Observatório Psicanalítico OP 531/2024

     
Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo

Estou voltando para casa!
Mas antes, nos vemos no Congresso da FEPAL.

Wania Cidade – SBPRJ

Queridos amigos e colegas do Observatório Psicanalítico

Ontem saiu o nosso último Boletim de Notícias da FEPAL, no qual redigi algumas palavras de despedida da função de presidente. Um texto breve e que contou com o incentivo da Adriana Pontelli, diretora de Comunicação e Publicações e com o apoio da diretoria.

No último mês tenho estado demasiadamente remexida, nem sei bem que palavra usar, mas certamente tem a dor enorme de ter perdido a minha amiga e querida parceira Joyce. Só de pensar nela às vésperas do Congresso os olhos escorrem sentimentos indizíveis, por mais que eu saiba que entre eles tem a falta e a saudade, eles são estranhos, pedem sentido e desaguam em dor. Ao mesmo tempo, sorrio ao pensar nela, em seu jeito vibrante e em sua alegria no viver. Só quem teve a Joyce por perto sabe o quanto ela era engraçada e especial.

Outros colegas se foram e nos vemos frente a frente com a finitude em doses pesadas, não bastava a pandemia? Como disse uma colega, “uma coisa é teorizar e outra é sentir”.

Por outro lado, o Congresso está lindo, forte, bem articulado e vários de vocês fazem a força e a beleza desse encontro, desse momento pelo qual aguardamos e para o qual nos preparamos. Há laços muito vigorosos que mantêm e que renovam essa circulação de ideias e de afetos por décadas.

Hoje amanheceu e despertei sem querer, tentei voltar ao sono, mas a ansiedade provocada pelo que havia por fazer me trouxe à escrita e penso que a agitação interna só ficará mais branda quando essa etapa da vida finalizar.

Retorno à gestão, foi um trabalho que me deu muito prazer de realizar porque fiz escolhas muito acertadas para dividir tarefa tão difícil. Digo difícil porque todos sabem o quanto é árduo e trabalhoso, primeiro, conhecer em profundidade a estrutura e o funcionamento de uma antiga e sólida instituição e, segundo, porque estamos lidando com políticas institucionais, com maneiras diferentes de pensar, o que abre novos universos com os quais aprendemos e outros com que precisamos lidar sem perder o nosso rumo e, terceiro, com um tanto de atribulações que grande parte de vocês conhece bem.

Finalizamos a gestão satisfeitos, pois (cito-me no Boletim de Notícias):

… o desejo de fazer um trabalho que agregasse todos nós e que representasse um movimento de ampliação do acesso à psicanálise, de modo geral, tanto no sentido do conhecimento quanto na abertura de possibilidades para o tratamento psicanalítico e para a formação psicanalítica…

… foi trabalhado intensamente por todas as frentes da FEPAL. “Os temas racismo, diversidade sexual e de gênero e migrações foram amplamente discutidos (…) por todos os departamentos, e a discussão será ampliada e enriquecida quando estivermos juntos no Rio de Janeiro”. Seguramente ficarão ressonâncias das construções decorrentes dos diálogos e dos debates iniciados nos dois últimos anos. Foram assuntos que diziam respeito à transmissão da psicanálise, que caminharam em paralelo e foram partilhados com os debates internos, orientados pela IPA, a respeito da “Proposta de Revisão do Código de Procedimentos da Formação Psicanalítica”. Se vocês acompanham as redes sociais ou ao menos o Instagram, fepalpublicaciones, nos dois idiomas, terão um panorama dinâmico e colorido de grande parte do que fizemos.

Restou um incômodo, o Congresso deveria ser para todos que quisessem, mas teve um alto custo e refletiu a realidade social e desigual. A organização do Congresso pensou incessantemente em maneiras de torná-lo mais acessível e democrático, queríamos fazer do Congresso um ponto de encontro no qual a diversidade que compõe a América Latina estivesse representada. Entretanto, o cenário econômico da cidade do Rio de Janeiro e a falta de espaços exequíveis para um evento que esperava em torno de 1000 pessoas das 38 organizações psicanalíticas filiadas à FEPAL fizeram com que tivéssemos que ajustar as inscrições às despesas que teríamos para a realização do evento.

No entanto, há algo mais profundo que eu gostaria de comunicar: precisamos repensar nosso antigo modo de fazer congressos se de fato quisermos democratizar a psicanálise, bem, esta era a nossa pretensão, mas sabem aquela velha máxima de que uma andorinha não faz verão? Este é um projeto político institucional e precisa envolver todos, mas é o que queremos? Queremos ter os “corpos abjetos” presentes, como diz Jairo Carioca, psicanalista da periferia do RJ? Estas são questões que eu adoraria continuar a pensar com a próxima gestão. Por aí se movem novas perspectivas psicanalíticas.

Por ora quero agradecer a oportunidade de presidir a FEPAL, pelo apoio recebido, e por todos os esforços para nos revermos e para fazer aquilo que adoramos: refletir e trocar figurinhas sobre gente, sobre o sofrimento psíquico, a saúde mental, as interfaces teóricas, a experiência psicanalítica e o mundo, sem perder de vista o encontro, os abraços, a festa e….

… Um velho calção
de banho
Um dia pra vadiar
Um mar que não
tem tamanho
E um arco-íris no ar

(Toquinho e Vinícius)
.
Até lá!
Com carinho,
Wania

(Os textos publicados são de responsabilidade dos autores)

Categoria: Instituições Psicanalíticas

Palavras-chave: Perdas, Despedidas, Vida, Congresso Fepal

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Tags: congresso Fepal | Despedidas | Perdas | Vida
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