Observatório Psicanalítico OP 563/2025

Bom dia 
 

Olá pessoal,

Segue a segunda publicação de ensaios de colegas candidatos a nos representar no Board da IPA. O ensaio é de Margareta Hargitay Wieser , nossa colega da Associação Venezuelana de Psicanálise (Asovep) e Instituto Latino-americano de Psicanálise (ILaP), OP 563/2025, sobre o ILap: um projeto de diversidades. 

Boa leitura a todos e todas.

Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo 

ILAP: um projeto de diversidades 

Margareta Hargitay Wieser – Associação Venezuelana de Psicanálise (Asovep) e Instituto Latino-americano de Psicanálise (ILaP) 

Em janeiro de 2006, a Associação Psicanalítica Internacional (IPA) e a Federação Psicanalítica da América Latina (Fepal) assinaram o “Memorando de Entendimento” que deu origem ao Instituto Latino-Americano de Psicanálise (ILaP).

Nos países latino-americanos que ainda não contam com sociedades da IPA – FEPAL (Federação Psicanalítica da América Latina), o Instituto Latino-Americano de Psicanálise (ILaP) cumpre a função de formar psicanalistas, a partir dos critérios definidos pela IPA, além de trabalhar na difusão da psicanálise. Ou seja, o ILaP atua nos países da América Latina onde não existem sociedades pertencentes à IPA.

No ILaP, a transmissão da psicanálise ocorre de formas muito variáveis em cada país e grupo de candidatos que acompanhamos no seu processo de formação. Os candidatos da Guatemala, Honduras, Bolívia, Equador, Nicarágua, El Salvador e Porto Rico compartilham o desejo comum de serem psicanalistas, embora cada um tenha um ideal em seu imaginário particular.  Apesar das diferenças, estes candidatos não estão desligados dos padrões internacionais, mas surgem questões: Será que pertencer às “exceções” das normas IPA na formação implica automaticamente carregar um sinal negativo de desvalorização ou pode ser entendido como uma distinção que os torna diversos e talvez especiais?

Segundo o Dicionário da Real Academia Espanhola, a palavra “exceção” vem do latim exceptione e pode ser entendida como “ação ou efeito de exceção”, o que implica exclusão, distinção ou singularidade.  Essa definição leva a questionar se as diferenças na formação psicanalítica em países com menor acesso a recursos e institutos locais, como ocorre em algumas regiões da América Latina, como os países citados, devem ser vistas como irregularidades ou como oportunidades de enriquecimento da área.

Como menciona Barahona em “Not-so-tristes tropiques”, a psicanálise na América Latina evoluiu com características próprias, moldadas pelas complexas condições sociais, políticas e culturais do continente. Ao longo do seu desenvolvimento, a psicanálise latino-americana tem integrado tradições locais, abordando as realidades particulares dos países onde é praticada, como a desigualdade, a violência política e os traumas históricos. Isso gerou uma forma de psicanálise mais conectada ao contexto dos pacientes. A adaptação destas abordagens não implica um afastamento dos princípios fundamentais da psicanálise, mas sim uma ampliação do seu campo de atuação. A “exceção” latino-americana, ao invés de representar uma ameaça aos padrões internacionais, pode ser vista como uma manifestação da riqueza cultural que a psicanálise necessita para evoluir e permanecer relevante em diferentes realidades. “Not-so-tristes tropiques” sugere que a diversidade cultural é uma fonte de inovação e que as variações na prática refletem o caráter orgânico da psicanálise, que deve adaptar-se às realidades locais sem perder a sua essência. O modelo de formação uruguaio seria um grande exemplo desta adaptação e aceitação das diversidades regionais.

Os padrões de formação procuram proteger a psicanálise da sua distorção como método. Max Eitingon, na sua tentativa de estabelecer um padrão internacional para a formação psicanalítica entre 1925 e 1929, propôs um sistema rigoroso que ainda hoje é debatido, especialmente no contexto latino-americano, onde as condições socioeconômicas e a falta de acesso a institutos locais apresentam desafios adicionais. 

