
Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo
PROGRAMA CONCAVIDADES: Prêmio IPA na Comunidade e no Mundo, 2024/2025, na categoria Preconceito, Discriminação e Racismo
Eliane Marcellino da Silva (SBPRJ), Isabel Mansione (APDEBA) e Carlos Tewel (APA)
Apresentado pelo Grupo de Estudos de Psicanalistas na Comunidade da FEPAL – uma rede de psicanalistas de diferentes associações latino-americanas que atua a partir de uma perspectiva centrada nos direitos humanos, na interdisciplinaridade e na pluriculturalidade –, o Programa Concavidades propõe ações voltadas a conhecer, compreender e mitigar os efeitos dos preconceitos na formação e na prática profissional dos psicanalistas.
Entre as sociedades latino-americanas que compõem o Grupo de Estudos de Psicanalistas na Comunidade da FEPAL, coordenado por nós: Eliane Marcelino (SBPRJ), Isabel Mansione (APdeBA) e Carlos Tewel (APA). Participam colegas brasileiros pertencentes à SPPA, à SBPRJ e à SBPSP. São esses: Alice Lewkowicz( SPPA), Dionela Toniolo (SPPA), Eliane Marcellino da Silva (SBPRJ), Ivani Bressan (SPPA), Joyce Goldstein (in memoriam, SPPA), Luciana Aranha Secco (SPPA), Lula Abrahão (SPBSP), Maria Elizabeth Cimenti (SPPA), Maria Teresa Naylor Rocha (SBPRJ) e Talita Azambuja (SBPSP).
Nos últimos quatro anos, em diferentes territórios, foi possível investigar a perspectiva psicanalítica sobre fenômenos sociais discriminatórios, direitos humanos, diversidade e multiculturalismo. Essa investigação foi também voltada para a própria comunidade psicanalítica. Escutamos com amor e dor, mas também com a esperança de nos tornarmos pessoas melhores para apoiar a comunidade. Esse percurso partilhado deu origem ao Programa Concavidades, que acaba de ser reconhecido em Lisboa com um prêmio da Associação Psicanalítica Internacional (IPA). Partimos da ideia de que, quando os preconceitos são reconhecidos, a escuta se torna mais profunda, aberta e ética.
A pesquisa qualitativa participativa – uma pesquisa “com o outro” – foi baseada na escuta de depoimentos de psicanalistas que vivenciaram desigualdades e discriminações. A partir desses relatos, foi possível identificar preconceitos étnicos, de gênero, de classe e de idade, instalados na cultura por meio de pactos narcísicos inconscientes, que emergem na prática profissional como obstáculos internos e externos, muitas vezes invisíveis no tripé da formação.
O Programa Concavidades é dirigido à comunidade psicanalítica e busca promover mudanças na prática e no treinamento profissional, especialmente no que diz respeito às condições que sustentam e reforçam preconceitos pessoais e sociais. Seu objetivo é provocar transformações nos analistas, nos analistas em formação e em suas instituições, de modo a otimizar a prática clínica e ampliar o alcance dos profissionais nos diferentes territórios em que atuam.
As estratégias para atingir esses objetivos incluem: 1. Oficinas com a metodologia de grupos Balint e grupos focais em espaços institucionais e inter-regionais, para identificar e trabalhar obstáculos internos e externos; 2. Grupos de monitoramento coletivo interinstitucionais e inter-regionais, com uma perspectiva intersetorial; 3. Concepção, produção e socialização de materiais audiovisuais; 4. Cursos ministrados por especialistas, destinados especialmente a quem trabalha ou está em formação na área da Saúde Mental, para ampliar o alcance da psicanálise; 5. Apresentações, publicações e eventos em espaços científicos e comunitários.
As ações são voltadas para a transformação de preconceitos, originados em situações como: a) Posições ideológicas inconscientes que dificultam a escuta, influenciadas pela penetração constante da mídia de massa e das redes sociais, que constroem mitos sobre a verdade e a mentira; b) Posturas defensivas e reativas que comprometem a formação de vínculos; c) Confusão conceitual entre neutralidade e abstinência; d) Preconceitos quanto à participação de analistas em formação em ações comunitárias, espaços acadêmicos e reuniões institucionais; e) Preconceitos sobre o acesso à formação, isto é, quem pode ou não ingressar como analista.
Na contemporaneidade, as relações interpessoais frequentemente revelam sintomas de uma sociedade intolerante à diferença, na qual prevalece a lógica da superioridade e da inferioridade, com uma segregação social que destrói a convivência comunitária e valoriza a singularidade em detrimento da solidariedade. É por meio do desenvolvimento de ações cooperativas que podemos desmascarar os preconceitos que geram exclusões e lutar para nos libertarmos das estruturas xenófobas e racistas, que produzem políticas de racialização e fraternidades de ódio.
Palavras-chave: psicanálise na comunidade, ensino em psicanálise, preconceito, racismo
Imagem: premiação durante o Congresso IPA em Lisboa, julho/25
Categoria: Instituições psicanalíticas
Nota da Curadoria: O Observatório Psicanalítico é um espaço institucional da Federação Brasileira de Psicanálise, dedicado à escuta da pluralidade e à livre expressão do pensamento de psicanalistas. Ao submeter textos, os autores declaram a originalidade de sua produção, o respeito à legislação vigente e o compromisso com a ética e a civilidade no debate público e científico. Assim, os ensaios são de responsabilidade exclusiva de seus autores, o que não implica endosso ou concordância por parte do OP e da Febrapsi.
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