
Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo
Vozes contemporâneas: o feminino em cena
Gabriela Seben e Rafaela Degani (SBPdePA)
Há anos a temática do feminino tem sido nosso objeto de interesse, nos colocando a pensar e a estudar a respeito. Nosso primeiro livro publicado em conjunto sobre o assunto foi “A analista grávida” (Artes & Ecos, 2020). Na época, éramos um grupo de cinco psicanalistas amigas, que engravidaram praticamente no mesmo período, e trocávamos diversas inquietações sobre este momento tão singular, sobretudo com relação ao trabalho com a clínica e as reverberações transferenciais da gravidez da analista nos processos analíticos. Passado algum tempo, seguimos estudando e escutando mulheres, nos interrogando sobre a sexualidade feminina e sobre como a cultura incide sobre nós e em nossas analisandas. Mas afinal, o que é ser mulher? A resposta certamente é complexa, e envolve diversas questões que vão muito além do gênero.
Frequentemente, a primeira pergunta que toda grávida escuta é sobre o sexo do bebê: é menino ou é menina? Desde a gestação, registros simbólicos vão sendo criados acerca do ser que está por vir. O sexo anatômico define, a priori, o que chamamos de homem e mulher. Em 1924 no texto “Dissolução do Complexo de Édipo”, Freud afirma que a anatomia é o destino. Entendemos que Freud, com essa afirmação, deduz que a partir da diferença anatômica dos sexos se produzirão distintos registros psíquicos. Não vemos essa afirmação como uma determinação de gênero, por exemplo, mas sim, compartilhamos a ideia de que a distinção morfológica somada aos papéis de gênero de cada cultura produzirá variados desenvolvimentos psíquicos.
Psicanalistas contemporâneas a Freud, como Karen Horney, Helen Deutsch, Melanie Klein, entre outras, discordaram de suas ideias em relação ao complexo de Édipo feminino, mas nunca negaram a importância da diferença anatômica e suas consequências psíquicas. Essas autoras dissecaram as fantasias próprias da mulher em relação ao seu corpo, um corpo que sangra todo mês, que é penetrado no ato sexual, que é capaz de gerar vida e alimento. Também é consenso o conceito de bissexualidade originária, situando o feminino e o masculino, ou a passividade e atividade, como formas de satisfação pulsional existente em ambos os sexos. Com isso, na contemporaneidade, encontramos caminhos dentro da teoria psicanalítica para ampliar nosso entendimento acerca das possibilidades de variações de gênero e escolha de objeto que não necessariamente se inscrevem numa lógica binária.
Definir o que é mulher, homem, feminino e masculino, é um campo em disputa. Ao levantar essas questões, as respostas que pareciam antes óbvias, nos escapam. Instigadas por estas interrogações, convidamos 13 colegas para escreverem sobre a temática, que abarca o território do feminino, alvo de divergências e impasses na esfera conceitual psicanalítica. Os trabalhos publicados em “Vozes Contemporâneas: o feminino em cena” se constroem na interface do feminino com a clínica e com a cultura, e nas reverberações desse constructo nas subjetividades atuais, apoiando-se no rigor metapsicológico de nossas origens e heranças freudianas.
Além dos nossos escritos, os ensaios de Tânia Rivera, Luciana Saddi, Bertha Hoffmann Azevedo, Helena Cunha Di Ciero, Gizela Turkiewicz, Patricia Porchat, Juliana Lang Lima, Marina Camargo, Simone Z. Heissler, Carolina Pereira, Camila Santos, Ian Favero Nathasje e Renally Xavier ajudaram a dar vida ao livro trazendo temáticas contemporâneas tais como aborto, assédio, papéis de gênero, maternidade, corpo, escrita, dentre outros. Para o prefácio, convidamos a psicanalista Silvia Leonor Alonso, que há anos se debruça sobre esta temática com estudos e pesquisas de muita consistência teórica. Para o texto da orelha contamos com a gentil e criativa colaboração da colega Ana Valeska Maia, psicanalista e curadora do OP! A belíssima capa é obra da artista plástica Andrea Miranda, de São Paulo, feita exclusivamente para este livro. Pensamos em cada detalhe com muita dedicação e estamos muito contentes por ver esse projeto se tornando realidade.
O lançamento será em Porto Alegre (nossa cidade natal) pela editora Blucher, no dia 17/09 na livraria Paralelo 30. Fica aqui o nosso convite para que todos conheçam o livro e que, se possível, possam brindá-lo conosco!
Palavras-chave: feminino, mulheres, clínica, cultura, livro
Imagem: Capa do livro. Foto de Rafaela Degani.
Categoria: Política e Sociedade; Instituição Psicanalítica
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