Michael Schröter, no seu artigo sobre Eitingon, destaca como a luta por um padrão homogêneo encontrou resistência em vários contextos culturais. Na América Latina, as limitações de recursos obrigaram a uma reinterpretação destes modelos, adaptando-os às particularidades de cada país, sem que isso signifique um afastamento dos padrões. Esta flexibilidade permite que os modelos de formação continuem relevantes, embora ajustados às circunstâncias locais.

Marcelo Viñar em seu artigo “pensando com Freud no século XXI, eu e o outro na formação analítica” propõe refletir sobre…” a condição de herdeiros que temos antes do freudismo contém um determinismo paradoxal: a) por um lado, a lealdade ao Outro primordial que nos marcou com um nome, uma língua e um lugar na linhagem, e b) por outro lado, o desejo irreprimível de sermos únicos e criarmos a nossa própria singularidade. Ambas as tendências são tensas e perpetuadas ao longo do tempo histórico e do desenvolvimento pessoal.

Em seu ensaio “Excepcionalismo americano: um desafio para um movimento internacional”, Judith M. Hughes analisa como as diferenças culturais e contextuais afetam o treinamento psicanalítico globalmente. Hughes argumenta que o excepcionalismo regional não deve ser visto como uma ameaça, mas como um desafio para encorajar abordagens mais flexíveis e criativas. Na América Latina, este desafio não é apenas econômico, mas também cultural, onde a integração das tradições locais e das formas de pensar indígenas influencia o processo psicanalítico. Esta integração não só enriquece a prática clínica, mas também oferece novas perspectivas sobre os processos inconscientes e subjetivos, especialmente em sociedades marcadas pela violência e pela marginalização.

O artigo de Juan Francisco Artaloytia “Trazemos-lhe a peste” reflete sobre esta complexidade na formação do analista, destacando que ensinar e aprender psicanálise é sempre uma transmissão única, pessoal e irrepetível. O processo de formação não pode ser simplesmente uma replicação de padrões; Deve ser adaptado às particularidades de cada indivíduo e contexto. Este é um processo dinâmico que depende em grande parte da relação entre o analista em formação e a sua análise pessoal, elo essencial para o seu desenvolvimento. A ideia de que a formação psicanalítica deve ser única em sua singularidade para cada analista em formação não reflete apenas variações culturais, mas também subjetivas, permitindo que cada processo de formação seja personalizado e enriquecedor.

Esta abordagem personalizada à formação é particularmente relevante num contexto como o da América Latina, onde as diferenças culturais e socioeconômicas podem ser significativas. Por exemplo, em países onde os recursos para a formação psicanalítica são escassos, os candidatos devem encontrar formas criativas de continuar a sua educação e desenvolvimento. Em alguns casos, isto pode envolver a utilização de recursos online, a participação em seminários internacionais ou a procura de supervisores fora do seu país de origem. Estas adaptações, longe de serem um sinal de fraqueza, podem na verdade fortalecer o processo de formação, forçando os candidatos a serem mais proativos e a desenvolverem maior autonomia na sua aprendizagem.

Nesse sentido, o desafio para quem ensina psicanálise na América Latina e no ILaP reside particularmente na compreensão das diferenças locais e como estas interagem com os modelos de formação estabelecidos. Embora existam padrões, a transmissão psicanalítica adapta-se às particularidades de cada indivíduo e contexto, tornando a relação entre o analista em formação e sua análise didática essencial para o seu desenvolvimento. Esse processo dinâmico garante que cada experiência formativa seja personalizada, enriquecendo tanto o analista quanto o campo psicanalítico em geral.

Um exemplo desta adaptação na formação é o uso crescente de seminários online na América Latina, devido à falta de institutos locais da IPA em muitos países. Esta modalidade traz desafios importantes, mas isso não significa menor qualidade na transmissão do conhecimento. Judith M. Hughes sugere que estas excepções não devem ser vistas como desvios, mas antes como adaptações necessárias num contexto global em constante mudança. O ensino online oferece aos analistas em formação a possibilidade de ouvir uma multiplicidade de vozes e também de participar de uma comunidade psicanalítica, independentemente das distâncias geográficas.

