Olá pessoal boa tarde,
Publicamos hoje o nono ensaio escrito por psicanalistas candidatos a nos representar no Board da IPA. O ensaio é de Gabriela Goldstein, nossa colega da APA – Associação Psicanalítica da Argentina, OP 571/2025, intitulado “Tempos ‘modernos’, hipermodernos: do caos à criatividade“.
Boa leitura a todas e todos.
Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo
Tempos “modernos”, hipermodernos: do caos à criatividade
Gabriela Goldstein – Associação Psicanalítica Argentina (APA)
Quando pensamos no mundo contemporâneo, vemos que os tempos atuais, no final do primeiro quarto do século XXI, nos confrontam com um mundo de sofrimento impensável. Esta E(e)ra, também conhecida como “Antropoceno”, expõe uma dimensão da pulsão de morte que se evidencia como uma tendência à destruição, com guerras, crises climáticas, planetárias, políticas e sociais. As recentes inundações em Bahía Blanca, os danos causados pela grande enchente no sul do Brasil no ano passado, que ainda está sendo reparada, e os incêndios na Califórnia, são apenas alguns dos desastres que nossa humanidade está vivendo em um contexto de crescente instabilidade política e social, com novas guerras e enormes números de vítimas e perdas materiais em todo o planeta. Aprendemos ao longo da História que, em tempos turbulentos, os laços com os outros se tornam frágeis e precisamos fortalecer nossa capacidade de pensar e trabalhar para sustentá-los.
De uma perspectiva psicanalítica, podemos considerar o efeito de um enfraquecimento generalizado do vínculo com o Outro, do lugar do Outro simbólico, como civilização, que nos deixa à deriva…
Em tempos de caos, também pensamos em Hamlet, de Shakespeare, quando ele diz: “The time is out of joint”. O tempo está fora da ordem porque o mundo está indo mal, e as fraturas no vínculo social são cada vez mais evidentes. Quando diz fora da ordem, ou desarticulado, demonstra que o “antigo” pacto geracional foi quebrado e que vivemos — uma declinação do Nome do pai — com a evidência de que o gozo perverso insiste. E parece não haver limite. O caos do mundo tende a minar a subjetividade e ressoa em um vazio “primordial” que vemos emergir na clínica de hoje.
O que para Derrida é a decomposição do capitalismo diante da crise da modernidade, hoje aparece como uma explosão do próprio capitalismo, disseminado pela cartografia do mundo. Este horizonte trêmulo foi denunciado pelo poeta Paul Valéry em 1919 nas suas “Cartas de França”, quando disse: “Nós, a civilização, sabemos agora que ela é mortal”. E, no entanto, surdos às forças disruptivas da modernidade, da pós-modernidade, da globalização e do fanatismo, eles não depõem suas armas, gerando efeitos em nossos mundos biopolíticos, que são inseparáveis dos psicanalíticos.
Neste contexto, como podemos restaurar um projeto de vida? Que lugar ocupa o outro na comunidade do vínculo social e do Outro do tempo primordial? A psicanálise tenta articular essa dimensão específica da subjetividade, do mundo íntimo, com a natureza fantasmática da pulsão desejante. É uma possibilidade extraordinária para resolver o sofrimento atual porque tende a combater, por meio da palavra, forças que alienam o homem de si mesmo. A psicanálise, diz Remo Bodei, “é reconhecida como uma doutrina que não rastreia a gênese das angústias persecutórias apenas em fatores peculiares da história individual, mas também as atribui ao impacto do social em ampla escala (…)”. O “social”, na época atual, passa a fazer parte da intimidade, e sua influência “configura” nosso psiquismo. Isso se evidencia nas chamadas patologias contemporâneas e na ansiedade, cuja influência, de forma imperceptível, promove atuações, adições e compulsões.
Pensamos no que se chama de “sujeito contemporâneo” e seus modos de sofrer, entendendo a perda como desamparo e vazio a partir das alterações precoces do encontro com os objetos primários de cuidado, com o Outro. Não há vida sem o Outro/outro.
