Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo
Uma questão de perspectiva
Mariano Horenstein – APC
(Este texto, publicado a convite da equipe curatorial da OP, é uma versão resumida da minha intervenção na mesa em que, durante o último Congresso da FEPAL no Rio de Janeiro, debatemos com Luciana Saddi e Julio Hirschhorn, com a coordenação de Rodrigo Lage Leite, sobre os riscos do fanatismo na formação analítica)
Grande parte da controvérsia na história do movimento psicanalítico tem sido sobre questões de formação. Os debates centrais nos últimos tempos têm girado em torno de diferenças nos chamados “standards”. Seja quando três modelos foram discutidos e finalmente aprovados em vez de um, o modelo clássico chamado Eitingon; ou quando se concordou com a frequência de três a cinco sessões semanais, em vez das quatro exigidas pelo modelo clássico; ou mesmo no debate sobre a análise de formação à distância, o foco principal da discussão internacional gira em torno do que queremos dizer com formação analítica.
Tentarei distinguir, dentro do maremagnum de opiniões e tradições sedimentadas durante mais de cento e vinte anos de psicanálise, as questões centrais em jogo, a fim de nos preservar tanto do desejo de reinventar o que já foi inventado, quanto da adoção de uma posição inercial e acrítica com relação à tradição. Formularei essas ideias como perguntas. Nossas respostas -sempre provisórias- dependerão de uma questão de perspectiva.
A perspectiva é uma invenção renascentista do arquiteto e pintor Filippo Brunelleschi. Até ele, era difícil representar a profundidade das coisas em um plano. Diferentes estratégias foram usadas, mas as imagens medievais sempre revelavam sua incapacidade de assumir volume e realismo, permanecendo planas. Há seiscentos anos, algo mudou.
Vamos pensar, ao introduzir a perspectiva no formação dos analistas, em três ideias-eixo:
1 – Em toda perspectiva, é traçada uma linha do horizonte. Qual é o horizonte na formação de um psicanalista? O que distingue a formação analítica?
Formar um analista não é o mesmo que formar outro tipo de profissional. De fato, o local tradicional de treinamento -a universidade- não treina analistas. Por ser uma disciplina nova, os pioneiros treinaram da melhor forma possível, em torno de Freud, guiados por um entusiasmo invejável. Foi somente na década de 1920, em Berlim e sob a orientação de Max Eitingon, que certas regras foram codificadas para ser reconhecido como analista. E essas regras são, sem dúvida, importantes. Basta pensar no que acontece no Brasil, onde são oferecidos cursos de seis meses para se tornar um “analista”, ou na Argentina, onde quem vai se deitar entre almofadas em uma terapia “new age” diz que “vai ao seu analista”, ou na leveza com que muitos colegas lacanianos decidem “se autorizar” a se tornar analistas… Os riscos, evidentemente, são muitos.
Mas também há riscos em tornar rígido o que deveria ser móvel, em transformar princípios em regras ou regras em regulamentos, ou em fetichizar muitos standards que, seja por causa de sua origem “prussiana” ou por causa da formalidade britânica em sua implantação global, às vezes ameaçam o frescor que deve ser preservado. Kernberg disse, há quarenta anos, que os institutos analíticos estavam em algum lugar entre um mosteiro e uma faculdade técnica, quando deveriam estar em algum lugar entre uma universidade e uma academia de arte.
Todas as orientações analíticas concordam em uma coisa (uma concordância na psicanálise é tão excepcional que merece ser sublinhada), para formar analistas é necessário um tripé: treinamento teórico, supervisões, análise pessoal.
2 – Qual é o centro de gravidade do treinamento analítico e, portanto, de qualquer modelo proposto para realizá-lo?
Se existe um centro de gravidade no tripé, ele é a análise do analista. É nesse pilar, que é a espinha dorsal do treinamento, que se encontram os maiores riscos. Um deles é o fanatismo como efeito. Isso tem a ver com a maneira como se pensa sobre a direção da cura e, acima de tudo, sobre o fim da análise. Não é difícil saber que algo deu errado se, ao final de uma análise didática, o resultado for um fã (do analista, de uma escola teórica ou qualquer outra coisa). Justamente aí, onde o pensamento crítico, o questionamento de ideais e a construção de um estilo próprio deveriam ser incubados.