Privilegiar o estudo de seminários online devido à falta de institutos locais não diminui a profundidade ou o rigor das discussões. Cada seminário é implementado com especial cuidado, procurando não só a transmissão eficaz de conhecimentos, mas também a participação ativa dos candidatos através das suas reflexões e questionamentos. Além disso, fomenta-se um sentimento de pertencimento não apenas em nível local, mas também em uma comunidade mais ampla da psicanálise latino-americana, promovendo uma discussão que respeita as diferenças culturais entre os países da região.

A expansão dos seminários online permitiu que a formação psicanalítica chegasse a lugares onde antes seria impensável. Esta modalidade de ensino não só facilita o acesso ao conhecimento, mas também promove maior interação entre candidatos de diferentes países e contextos.  Essa diversidade no corpo discente pode enriquecer as discussões e proporcionar uma variedade de perspectivas que talvez não sejam alcançadas em um ambiente mais homogêneo. Além disso, os seminários online permitem flexibilidade que é crucial em regiões onde os horários de trabalho ou as responsabilidades familiares podem dificultar a frequência às aulas presenciais.

Ser capaz de ter maior frequência semanal e continuidade nas suas análises pessoais online significa que a análise é de segunda classe? Esta questão permanece em debate, mas muitos psicanalistas acreditam que é possível manter o ambiente psicanalítico online, preservando a vitalidade do vínculo analítico e permitindo que o trabalho dentro da transferência e da contratransferência permaneça produtivo. O desafio é confiar no processo, no casal analítico, como algo vivo e transformador, em vez de ver a virtualidade como uma limitação que distorce o método psicanalítico.

A formação analítica baseia-se no tripé que inclui análise pessoal de alta frequência, duas supervisões oficiais de pacientes em tratamento de alta frequência e um mínimo de seminários teórico-técnico-clínicos. A isso se soma o que hoje é considerado um quarto eixo: pertencer a um instituto, que proporciona uma importante transferência positiva e negativa, e permite ao analista em formação sentir-se parte de uma comunidade psicanalítica onde pode crescer e receber feedback de seus colegas. No entanto, num ambiente tão diverso como a América Latina, o verdadeiro desafio reside na forma como estes padrões se adaptam às realidades locais sem comprometer a qualidade do processo de formação.  Em vez de ver estas adaptações como uma desvalorização, devem ser vistas como uma força que enriquece a psicanálise e a mantém viva e transformadora, garantindo a sua relevância num mundo que continua a mudar rapidamente.

Para concluir, entendemos a transmissão e a formação psicanalítica como uma transmissão individual, única, particular e irrepetível que se baseia nesses padrões, mas que se transforma criativamente em cada processo de formação psicanalítica. Cada analista em formação vive e vivencia sua formação psicanalítica de forma individual e particular; ela será sempre única, apesar de passar por padrões mínimos, porque é pessoal e humana; depende principalmente da sua história pessoal e da sua análise didática pessoal. Em cuja dupla se estabelecerá um vínculo analítico único e irrepetível. 

Além disso, procuramos fomentar um sentimento de pertencimento não apenas localmente como o país em que trabalhamos, mas também gerar um sentimento de pertencimento à psicanálise latino-americana. 

Queremos transmitir o conteúdo e gerar uma discussão profunda sem gerar nos analistas formadores o sentimento de não respeitar suas diferenças culturais mesmo dentro da América Latina, queremos evitar que preconceitos intrarregionais, muitos deles inconscientes do professor docente, afetem o analista formador durante o seu processo. Como podemos perceber, os desafios são grandes, mas também geram um compromisso ético de formar os melhores psicanalistas possíveis.

