Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo
Sarah e Rachel
Rossana Nicoliello Pinho – SBPMG
Sarah e Rachel
Não se conheciam.
Nunca haviam sequer se visto.
Mas certo dia, pois é assim que o movimento do tempo funciona, se reencontraram.
E decidiram, Joyce e Rossana, honrando a intensa sintonia, se rebatizarem de Sarah e Rachel.
Como reencontrar quem não se conhece?
É que o reencontro não tem corpo, mas é fluido e refinado como a alma. E logo que se vêem, as almas se reconhecem e se enlaçam para todo o sempre, transcendendo as regras do espaço.
E então seguiram juntas, antes que o rodopiar do tempo separasse novamente, as amigas-irmãs, Sarah e Rachel. Amizade profunda pode nascer de um instante, pois o que transborda não é o costume da convivência, mas a lealdade de quem aceita o outro na diferença, cuida e ama, sem medida ou interesse.
E na dança das horas seguidas, as duas descobriram que escreveriam juntas, mais um capítulo de uma história.
Criaram linguagens que iam dos pictogramas às palavras, entendendo que as lacunas da vida a gente acata e abraça, seguindo nas veredas da coragem. Das escritas feitas em conjunto, brotava a melodia da sabedoria.
E aos projetos para um mundo melhor, espaço para uma Psicanálise viva, integravam outras mãos, envolvidas no feitio das ações que deixariam bons frutos.
Sarah gargalhava com o jeito pândego de Rachel, mesmo sabendo que junto do riso as duas compartilhavam dores e indignações.
Rachel encontrava Sarah em sonhos e Sarah acreditava neles…
Sarah abria sua casa com sua família iluminada, amores dos quais se orgulhava e Rachel encontrava nessa morada, mais um lugar de existir.
Por tempos idos, seguiram as duas, de mãos dadas, dos Pampas até as montanhas das Gerais, transcendendo a distância que somente existe se já não se quer estar junto.
E nessas veredas do encontro, alimentaram suas almas, embaladas por sonoridades e pela esperança em driblar as vicissitudes implacáveis da vida…
Certo dia, os ventos de lá disseram que Sarah deveria partir. Ausência anunciada, sem data prevista, entrelaçadas ficaram ainda mais. É que antes da partida, a gente reafirma o amor, dá colo e se apega ao fio de esperança que sustenta os sonhares…
E Sarah se foi.
E no hoje, nessa terra de chão batido pela pisada implacável da realidade, ficou Rachel, buscando a amiga nos quatro cantos do mundo…
E desde então, nas andanças, Rachel tem encontrado as lembranças, como pequenas lamparinas a iluminar a escuridão que a ausência de Sarah deixou.
Nesses dias, Rachel seguirá juntando os pequenos pontos de luz, que pouco a pouco darão uma forma discreta para a ausência e certa dignidade para a dor dilacerante, que certamente um dia, se chamará saudade.
É que as duas, meio ciganas, são como girassóis espalhados pelo mundo, plantados em terra firme, buscando a força do sol e que jamais vão esmorecer, mesmo que o tempo trace a varredura do destino, que embora forte, poupa os afetos.
São elas e tantas mulheres, orgulhosas da luta e que pela intensidade dessa conexão sem limites, sobreviverão até o próximo encontro.
E no agora, Sarah, lá do alto, morada de gente iluminada, olha por Rachel e repete aquilo que um dia disse em um dos sonhos-encontros, ressoando pelos ecos do tempo:
” Voa amiga, voa!!! Te amo, infinito!!
(Os textos publicados são de responsabilidade dos autores)
Categoria: Homenagem
Palavras-chave: amor, amizade, saudade, irmandade, despedida
Imagem: ilustração de Isadora Nicoliello Pinho Pereira, 2016
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