A estrutura de uma análise intensa -e toda análise formativa é- intensifica a transferência, em particular seus efeitos de fascinação.
Vejamos a fenomenologia das instituições: nomear o analista com quem se trabalhou tornou-se uma senha de distinção, como se quanto mais notável o analista, melhor o treinamento. Não é assim: o analista, no exercício de sua função, não é o mesmo sujeito, mais ou menos notável, que escreve e dá aulas, mas apenas um objeto. A pergunta deveria soar obscena: com quem você se analisa? Mas se não é, se até a fazemos, é porque muitas vezes ela diz muito sobre a pessoa que está sendo analisada, funciona como uma chave de leitura.
Às vezes, nem precisamos perguntar, porque reconhecemos a marca do analista só de ver o analisando andando ou de ouvi-lo falar ou citar. O risco é a paixão fanática pela identificação, que se esconde nas análises de formação. Nos seminários e nas supervisões, em menor grau, a terceiridade -dos colegas, do paciente supervisionado- atua como um limite para a complacência identificatória. Tampouco resolve as coisas pensar na instituição como um terceiro que limita essa paixão perigosa, pois quanto menos a instituição interferir em uma análise, melhor será o seu progresso.
O único limite para a coalescência narcísica -que reproduz os fãs- está na mente do analista, atravessado por sua própria análise, e é chamado de Castração, a proibição do incesto, que não equivale apenas a abster-se de relações sexuais com os pacientes, mas também a evitar fazer do outro um objeto próprio. Infelizmente, isso nem sempre acontece.
Às vezes, um analista que se arrepende ter escolhido uma profissão que não permite tanto brilho social, uma profissão que é praticada quase incógnita, encontra no exercício do didatura uma maneira de compensar sua falta, orgulhando-se de contar seus candidatos em análise como discípulos. Quando cada analisando tem um analista diferente, mesmo que tenham o mesmo nome, assim como os pais são diferentes para cada filho, mesmo que tenham o mesmo sobrenome.
Quer queiramos ou não, o analista como tal é apenas um objeto, um nada e, no final de uma cura, um resto esquecível. É por isso que, se quisermos fazer bem nosso trabalho, nós, analistas, devemos nos acostumar a ser abandonados. Devemos saber perder aqueles que confiaram em nós durante anos.
3 – Descontando o espaço do variável de acordo com as diferentes tradições analíticas, o que deve ser preservado na formação, sob o risco de invalidar seus fundamentos? Voltemos à ideia de perspectiva. O que a ordena em sua representação gráfica é chamado de ponto de fuga.
Em um casal que às vezes “funciona” melhor do que qualquer outro casal, o maior risco da análise é a coalescência narcísica, mas quando o tempo dilui a assimetria necessária, ou quando o lugar institucional do analista ou sua própria história transferencial se torna um obstáculo para seus analisandos. Vamos dizer isso de uma vez por todas: o maior risco em uma análise formativa é a endogamia.
Se o prefixo “endo” for problemático, o antídoto deve ser buscado no “exo”. Em qualquer modelo formativo, portanto, o que deve ser privilegiado é que o ponto de fuga -aquilo que torna algo verdadeiramente em perspectiva, ou seja, que adquire volume, voo, que alguém possa respirar ali- esteja distante do restante das variáveis.
O que isso significa em cada modelo de formação, em cada estilo institucional, é algo a se pensar, mas entendo que, sem essa distância, uma análise de formação corre o risco de fracassar. E o fracasso às vezes é encarnado em um fã, um fanático, alguém que não foi atravessado pela experiência do inconsciente.
Talvez valha a pena dar um exemplo do que estou tentando mostrar: eu mesmo e minhas análises. Não se preocupe: não vou compartilhar com você minhas lamentações neuróticas ou os motivos que me levaram a me analisar. Compartilharei apenas duas notas com relação às duas análises que fiz. Ambas duraram bastante tempo, pelo menos uma dúzia de anos cada.