Bibliografia

Artaloytia, J.F.  (2024).  “Nós trazemos a praga para você.”  reflexões sobre a complexidade da formação do analista.  trabalho apresentado na APU

Barahona, R.  (2018).  “Trópicos não tão tristes: Psicanálise Latino-Americana – Psicanálise Latino-Americana Contemporânea”: Volume 1. Associação Psicanalítica Argentina 

Hughes, JM (2011).  Livro “Excepcionalismo americano: um desafio a um movimento internacional”

100 anos da IPA

1ª Edição, Routledge

ROYAL ACADEMIA ESPAÑOLA (2024): Dicionário da língua espanhola, 23ª ed., [versão online 23.7].  <https://dle.rae.es> (2024)

Schroter, M. (2002).  “Max Eitingon e a luta para estabelecer um padrão internacional para a formação psicanalítica” (1925-1929).  (2002).  Int. J. Psicanal., (83)(4):875-893

Viñar, M (2020) “Pensar com Freud no século XXI o eu e o outro na formação analítica”.  Revista Uruguaia de Psicanálise (online) (130-131): 68-75 issn 1688 – 7247

(Os textos publicados são de responsabilidade dos autores)

Categoria: Instituições psicanalíticas 

Palavras-chave: formação, exceção, diversidade, singularidade, transferência

Imagem: Grupo Diretor do ILAP, Eduardo Kopelman (Córdoba Argentina), Margareta Hargitay (Asovep-Venezuela), Susana Balparda (APU-Uruguay), Anabel Rodríguez (APU-Uruguay), Helena Surreaux (Porto Alegre – Brasil), Regina Elisabeth Coimbra (São Paulo- Brasil), Yanitza Morante (secretaria).

Os ensaios do OP são postados no Facebook. Clique no link abaixo para debater o assunto com os leitores da nossa página: 

 https://www.facebook.com/share/p/168RzvSX7E/?mibextid=wwXIfr

Nossa página no Instagram é @observatorio_psicanalitico

E para você, que é membro da FEBRAPSI e se interessa pela articulação da psicanálise com a cultura, inscreva-se no grupo de e-mails do OP para receber nossas publicações. Envie mensagem para op.febrapsi@gmail.com

__________________________________________________________________________________________

Trabalho escrito originalmente em espanhol, conforme a seguir:

Observatorio Psicoanalítico OP 563/2025

Ensayos sobre acontecimientos sociopolíticos, culturales e institucionales de Brasil y del Mundo

ILaP: un proyecto de diversidades

Margareta Hargitay Wieser (Asovep e ILaP)

En enero de 2006 la Asociación Psicoanalítica Internacional (IPA) y la Federación Psicoanalítica Latinoamericana (Fepal) firmaron el Memorándum de Entendimiento que dio origen al Instituto Latinoamericano de Psicoanálisis (ILAP)

En los países latinoamericanos que todavía no cuentan con sociedades de la IPA – FEPAL (Federación Psicoanalítica de América Latina), el Instituto Latinoamericano de Psicoanálisis (ILAP) cumple la función de formar psicoanalistas, a partir de los criterios definidos por la IPA, además de trabajar en la difusión del psicoanálisis. Es decir que ILAP trabaja en los países de América Latina donde no existen sociedades pertenecientes a la IPA.

En ILAP, la transmisión del psicoanálisis discurre de maneras muy variables en cada país y grupo de candidatos que acompañamos en su proceso de formación. Los candidatos de Guatemala, Honduras, Bolivia, Ecuador, Nicaragua, El Salvador y Puerto Rico comparten un deseo común de ser psicoanalistas, aunque cada uno tenga un ideal en su imaginario particular. A pesar de las diferencias, estos candidatos no están desvinculados de los estándares internacionales, pero surgen interrogantes: ¿Pertenecer a las “excepciones” de los estándares de la IPA en la formación implica automáticamente llevar un signo negativo de devaluación o podrá entenderse como una distinción que les hace diversos y tal vez especiales? 

