo mesmo time, seus filhos vivenciam uma paixão transgeracional através da qual eles se conectam com o avô que não conheceram. Hemerson afirmou que “todas as paixões apresentam algo de irracional e inconsciente. São as pessoas que nos alimentam, nos ligam, nos apresentam, nos incentivam e abrem o caminho para a paixão. Sempre voltamos na ilusão/esperança de reencontrarmos o velho-novo amor: é a maneira de manter vivas as estrelas que já se apagaram.” 

Do Peru, recebemos o ensaio “O centro do seu corpo…” (OP 549/2024) de Graciela Cardó (SPP) que refletiu sobre a semana em que se comemorou o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher no seu país. Um parque de Lima foi palco de uma escultura em formato de um clitóris gigante, instalação da artista francesa Julia Pietri. A autora comentou que há uma multiplicidade de significados que o clitóris e a vulva tiveram e têm na história, e que “vale a pena percorrer o mundo e lembrar que essa zona – passagem primordial entre mundos, membrana divisória, zona exógena, sede de trocas desde a infância e de cuidados – é também lugar de abusos. Desvenda-se o oculto e o exposto ao mesmo tempo”.  Por isso, “a importância de celebrar as lutas e também os infinitos poderes das mulheres.”

Leopoldo Nosek (SBPSP) apresentou o ensaio “O messianismo hoje” (OP 550/2024) que abordou o lugar do messianismo em nosso pensamento. O autor fez um vasto percorrido em diversos aspectos históricos e culturais a fim de examinar alguns pontos que, segundo ele, “sem um pensamento crítico, o messianismo assalta nosso cotidiano.” Ao pensar sobre a psicanálise, Nosek reflete que “o conhecimento não prescinde da fantasia. Assim, a psicanálise é uma descoberta ou uma criação? Talvez possamos situá-la, como todas as ciências, num território intermediário onde as metáforas de ordem poética ou matemática, numa certa época apresentam uma correspondência possível com a realidade.” 

No ensaio “Uma viagem inesquecível” (OP 551/2024) Ana Cristina Azambuja Tofani (SPPA) prestou uma homenagem à psicanalista Maria Lucrécia Zavaschi ao falar da sua experiência na formação psicanalítica da infância e adolescência. A autora ressaltou que “Lucrécia é ímpar! Transmite com sensibilidade como utiliza a técnica psicanalítica, embasada e fundamentada, incluindo o campo analítico e a contratransferência, com empatia e sensibilidade.” Ana Cristina apontou a complexidade do ofício psicanalítico e a importância de ter se sentido respeitada nos seus posicionamentos já que “temos que considerar que, mesmo focando no mesmo ponto, dependendo do lugar que estamos sentadas, podemos ter impressões diferentes.” 

E encerramos o ano com Celso Gutfreind (SBPdePA) através do ensaio “A poesia salva” (OP 552/2024), no qual ele reflete sobre a (in)compatibilidade entre psicanálise e poesia. O autor explica que “a transferência permitia isso, mas a poesia sequer acolhia essa palavra. A poesia não acolhia palavras. Por mais contraditório que parecesse, ela não era feita de palavras, mas do que viera antes delas, olhar, melodia, toque, preparação da palavra por um encontro de vitalidade afetiva entre dois pequenos, diante de um grande mistério. A poesia sugeria que a psicanálise também não era feita de palavras, mas do que viera antes dela e foi silêncio, presença, estando junto, mesmo se por tanto tempo nada podendo dizer, diante daquela condição desamparada.” 

Feliz ano novo…

Estamos curiosas por tudo que está por vir ao longo dos próximos meses e já estamos criando/sonhando com o congresso da FEBRAPSI em outubro! 

Desejamos um ano novo cheio de presença, que este espaço siga sendo vividamente habitado através das palavras – palavras que são pontes e produzem encontros, sentidos, interrogações, inquietações criativas, ciência e poesia! 

Celebremos as possibilidades do que virá mas também o tempo presente que, como nos lembra Gilberto Gil: “O melhor lugar do mundo é aqui. E agora. Aqui onde indefinido. Agora que é quase quando. Quando ser leve ou pesado. Deixa de fazer sentido. Aqui de onde o olho mira. Agora que o ouvido escuta. O tempo que a voz não fala. Mas que o coração tributa. O melhor lugar do mundo é aqui. E agora. O melhor lugar do mundo é aqui. E agora.”

Seja bem-vindo 2025! 

Abraço afetuoso,

Beth Mori (SPBsb), Ana Valeska Maia (SPFOR), Gabriela Seben (SBPDEPA), Giuliana Chiapin (SBPDEPA), Lina Schlachter (SPFOR), Vanessa Corrêa (SBPSP). 

(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores) 

Imagem: Imagem: celebração do momento da passagem de 2024 para 2025, fotografia de Giuliana Chiapin

Categoria temática: Editorial 

Palavras-chave: Editorial, Observatório Psicanalítico, Rede, Escrita, Acontecimentos 

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Categoria: Editoriais
Tags: Acontecimentos | editorial | Escrita | observatorio psicanalitico | Rede
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