Na clínica, entra em jogo a possibilidade de uma escuta ampliada, num campo analítico ampliado, no agora da transferência onde não havia resposta do Outro. E neste novo tempo e encontro, podemos iniciar uma jornada na qual se constroem as condições de possibilidade: ouvir e ser ouvido, ver, ver-nos e sermos vistos, compreender e acomodar-nos, com o outro. Dessa forma, podemos emergir de uma forma diferente, cheia de falhas, lacunas, ajustes, e ainda assim emergir como algo criativo que pode se tornar, como descreve Edmond Jabes: “um dos momentos privilegiados em que nosso precário equilíbrio se restabelece”, o que introduziria uma temporalidade plástica, estética e aberta na qual nós mesmos aparecemos.
Então, entendo que para as grandes questões que envolvem a violência, a loucura da guerra, o abuso em todas as suas formas, a discriminação e o racismo, o valor da psicanálise e, especialmente, das instituições, é essencial. Assim como nossa vasta rede institucional que nos conecta — a IPA, a FEPAL e cada um dos grupos e sociedades que nos unem — para continuar pensando juntos sobre a riqueza da diversidade, como neste espaço e dentro dos espaços institucionais que podem canalizar ansiedades e diferenças e convocar os elementos vitais e criativos que têm a função essencial de sustentar o vínculo social. Não é por acaso que grupos e organizações são os espaços onde, desde sua existência, como “continentes”, abrigam e facilitam diferentes iniciativas que protegem a subjetividade. Psicanálise, arte, educação criativa e produção científica emergem dessas tentativas individuais e grupais de coesão e vitalidade em tempos de caos social.
Com a psicanálise ampliada, o “desatado” da pulsão pode ser vinculado a um discurso mais amplo, com laços libidinais e afetivos que criam amizade, na diferença e na comunidade. Assim, o medo, a violência e a manipulação, a guerra no extremo podem ser pensados, transformados, por exemplo, em “poder” como possibilidade, de poder fazer, de fazer algo com o impensável, o terrível.
Nesse sentido, a formação analítica e a participação em seu quarto pilar (como diz S. Bolognini) – a instituição – são potencialmente capazes de sustentar espaços de elaboração de qualquer vestígio de identificações perturbadoras. A violência não tem caráter interpretável e, diante dela, o poder de compreender, de saber ou de fazer outra coisa, sublimado com ela, produz um possível efeito curativo; (P)porque entende que a psicologia individual é simultaneamente psicologia social, e que a relação indissolúvel entre sujeito e cultura (poder social) implica a constituição do superego.
Podemos então entender que Freud em sua carta a Einstein intitulada “Por que a guerra?” pergunta a ele: “Posso substituir a palavra “poder” pela mais dura e estridente violência…” Freud (1932) porque o homem é um ser cujas disposições instintivas devem incluir também uma boa porção de agressividade. No impulso de tomar o poder, o sadismo participa tanto quanto no impulso de saber. “A crueldade é algo inteiramente natural no caráter infantil; e a inibição, em virtude da qual a pulsão de apoderamento se detém diante da dor do outro — a capacidade de compadecer-se — desenvolve-se relativamente tarde.”
Qualquer coisa que promova o desenvolvimento da cultura não com base na repressão pulsional e no submetimento, mas na educação para impulsos epistemofílicos, criatividade e liberdade também funciona contra a guerra. Se Freud acreditava que a tentativa de substituir o poder real pelo poder das ideias está fadada ao fracasso hoje, creio que nós, aqui com vocês, trocando ideias, estamos convencidos de que elas podem ter algum efeito, em termos de inclusão do outro, de trabalho na diversidade e de subjetivação.