Según el Diccionario de la Real Academia Española, la palabra “excepción” proviene del latín exceptionis, y puede entenderse como una “acción o efecto de exceptuar”, lo que implica una exclusión, distinción o singularidad. Esta definición lleva a cuestionar si las diferencias en la formación psicoanalítica en países con menos acceso a recursos y a institutos locales, como ocurre en algunas regiones de América Latina como los países antes mencionados deben verse como irregularidades o como oportunidades para enriquecer el campo.

Tal como lo menciona Barahona en “Not-so-tristes tropiques”, el psicoanálisis en América Latina ha evolucionado con características propias, moldeadas por las complejas condiciones sociales, políticas y culturales del continente. A lo largo de su desarrollo, el psicoanálisis latinoamericano ha ido integrando tradiciones locales, abordando las realidades particulares de los países donde se practica, como la desigualdad, la violencia política y los traumas históricos. Esto ha generado una forma de psicoanálisis más conectada con los contextos de los pacientes. La adaptación de estos enfoques no implica un alejamiento de los principios fundamentales del psicoanálisis, sino una expansión de su campo de acción. La “excepción” latinoamericana, en lugar de representar una amenaza para los estándares internacionales, puede verse como una manifestación de la riqueza cultural que el psicoanálisis necesita para evolucionar y mantenerse relevante en distintas realidades. “Not-so-tristes tropiques” sugiere que la diversidad cultural es una fuente de innovación, y que las variaciones en la práctica reflejan el carácter orgánico del psicoanálisis, que debe adaptarse a las realidades locales sin perder su esencia. El modelo de formación uruguayo sería un gran ejemplo de esta adaptación y aceptación de las diversidades regionales.

Los estándares de formación buscan proteger al psicoanálisis de su desvirtuación como método. Max Eitingon, en su intento de establecer un estándar internacional para la formación psicoanalítica entre 1925 y 1929, propuso un sistema riguroso que aún hoy se discute, especialmente en el contexto latinoamericano, donde las condiciones socioeconómicas y la falta de acceso a institutos locales presentan desafíos adicionales. 

Michael Schröter, en su artículo sobre Eitingon, destaca cómo la lucha por un estándar homogéneo encontró resistencias en diversos contextos culturales. En América Latina, las limitaciones de recursos han forzado una reinterpretación de estos modelos, adaptándolos a las particularidades de cada país, sin que esto signifique un alejamiento de los estándares. Esta flexibilidad permite que los modelos formativos sigan siendo relevantes, aunque ajustados a las circunstancias locales.

Marcelo Viñar en su artículo “Pensando con Freud en el Siglo XXI. Yo y el otro en la formación analítica” propone reflexionar sobre…” la condición de herederos que tenemos ante el freudismo contiene un determinismo paradojal: a) por una parte, la lealtad al Otro primordial que nos marcó con un nombre, una lengua y un lugar en el linaje y b) por contraparte, el anhelo irrefrenable de ser únicos y crear nuestra propia singularidad. Ambas tendencias se tensan y perpetúan a lo largo del tiempo histórico y del desarrollo personal”

En su ensayo “American Exceptionalism: A Challenge to an International Movement”, Judith M. Hughes analiza cómo las diferencias culturales y contextuales afectan la formación psicoanalítica a nivel global. Hughes plantea que la excepcionalidad regional no debería ser vista como una amenaza, sino como un desafío para fomentar enfoques más flexibles y creativos. En América Latina, este desafío no es solo económico, sino también cultural, donde la integración de tradiciones locales y formas de pensamiento autóctonas influye en el proceso psicoanalítico. Esta integración no solo enriquece la práctica clínica, sino que también ofrece nuevas perspectivas sobre el inconsciente y los procesos subjetivos, especialmente en sociedades marcadas por la violencia y la marginalización.

