Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo
Levando a Psicanálise à comunidade em situação de catástrofe ambiental – Projeto SBPdePA de Ação Emergencial na Enchente de 2024 no RGS – Primeiro Prêmio IPA na Comunidade e no Mundo – Clima 2024/2025
Patricia Rivoire Menelli Goldfeld e Vera Elisabethe Hartmann (SBPdePA)
A psicanálise nos proporciona um instrumento de escuta e um treinamento privilegiados para auxiliar àqueles que sofreram um trauma potencialmente disruptivo. A pessoa poder se escutar, poder falar sobre o que lhe aconteceu, tendo alguém que a escute e acolha: ser escutado, muitas vezes, é tudo o que uma pessoa precisa para não ficar paralisado, assoberbado pela intensidade da experiência e pela dor das perdas vivenciadas.
A partir de abril de 2024, ocorreu uma enchente em que um total de 2.398.255 pessoas foram afetadas pelo pior desastre climático da história do RS. O Brasil inteiro se mobilizou em ações de solidariedade. A Diretoria da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre desenvolveu uma ação emergencial para atendimento gratuito, presencial nos abrigos e online, dos afetados e dos profissionais que atuavam no resgate das vítimas. Inúmeros psicanalistas e psicólogos do Brasil se integraram ao Projeto, o que resultou em 174 profissionais oferecendo de 4 a 8 sessões gratuitas. Nos primeiros 3 meses foram atendidos mais de 250 pessoas. O Projeto foi desenvolvido com encontros quinzenais no modelo Escuta da Escuta, de Faimberg.
Também recebemos ajuda do PACE da IPA. O PACE – Assistência Psicanalítica em Crises e Emergências – é um Comitê da IPA, criado em 2021, na gestão de Virginia Ungar, que oferece grupos de discussão do trabalho realizado para profissionais que atendem populações afetadas por catástrofes e guerras. O método de intervenção utilizado é o de Work Discussion Group, uma abordagem original e aplicável projetada e consolidada na Clínica Tavistock.
Este foi um período muito difícil, porque todos estávamos sofrendo as consequências da enchente, mesmo aqueles que não estavam alagados, sofriam com a falta de água e luz. E sofríamos também assistindo aquela catástrofe acontecendo a nossa volta. Como Puget aborda em seus “mundos superpostos”, os terapeutas estavam sofrendo a influência dos mesmos eventos que os atendidos.
Os terapeutas foram estimulados, desde o inicio dos trabalhos, a escreverem sobre os atendimentos, gerando inúmeros relatos. Eles também preencheram fichas semi-estruturadas, o que possibilitou uma amostra para avaliarmos os resultados do trabalho.
Ao final, devido à escassa literatura científica em psicanálise sobre trauma no caso de enchentes, elaboramos um livro: Cidades Alagadas, Mentes Inundadas, pela Editora Blucher, que será lançado agora em outubro, no Congresso da FEBRAPSI.
Palavras-chave: Enchente, Inundação, Escuta Analítica, Trauma, Catastrofe, Psicanálise Extra-muros.
Imagem: premiação durante o Congresso IPA em Lisboa, julho/25
Categoria: Instituições psicanalíticas
Nota da Curadoria: O Observatório Psicanalítico é um espaço institucional da Federação Brasileira de Psicanálise, dedicado à escuta da pluralidade e à livre expressão do pensamento de psicanalistas. Ao submeter textos, os autores declaram a originalidade de sua produção, o respeito à legislação vigente e o compromisso com a ética e a civilidade no debate público e científico. Assim, os ensaios são de responsabilidade exclusiva de seus autores, o que não implica endosso ou concordância por parte do OP e da Febrapsi.
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