Nesse sentido, os espaços criativos são um refúgio para o sujeito. A criatividade oferece a possibilidade de se sentir vivo. Ainda mais hoje. Falar sobre criatividade é citar D.W. Winnicott, situando-o nas origens da vida psíquica, onde entram em jogo as condições de possibilidade de um primeiro vínculo entre corpo e cultura. A criatividade como experiência humana cria uma forma de vida extraordinariamente “livre”.
Corresponde à condição de estar vivo. Para Winnicott, a aceitação da vida em si é percepção criativa. É nessa linha que Winnicott então formula a existência de um “impulso criativo”. A experiência criativa envolve o impulso, no sentido de sublimação, que transcende o belo e revela a ponta do sinistro, que coloca Eros dentro de uma estrutura simbólica e produz um objeto, expropriado da subjetividade e incorporado ao mundo cultural, que é a obra. No nascimento do objeto há luto, mas também uma poética particular que marca os momentos em que a ordem anterior é quebrada. Algo de Pathos está presente. E essa presença de um certo pathos sensível no logos está implícita na possibilidade de criar, de ligar ou religar Eros e Thanatos; é a possibilidade de análise, de abertura à subjetividade e ao vínculo social.
Gostaria de comentar um exemplo: a Bienal de Veneza de 2024, que teve como título/argumento “estrangeiros em todos os lugares”. A frase vem, por sua vez, do nome de um grupo sediado em Turim que lutou contra o racismo e a xenofobia na Itália no início dos anos 2000: Stranieri Ovunque. Seu título nos transporta para uma encenação do estado atual do mundo, com populações fugindo da guerra e da fome, com aqueles excluídos por raça, religião e classe social. A Bienal convidou artistas, eles próprios estrangeiros, imigrantes, expatriados, diásporas ou refugiados, especialmente do Sul Global, não apenas geograficamente, mas também como uma metáfora para grupos que, ao longo do tempo, foram relegados.
Seu tema; “Estrangeiros por toda parte” está ligado a Freud com seu conceito de “unheimlich” desenvolvido em sua obra “O Estranho”. Unheimlich admite vários significados: é algo inquietante, perturbador, sinistro… o estranho que é também o mais familiar. No texto “O Belo e o Sinistro” de Eugenio Trías, filósofo espanhol, ele escreve que o sinistro é a condição e o limite do belo. O objeto estético carece de força e vitalidade sem sua referência ao sinistro. Deslizando de estrangeiro para estrangeiro, emerge um singular, é o que é pensado como estrangeiro, metapsicologicamente. É o que explica Adriano Pedrosa, curador brasileiro, o primeiro curador latino-americano em uma bienal de Veneza: a frase “Foreigners Everywhere” tem (no mínimo) um duplo sentido. Primeiro de tudo, onde quer que você vá e onde quer que esteja, você sempre encontrará estrangeiros: eles/nós estamos em todo lugar. Em segundo lugar, não importa onde você esteja, somos sempre, verdadeira e fundamentalmente, estrangeiros. Há algo estrangeiro em todos nós, e chamamos isso de inconsciente.
Uma primeira afirmação, da nossa perspectiva psicanalítica, nos encoraja a afirmar que o ódio e a rejeição ao estrangeiro é, de forma velada, um auto-ódio projetado. Um ódio expulso de si mesmo para salvaguardar a construção narcisista, bem como uma incapacidade de lamentar, que expõe a paranoia e os mecanismos primários de projeção… mas no mundo… mas nada disso parece alcançar…
Gostaria de concluir fazendo um chamado às crianças… a arte também nos mostra com a produção de Didi-Huberman, chamada “In the Moved Air…” no Museu Reina Sofia em Madrid. Partindo da perspectiva de uma criança, em um contexto histórico inquietante, com crianças afetadas por guerras, migrações e conflitos, a exposição explora, por meio das reflexões teóricas e gráficas de diferentes artistas e filósofos, o poder evocativo das imagens e a capacidade transformadora da emoção que transcende o individual e se torna coletiva. Com Federico García Lorca onipresente através desse olhar sobre a infância e sua noção de “duende… e brincadeira”.