A primeira, que iniciei por necessidade e depois transformei em uma análise didática, foi de alta frequência, com quatro sessões por semana, mesmo sem requisitos institucionais em jogo. Após o treinamento, ele continuou. E se eu tiver que pensar em perspectiva, o período menos fértil dessa análise, conduzida por um analista da instituição em que eu estava ingressando graças à mesma análise, foram os anos didáticos. Essa análise foi muito mais útil para mim antes e depois do que durante minha formação. Além dos fatores individuais, devemos pensar no risco de as instituições estarem presentes demais nas análises de formação. Depois de concluí-la, minha transferência -para o analista, para a instituição e até mesmo para a própria psicanálise- não era das melhores.
Anos depois, iniciei outra análise. Escolhi outro analista, de outra instituição, de outra cidade, com referências diferentes das minhas. Essa outra análise, com um analista tão distante quanto o ponto de fuga com o qual eu desenhava minha instituição, paradoxalmente, fez com que eu recuperasse minha transferência para a psicanálise e para as instituições às quais ainda hoje, com entusiasmo, pertenço.
Devemos a nós mesmos discutir quando -por falta de perspectiva- uma análise de formação se aplana. Devemos descobrir antídotos para evitar o fanatismo institucional, para diminuir o risco de que os Institutos produzam, em vez de analistas com um estilo único, analistas em série, clones de sua didata. Em minha experiência -como analisando, como analista, como ex-diretor de um Instituto de Formação- pensar no analista a partir do lugar mais estrangeiro possível -em termos institucionais, teóricos ou mesmo nacionais- tem funcionado como um possível antídoto. A análise é um espaço heterotópico. Esse espaço de jogo e trabalho, de liberdade e pensamento crítico, alheio a qualquer outra lógica que não a analítica, deve ser preservado. Até mesmo dos analistas.
(Os textos publicados são de responsabilidade dos autores)
Categoria: Instituições Psicanalíticas
Palavras-chave: perspectiva, ponto de fuga, linha de horizonte, análise de formação
Imagem: Fillippo Brunelleschi (1379-1446)
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Texto original em espanhol
Observatorio Psicoanalítico – OP 536/2024
Ensayos sobre acontecimientos sociopolíticos, culturales e institucionales en Brasil y en el Mundo
Una cuestión de perspectiva
Mariano Horenstein – APC
Buena parte de las controversias que se han dado en la historia del movimiento psicoanalítico se han debido acuestiones atinentes a la formación. Los debates centrales en los últimos tiempos han girado en torno a diferencias en cuanto a los llamados standards. Sea cuando se discutieron y finalmente aprobaron tres modelos en vez de uno, el clásico llamado Eitingon; o cuando se consensuó la frecuencia de tres a cinco sesiones semanales, en vez de las cuatro que exigía el modelo clásico; o incluso en el debate en torno a los análisis de formación a distancia, el eje más álgido de la discusión internacional gira en lo que entendemos por formación analítica.
Intentaré distinguir, dentro del maremágnum de opiniones y tradiciones sedimentadas durante más de ciento veinte años de psicoanálisis, las cuestiones centrales en juego, parapreservarnos tanto del anhelo de reinventar lo ya inventado, como de adoptar una posición inercial y acrítica con respecto a la tradición. Formularé esas ideas como preguntas. Nuestras respuestas -siempre provisionales- dependerán de una cuestión de perspectiva.
La perspectiva es un invento renacentista del arquitecto y pintor Filippo Brunelleschi. Hasta él, era difícil representar la profundidad de las cosas en un plano. Se apelaba a distintas estrategias, pero siempre las imágenes medievales revelaban su impotencia para cobrar volumen y realismo, permaneciendo planas. Seiscientos años atrás, algo cambió.
Pensemos, introduciendo la perspectiva en la formación de los analistas, en tres ideas-eje:
1 – En toda perspectiva, se dibuja una línea de horizonte. ¿Cuál es el horizonte en la formación de un psicoanalista?¿Qué distingue a la formación analítica?