El artículo de Juan Francisco Artaloytia “Les traemos la peste” reflexiona sobre esta complejidad en la formación del analista, resaltando que enseñar y aprender psicoanálisis es siempre una transmisión única, personal e irrepetible. El proceso formativo no puede ser simplemente una replicación de estándares; debe adaptarse a las particularidades de cada individuo y contexto. Este es un proceso dinámico que depende en gran medida de la relación entre el analista en formación y su análisis personal, un vínculo que es esencial para su desarrollo. La idea de que la formación psicoanalítica debe ser única en su singularidad para cada analista en formación no solo refleja las variaciones culturales, sino también las subjetivas, permitiendo que cada proceso formativo sea personalizado y enriquecedor.

Este enfoque personalizado en la formación es particularmente relevante en un contexto como el latinoamericano, donde las diferencias culturales y socioeconómicas pueden ser significativas. Por ejemplo, en países donde los recursos para la formación psicoanalítica son escasos, los candidatos deben encontrar formas creativas de continuar su educación y desarrollo. En algunos casos, esto puede implicar el uso de recursos en línea, la participación en seminarios internacionales, o la búsqueda de supervisores fuera de su país de origen. Estas adaptaciones, lejos de ser una señal de debilidad, pueden en realidad fortalecer el proceso formativo al obligar a los candidatos a ser más proactivos y a desarrollar una mayor autonomía en su aprendizaje.

En este sentido, el reto para quienes enseñan psicoanálisis en América Latina y en ILaP particularmente radica en entender las diferencias locales y en cómo estas interactúan con los modelos de formación establecidos. Aunque existen estándares, la transmisión psicoanalítica se adapta a las particularidades de cada individuo y contexto, haciendo que la relación entre el analista en formación y su análisis didáctico sea esencial para su desarrollo. Este proceso dinámico asegura que cada experiencia formativa sea personalizada, enriqueciendo tanto al analista como al campo psicoanalítico en general.

Un ejemplo de esta adaptación en la formación es el uso creciente de seminarios online en América Latina, debido a la falta de institutos de IPA locales en muchos países. Esta modalidad trae desafíos importantes, pero no por ello implica una menor calidad en la transmisión del conocimiento. Judith M. Hughes sugiere que estas excepciones no deben verse como desviaciones, sino como adaptaciones necesarias en un contexto global en constante cambio. La enseñanza online le ofrece la posibilidad de escuchar multiplicidad de voces a los analistas en formación y además participar en una comunidad psicoanalítica, independientemente de las distancias geográficas.

Privilegiar el estudio de seminarios por vía online debido a la falta de institutos locales no disminuye la profundidad o el rigor de las discusiones. Cada seminario es implementado con un cuidado especial, buscando no solo la transmisión efectiva de conocimientos, sino también la participación activa de los candidatos a través de sus reflexiones y cuestionamientos. Además, se fomenta un sentido de pertenencia no solo a nivel local, sino a una comunidad más amplia del psicoanálisis latinoamericano, promoviendo una discusión que respete las diferencias culturales entre los propios países de la región.

La expansión de los seminarios online ha permitido que la formación psicoanalítica llegue a lugares donde anteriormente hubiera sido impensable. Esta modalidad de enseñanza no solo facilita el acceso al conocimiento, sino que también promueve una mayor interacción entre candidatos de diferentes países y contextos. Esta diversidad en el alumnado puede enriquecer las discusiones y aportar una variedad de perspectivas que quizás no se lograrían en un entorno más homogéneo. Además, los seminarios online permiten una flexibilidad que es crucial en regiones donde los horarios de trabajo o las responsabilidades familiares pueden dificultar la asistencia a clases presenciales.

¿Lograr tener mayor frecuencia semanal y continuidad en sus análisis personales vía online significa que el análisis es de segunda categoría? Esta pregunta sigue siendo motivo de debate, pero muchos psicoanalistas consideran que es posible mantener el encuadre psicoanalítico online, preservando la vitalidad del vínculo analítico y permitiendo que el trabajo dentro de la transferencia y contratransferencia siga siendo productivo. El desafío está en confiar en el proceso, en la pareja analítica como algo vivo y transformador, en lugar de ver la virtualidad como una limitación que distorsiona el método psicoanalítico.