Referências
Bodei, Remo. Conferência “A condição humana. Loucura e razão”. Barcelona, 25 de fevereiro de 2008. Disponível em https://www.cccb.org/es/
Derrida, J. (1978) Writing and Difference. Routledge
Didi-Huberman, G (1997) Lo que vemos, lo que nos mira, Barcelona, Manantial.
Freud, S., “Lo ominoso”, em Obras completas, Vol. XVII, Buenos Aires, Amorrortu, p. 28.
Freud, S. (1932) Porquê a Guerra? (Einstein Freud) Vol. XXII. OC. Amorrortu. P.181-198
Rancière, J. (2013). Aisthesis. Cenas do regime estético das artes, trans. Horacio Pons. Buenos Aires: Manantial.
https://www.museoreinasofia.
Winnicott, Donald W, (1951). “Realidade e jogo” “Objectos e fenómenos transicionais”, in Escritos de pediatría y psicoanálisis (1958). Buenos Aires, Paidós.
(Os textos publicados são de responsabilidade dos autores)
Categoria: Política e Sociedade; Cultura; Instituições psicanalíticas
Palavras-chave: Laços sociais, Cultura, o estranho, pulsão de morte, criatividade
Imagem: Vista da exposição “No ar comovido…” no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía. Novembro de 2024. Arquivo fotográfico do Museu Reina Sofía. À esquerda, filme de HERZ FRANK, Dez minutos mais velho, 1978.
Os ensaios do OP são postados no Facebook. Clique no link abaixo para debater o assunto com os leitores da nossa página:
https://www.facebook.com/
Nossa página no Instagram é @observatorio_psicanalitico
E para você, que é membro da FEBRAPSI e se interessa pela articulação da psicanálise com a cultura, inscreva-se no grupo de e-mails do OP para receber nossas publicações. Envie mensagem para op.febrapsi@gmail.com
______________________________________________________________________________
Texto original em espanhol
Observatório Psicanalítico OP 571/2025
Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo
Tiempos “modernos”, hiper-modernos: del caos a la creatividad
Gabriela Goldstein
Cuando pensamos el mundo contemporáneo, vemos que los tiempos actuales en final del primer cuarto de siglo XXI, nos enfrenta a un mundo de padecimientos impensables. Esta época, también llamada “Antropoceno” expone una dimensión de la pulsión de muerte que se evidencia como tendencia a la destrucción, con las guerras, las crisis climática, planetaria, política y social. Las recientes inundaciones en Bahía Blanca, los daños por la descomunal inundación en el sur de Brasil el año pasado y por la que siguen reparándose los daños, y ni que hablar de lo incendios en California, solo para nombrar algunos desastres que nuestra humanidad atraviesa en un contexto de mayor inestabilidad política y social, con nuevas guerras y enorme número de víctimas y pérdidas materiales en todo el planeta.
Hemos aprendido a lo largo de la historia que, en tiempos turbulentos, los lazos con el semejante se fragilizan y necesitamos potenciar nuestra capacidad para pensar y trabajar en su sostenimiento. Desde el Psicoanálisis, podemos pensar en el efecto de un debilitamiento generalizado del lazo con el Otro, del lugar del Otro simbólico, en tanto civilización, que nos deja a la deriva…
En tiempos de caos, también pensamos en el Hamlet de Shakespeare, cuando dice, “The time is out of joint”. El tiempo esta fuera de quicio. El mundo está fuera de quicio; fuera de quicio, desarticulado, porque el mundo va mal y las fracturas del lazo social son cada vez más evidentes. Dice “fuera de quicio”, que es decir “fuera de goznes” y esto expone que el “antiguo” pacto generacional se ha roto y que vivimos – declinación del Nombre del padre de por medio- la evidencia de que, el goce perverso, insiste. Y parece no haber limite. El caos del mundo tiende a horadar la subjetividad y resuena en un vacío “primordial” que observamos aparece en la clínica actual.