Formar un analista no es lo mismo que formar otro tipo deprofesional. De hecho, el lugar tradicional de formación -la universidad- no forma analistas. Al ser una disciplina nueva, los pioneros se formaban como podían, en torno a Freud, orientados por un entusiasmo envidiable. Recién en la década del ´20, en Berlín y de la mano de Max Eitingon se codifican ciertas reglas a cumplir para ser reconocido como analista. Y esas reglas son sin duda importantes. Basta pensar en lo que sucede en Brasil, donde se ofrecen cursos de seis meses para convertirse en “analista”, o en Argentina, donde cualquiera que va a tenderse entre almohadones en una terapia new age dice que ”va a lo de su analista”, o en la liviandad con que muchos colegas lacanianos deciden “autorizarse a sí mismos” para convertirse en analistas…Los riesgos, claramente, son muchos.
Pero también acechan riesgos al convertir en rígido lo que debería ser móvil, transformar principios en reglas o reglas en reglamentos, o fetichizar demasiado standards que, sea por su marca de origen “prusiana” como como la formalidad británica en su despliegue global, a veces atenta contra la frescura que es preciso preservar. Kernberg decía, cuarenta años atrás, que los institutos analíticos se encontraban en algún lugar entre un monasterio y un colegio técnico, cuando deberían estar entre una universidad y una academia de arte.
Todas las orientaciones analíticas acuerdan en algo (un acuerdo en psicoanálisis es tan excepcional que merece subrayarse), para formar analistas hace falta un trípode: formación teórica, supervisiones, análisis personal.
2 – ¿Cuál es el centro de gravedad de la formación analítica, y por ende de cualquier modelo propuesto para llevarla a cabo?
Si hubiera un centro de gravedad en el trípode, es el análisis del analista. En esa columna que vertebra la formación, es donde se dan los mayores riesgos. Uno de ellos es el fanatismo como efecto. Tiene que ver con cómo se piensa la dirección de la cura y sobre todo el final de los análisis. No es difícil saber que algo anduvo mal si al cabo de un análisis didáctico el resultado es un fan (del analista, de una escuela teórica o de lo que sea). Justo allí, donde debería incubarse el pensamiento crítico, la puesta en cuestión de los ideales, la construcción de un estilo singular.
La estructura de un análisis intenso -y todo análisis de formación lo es- potencia la transferencia, en particular sus efectos de fascinación.
Veamos la fenomenología de las instituciones: nombrar al analista con quien uno ha trabajado se ha convertido en una contraseña que distingue, como si mientras más notable sea el analista mejor sería una formación. No es así: el analista, en ejercicio de su función, no es el mismo sujeto, más o menos notable, que escribe y da conferencias, sino apenas un objeto. Debería sonar obscena la pregunta: ¿con quién te analizás? Pero si no lo es, si la hacemos aun, es porque a menudo eso dice mucho de quien se analiza, funciona como una clave de lectura.
A veces ni hace falta preguntar, pues reconocemos la marca del analista solo al ver al analizante caminar u oírlo hablar o citar. El riesgo es la pasión fanática de la identificación, que acecha en los análisis de formación. En los seminarios y en las supervisiones algo menos, la terceridad -de los compañeros, del paciente supervisado- oficia como límite a la complacencia identificatoria. Tampoco resuelve las cosaspensar en la institución como un tercero que limita esa pasión peligrosa, pues tanto mejor avanza un análisis cuando menos injerencia tiene la institución en él.
El único límite a la coalescencia narcisista -que reproducefans- está en la mente del analista, atravesada por su propio análisis, y se llama Castración, prohibición del incesto, que no solo equivale a abstenerse de relaciones sexuales con pacientes, sino a evitar hacer del otro un objeto propio. No siempre sucede, lamentablemente.
A veces un analista que reniega de haber elegido un oficio que no permite tanto lustre social, un oficio que se practica casi de incógnito, encuentra en la didactura un modo de suplir su falta, orgulloso de contar a sus candidatos en análisis como discípulos. Cuando cada analizante tiene un analista distinto, aunque tenga el mismo nombre, como son distintos los padres para cada hijo, aunque lleven el mismo apellido.