La formación analítica se basa en el trípode que comprende el análisis personal de alta frecuencia, dos supervisiones oficiales de pacientes en tratamiento de alta frecuencia, y un mínimo de seminarios teórico-técnico-clínicos. A esto se añade lo que hoy en día se considera un cuarto eje: la pertenencia a un instituto, que proporciona una importante transferencia positiva y negativa, y permite al analista en formación sentirse parte de una comunidad psicoanalítica donde puede crecer y retroalimentar se con sus colegas. Sin embargo, en un entorno tan diverso como el latinoamericano, el verdadero desafío radica en cómo estos estándares se adaptan a las realidades locales sin comprometer la calidad del proceso formativo. En lugar de ver estas adaptaciones como una devaluación, deben ser vistas como una fortaleza que enriquece el psicoanálisis y lo mantiene vivo y transformador, asegurando su relevancia en un mundo que sigue cambiando rápidamente.

Para concluir, entendemos la transmisión y formación psicoanalítica como una transmisión individual, única, particular e irrepetible que se basa en esos estándares pero que se transforma creativamente en cada proceso de formación psicoanalítica. Cada analista en formación vive y experimenta su formación psicoanalítica en forma individual y particular, siempre será única a pesar de pasar por unos estándares mínimos porque es personal y humana. Depende en su mayoría de su historia personal y de su análisis personal didáctico. En cuya dupla se establecerá un vínculo analítico único e irrepetible. 

Además, buscamos fomentar un sentido de pertenencia no solo local como país en el que trabajamos sino generar un sentido de pertenencia al psicoanálisis Latinoaméricano. 

Deseamos transmitir el contenido y generar una discusión profunda sin generar en los analistas en formación la sensación de no respetar sus diferencias culturales incluso dentro de Latinoamérica, queremos evitar que los prejuicios intrarregionales, muchos de ellos inconscientes del docente didacta, afecten al analista en formación durante su proceso. Cómo podemos ver los retos son grandes, pero también generan un compromiso ético de formar los mejores psicoanalistas posibles.

Bibliografía 

Artaloytia, J. F. (2024). Les traemos la peste.” Reflexiones sobre lo complejo de la formación del analista. Trabajo presentado en APU

Barahona, R. (2018). “Not-so-tristes tropiques: Latin American Psychoanalysis – Psicoanálisis latinoamericano contemporáneo”: Volumen 1. Asociación Psicoanalítica Argentina 

Hughes, J. M. (2011). “American exceptionalism: A challenge to an international movement” Book

100 Years of the IPA

1st Edition, Routledge

REAL ACADEMIA ESPAÑOLA (2024): Diccionario de la lengua española, 23.ª ed., [versión 23.7 en línea]. <https://dle.rae.es> (2024)

Schröter, M. (2002). “Max Eitingon and the Struggle to Establish an International Standard for Psychoanalytic Training” (1925-1929). (2002). Int. J. Psychoanal., (83)(4):875-893

Viñar, M (2020) “Pensando con Freud en el Siglo XXI.Yo y el otro en la formación analítica”. Revista uruguaya de Psicoanálisis (en línea) (130-131): 68-75 issn 1688 – 7247

(Los textos publicados son responsabilidad de los autores)

Categoría: Instituciones Psicoanalíticas

Palabras claves: formación, excepción, diversidad, singularidad,

Imagen: Directiva de ILAP: Eduardo Kopelman (Córdoba Argentina), Margareta Hargitay (Asovep-Venezuela), Susana Balparda (APU-Uruguay), Anabel Rodríguez (APU-Uruguay), Helena Surreaux (Porto Alegre – Brasil), Regina Elisabeth Coimbra (São Paulo- Brasil), Yanitza Morante (secretaria).

Los ensayos del OP se publican en Facebook. Haz clic en el enlace a continuación para debatir el tema con los lectores de nuestra página: https://www.facebook.com/share/p/168RzvSX7E/?mibextid=wwXIfr

Nuestra página en Instagram es @observatorio_psicanalitico

Tags: diversidade | Exceção | formação | singularidade | transferência
Share This