Lo que para Derrida es la descomposición del capitalismo ante la crisis de la modernidad, hoy, aparece como un estallido del mismo diseminado en la cartografía del mundo. Este horizonte estremecedor había sido denunciado por el poeta Paul Valery en 1919 en sus “cartas desde Francia” cuando dice, “nosotros, la civilización, ahora sabe que es mortal”. Y a pesar de ello, sordos a las disruptivas fuerzas de la modernidad, posmodernidad, globalización, y fanatismos, no se deponen las armas generando efectos en nuestros mundos biopolíticos, que no se separan de los psicoanalíticos.
En este contexto, ¿Como restituir un proyecto vital? ¿Qué lugar ocupa el otro de la comunidad del lazo social y el Otro del tiempo primordial? El psicoanálisis intenta articular esa dimensión específica de la subjetividad, del mundo íntimo con lo fantasmático del pulsionar deseante. Es una posibilidad extraordinaria para resolver los padecimientos actuales porque tiende a combatir, por medio de la palabra, fuerzas que extrañan al hombre de sí mismo. El psicoanálisis, dice Remo Bodei “es reconocido como una doctrina que no rastrea la génesis de las angustias persecutorias únicamente en factores peculiares de la historia individual, sino que también las adscribe a favor de lo social de vasto alcance (…)”. “lo social” en la época actual pasa a ser parte de la intimidad y su influencia “configura” nuestro psiquismo. Lo vemos en las llamadas patologías actuales y en la ansiedad, de la influencia, que imperceptiblemente promueve actuaciones, adicciones y compulsiones.
Pensamos en aquello que se nombra como el “sujeto contemporáneo” y sus modos de sufrimiento que entendemos la pérdida como desvalimiento, y como vacío a partir de las alteraciones tempranas del encuentro con los objetos primarios cuidadores, con el Otro. Es que No hay vida sin el Otro/otro.
En la clinica se pone en juego la posibilidad de una escucha ampliada, en un campo analítico ampliado, en el ahora de la transferencia donde no hubo respuesta del Otro. Y en este nuevo tiempo y encuentro podemos iniciar un recorrido en el que se van construyendo condiciones de posibilidad, para escuchar, y ser escuchado, ver, verse y ser visto, para comprender, y para ser alojado, con el otro. De este modo podemos emerger de un modo diferente, lleno de fallas, huecos, ajustes, y sin embargo que vaya surgiendo como algo creativo que puede llegar a ser, como lo describe Edmond Jabes: “uno de los momentos privilegiados en que se restablece nuestro equilibrio precario” que introduciría una temporalidad plástica, estética y abierta en la que aparecemos nosotros mismos.
Asi es, que entiendo que para las grandes preguntas que abarcan la violencia, la locura de la guerra, el abuso en todas sus formas, la discriminacion, el racismo, es esencial el valor del psicoanalisis, y especialmente de las intituciones. Como lo es nuestra gran red intitucional que nos encuentra, la IPA, la FEPAL, y cada una de los grupos y sociedades que nos entrelazan para seguir pensando juntos en la riqueza de la diversidad, como en este espacio, y dentro de los espacios institucionales que pueden canalizar las angustias, las diferencias y convocar lo vital y creativo que tienen la función sustancial de sostener el lazo social. No es casual que los grupos, las organizaciones sean los espacios donde, a partir de su existencia, en tanto “continentes”, alojen, viabilicen, diferentes iniciativas que protegen la subjetividad. El psicoanalsisi, el arte, la educación creativa, la producción científica, son emergentes de esos intentos individuales y grupales de cohesión y vitalidad en momentos de caos social.
Con el psicoanalisis ampliado, lo “desatado” de la pulsion se puede enlazar en un dicurso más amplio, con lazo libidinales, afectivos, que crean amistad, en la diferencia y en la comunidad. Así, el miedo, la violencia y la manipulación, la guerra en extremo se pueden pensar, transformar, por ejemplo “el poder” como posibilidad, de poder hacer, hacer algo con lo impensable, lo terrible.