Nos guste o no, el analista en tanto tal es apenas un objeto, una nada, y al final de una cura, un resto olvidable. Por eso, si pretendemos hacer nuestro trabajo, los analistas debemos acostumbrarnos a que nos abandonen. Debemos saber perder a quienes se han confiado a nosotros por años.
3 – Descontando lo variable en función de distintas tradiciones analíticas, ¿qué debe preservarse en la formación, a riesgo de invalidar sus fundamentos? Volvamos a la idea de perspectiva. Lo que la ordena en su representación gráfica se llama punto de fuga.
En una pareja que a veces “funciona” mejor que cualquier otra pareja, el riesgo mayor del análisis es la coalescencia narcicista, mas cuando el tiempo diluye la asimetría necesaria, o cuando el lugar institucional del analista o su propia historia transferencial, se convierten en obstáculo para sus analizantes. Nombrémoslo de una buena vez, el mayor riesgo en un análisis de formación es la endogamia.
Si el prefijo endo es problemático, al antídoto haya que buscarlo en lo exo. En cualquier modelo formativo, entonces, lo que hay que privilegiar es que el punto de fuga -eso que hace que algo esté verdaderamente en perspectiva, es decir que cobre volumen, vuelo, que pueda respirarse allí-esté alejado del resto de las variables.
Qué significa eso en cada modelo formativo, en cada estilo institucional, es algo a pensar, pero entiendo que sin esa distancia un análisis de formación corre el riesgo de fracasar. Y el fracaso se encarna a veces en un fan, alguien no atravesado por la experiencia del inconciente.
Vale quizás un ejemplo de lo que intento mostrar: yo mismoy mis análisis. No se preocupen: no voy a hacerles partícipes de mis penas neuróticas o las razones que me llevaron a analizarme. Solo compartiré dos notas que atañen a los dos análisis que he hecho. Ambos duraron bastante, al menos una docena de años cada uno.
El primero, que empecé por necesidad y luego se convirtió en un análisis didáctico, fue de alta frecuencia, con 4 sesiones por semana aun sin requisitos institucionales en juego. Luego de la formación, prosiguió. Y si tengo que pensarlo en perspectiva, el período menos fértil de ese análisis, conducido por un analista de la institución a la que ingresaba gracias al mismo análisis, fueron los años del didáctico. Ese análisis me sirvió mucho más antes y después que durante la formación. Más allá de los factores individuales, debemos pensar en el riesgo de las instituciones demasiado presentes en los análisis de formación. Habiéndolo terminado, mi transferencia -hacia el analista, hacia la institución, incluso hacia el psicoanálisis mismo- no era de las mejores.
Años después, empecé otro análisis. Elegí otro analista, de otra institución, de otra ciudad, de referencias distintas a las mías. Ese otro análisis, con un analista tan lejano como podría estar el punto de fuga con el que dibujara a mi institución, paradójicamente, me hizo recobrar mi transferencia hacia el psicoanálisis y las instituciones a las que aun hoy, con entusiasmo, pertenezco.
Nos debemos una discusión de cuándo -por falta de perspectiva- un análisis de formación se aplana.
Debemos descubrir antídotos para evitar el fanatismo institucional, para disminuir el riesgo de que los Institutos produzcan, en vez de analistas dueños de un estilo único, analistas en serie, clones de su didacta. En mi experiencia -como analizante, como analista, como ex director de un Instituto de Formación- pensar al analista desde el lugar más extranjero posible -tanto en términos institucionales, como teóricos o incluso nacionales- ha funcionado como un antídoto posible. El análisis es un espacio heterotópico. Ese espacio de juego y de trabajo, de libertad y pensamiento crítico, ajeno a cualquier otra lógica que la analítica, debe ser preservado. Incluso de los analistas.
(Los textos publicados son responsabilidad de sus autores)
Categoría: Instituciones psicoanalíticas
palabras clave: perspectiva-punto de fuga-línea de horizonte-análisis de formación
Imagem: Fillippo Brunelleschi (1379-1446)
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