En este sentido, la formacion analitica y la participación en su cuarto pilar (al decir de S. Bolognini) -la institución-, se presenta potencialmente capaz de sustentar espacios elaborativos de cualquier resabio de identificaciones inquietantes. La violencia no tiene un caracter interpretable y, ante ella, el poder de comprender, y saber, o hacer algo otro, sublimado con ello, produce un posible efecto curativo; Porque entiende que la psicologia individual, es simultaneamente psicologia social, y que la relacion indisoluble entre el sujeto y la cultura (poder social) entraña la constitución del superyó́.
Podemos entender entonces que Freud en su carta a Einstein llamada “¿Por qué la guerra?” le pregunta: “¿Estoy autorizado a sustituir la palabra “poder” por “violencia” más dura y estridente…” Freud (1932) porque el hombre es un ser entre cuyas disposiciones instintivas, también debe incluirse una buena porción de agresividad. En la pulsión de apoderamiento tiene participación tanto en el sadismo como en la pulsión de saber. “… La crueldad es cosa enteramente natural en el carácter infantil;y la inhibición en virtud de la cual la pulsión de apoderamiento se detiene ante el dolor del otro, la capacidad de compadecerse, se desarrolla relativamente tarde…” pero puede tomar otro camino.
Todo lo que promueva el desarrollo de la cultura que no se funde en la represión pulsional, y el sometimiento sino en una educación, hacia la pulsión epistemofílica, la creatividad y la libertad trabaja también contra la guerra. Si para Freud que el intento de sustituir el poder real por el poder de las ideas está hoy por hoy condenado al fracaso, pienso que nosotros, aquí, con ustedes, intercambiando ideas, estamos convencidos de que pueden tener algun efecto, de inclusion del otro, del trabajo en la diversidad y de subjetivación.
En este sentido, los espacios creativos son un refugio para el sujeto. La creatividad brinda la posibilidad de sentirse vivo. Mas aun, hoy. Hablar de creatividad, es citar a D.W. Winnicott, al situarla en los orígenes de la vida psíquica, donde se ponen en juego las condiciones de posibilidad de un primer lazo entre cuerpo y cultura. La creatividad como experiencia humana, funda una forma extraordinariamente “libre”, en la vida. Corresponde a la condición de estar vivo. Para Winnicott, la aceptación de la vida en sí es la apercepción creadora. Es en esta línea que, entonces, Winnicott formula la existencia de un “impulso creador”. La experiencia creativa, involucra la pulsión, en el sentido de la sublimación, que trasciende lo bello, y deja entrever el filo de lo siniestro, que va enhebrando el Eros, dentro de un marco simbólico y produce un objeto, expropiado a la subjetividad e incorporado al mundo cultural, que es la obra. En el nacimiento del objeto hay duelo, pero también una poética particular que marca los momentos en que se rompe el orden anterior. Algo del Pathos está presente. Y esta presencia de cierto pathos sensible en el logos, está implicado en la posibilidad de crear, de ligar o religar eros y thanatos, es la posibilidad del análisis, de apertura a la subjetividad y del lazo social.
Quiero comentar un ejemplo, La Bienal de Venecia 2024 que tuvo como título/argumento “extranjeros en todas partes”. La frase procede, a su vez, del nombre de un colectivo turinés que luchó contra el racismo y la xenofobia en Italia a principios de la década de 2000: Stranieri Ovunque. Su título que nos transporta a una escenificación del estado actual del mundo, con poblaciones que huyen de la guerra y del hambre, con los excluidos por raza, religión, clase social.
La Bienal Arte 2024 invitó a artistas, ellos mismo extranjeros, inmigrantes, expatriados, diaspóricos, o refugiados sobre todo del Sur Global, no solo geográfico, sino también como metáfora de los grupos que, a lo largo del tiempo, han quedado relegados.
Su tema; “Extranjeros en todas partes” se enlaza a Freud con su concepto de “unheimlich” desarrollado en su escrito “Lo siniestro”. Unheimlich admite varias significaciones: es algo intranquilizador, inquietante, siniestro… lo extraño que también lo mas familiar. En el texto “Lo bello y lo siniestro” de Eugenio Trías, filósofo español, escribe que lo siniestro es condición y límite de lo bello. El objeto estético carece de fuerza y vitalidad sin su referencia a lo siniestro.
Deslizando de extranjeros a extranjero adviene un singular, es lo pensado extranjero, metapsicológicamente. Es lo que Adriano Pedrosa, el curador brasilero, primer curador latinoamericano, explica: la frase Foreigners Everywhere tiene (al menos) un doble significado. En primer lugar, que vayas donde vayas y estés donde estés siempre encontrarás extranjeros: ellos/nosotros estamos en todas partes. En segundo lugar, que no importa dónde te encuentres, siempre, de verdad y en el fondo, somos extranjeros”. Hay algo extranjero en todos nosotros y lo llamamos el inconsciente.
Una primera afirmación, desde nuestra perspectiva psicoanalítica, nos anima a afirmar que el odio y el rechazo a lo/s extranjero/s es veladamente un odio a sí mismo proyectado. Un odio expulsado de sí mismo para salvaguardar la construcción narcisista, asi como una falla en los duelos, que exponen la paranoia y los mecanismos primarios de proyeccion… pero sobre el mundo…pero nada de esto parece alcanzar…
Quisiera terminar haciendo un llamado por lo niños… tambien el arte nos muestra con la puesta de Didi-Huberman, llamada “en el aire conmovido…” en museo Reina Sofia, en madrid partiendo de la mirada de un niño, en un contexto histórico inquietante, con niños afectados por guerras, migraciones y conflictos, la muestra explora, a través de las reflexiones teóricas y gráficas de diferentes artistas y filósofos, el poder evocativo de las imágenes y la capacidad transformadora de la emoción que trasciende lo individual y se convierte en colectiva. Con Federico García Lorca omnipresente a través de esa mirada de la infancia y su noción de «duende…y juego.
Referencias:
Bodei, Remo. Conferencia “La condición humana. La locura y la razón”. Barcelona, 25 Febrero 2008. Disponible en https://www.cccb.org/es/
Derrida, J. (1978) Writting and Difference. Routledge
Didi-Huberman, G (1997) Lo que vemos, lo que nos mira, Barcelona, Manantial
Freud, S., “Lo ominoso”, in Obras completas, Vol. XVII, Buenos Aires, Amorrortu, p. 28.
Freud, S. (1932) Por qué la guerra? (Einstein Freud) Tomo XXII. OC. Amorrortu. P.181-198
Rancière, J. (2013). Aisthesis. Escenas del régimen estético de las artes, trad. Horacio Pons. Buenos Aires: Manantial.
https://www.museoreinasofia.
Winnicott, Donald W, (1951). “realidad y juego””Objetos y fenómenos transicionales”, en Escritos de pediatría y psicoanálisis (1958). Buenos Aires, Paidós.
(Los textos publicados son responsabilidad de los autores)
Categoría: Política y Sociedad; Instituciones psicoanalíticas
Palabras claves: Lazo Social, Cultura, lo extraño, pulsión de muerte, creatividad
Imagen: Vista de la exposición “En el aire conmovido…” en el Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía. Noviembre 2024. Archivo fotográfico del Museo Reina Sofía. A la izquierda, película de HERZ FRANK, “Diez minutos más viejo”, 1978
Los ensayos del OP se publican en Facebook. Haz clic en el enlace a continuación para debatir el tema con los lectores de nuestra página:
https://www.facebook.com/
Nuestra página en Instagram es @observatorio_psicanalitico
Y para ti, que eres miembro de la FEBRAPSI y te interesa la articulación del psicoanálisis con la cultura, inscríbete en el grupo de correos del OP para recibir nuestras publicaciones. Envía un mensaje a op.febrapsi@gmail.com