Observatório Psicanalítico – OP 440/2023

Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo 

Os Mortos da Geopolítica  

Carmen Maria Souto de Oliveira (SPBsb)

Me chamou a atenção a rapidez com que a FEPAL e outras sociedades federadas da FEBRAPSI, adiantaram-se para fazer uma nota de repúdio ao ataque do Hamas. 

Sim, achei criminoso e violento, que ceifou a vida de jovens, mas nenhuma palavra, até agora, foi dita sobre a violência com que o Estado de Israel tem revidado, pareceu-me que de forma desproporcional e já estamos a quase três semanas de guerra. Como historiadora de formação, não pude deixar de pensar que interpretação teriam estes fatos. Sim, os historiadores chamam “interpretação da história”, pois os fatos são interpretados, assim como os fenômenos psíquicos.

Participo de diversos grupos, formados por membros da FEBRAPSI, recebi deles inúmeros cards e textos criticando o ataque do Hamas, alguns tentei responder, falando que foi sim violento e criminoso, mas que poderíamos pensar por diversos ângulos estes tristes eventos, tanto por um lado, como por outro.

Olhando pelo lado de Israel:  o Hamas matou jovens que se divertiam, o que é de uma atrocidade, pois não lhes deu nenhuma possibilidade de defesa, também atacaram colonos que estavam em suas casas, em um momento de descanso e também não foi permitido nenhuma defesa, devido ao ataque surpresa. Mas vale lembrar que as terras ocupadas por estes colonos pertencem, por direito, à Palestina. Com isso não estou amenizando as mortes impetradas pelo Hamas, estou apenas contextualizando.

Olhando pelo lado da Palestina: três dias depois, dos ataques do Hamas, e não dos Palestinos, cerca de dois milhões de pessoas têm sido severamente atacadas, com a artilharia israelita destruindo equipamentos públicos como: hospitais lotados, escolas em momentos de aula, igrejas católicas históricas e cheias de crentes, mesquitas com seus devotos e também usadas como abrigos, uma vez que a população palestina não dispõe de bunkers para sua proteção, em caso de ataques massivos. Mais de seis mil palestinos já morreram até aqui, sendo que a maioria são mulheres e crianças. Edward W. Sai (1935-2003), dizia: “os palestinos são as vítimas das vítimas”. 

Será que Israel, a exemplo do que os EUA fez com o Iraque e outros países, depois dos ataques da Al-Qaeda, no 11 de setembro, está multiplicando por milhões o número de mortes de que foram vítimas? Seria uma forma de compensação? A cada morto meu, matamos milhares seus.

Penso em Freud, que fala : “o ser humano não é uma criatura branda, ávida de amor que no máximo pode se defender, quando atacado(…) o próximo não constitui apenas um colaborador e objeto sexual, mas também um tentação para satisfazer a tendência à agressão, para explorar seu trabalho sem recompensá-lo, para dele se utilizar sexualmente contra a sua vontade, para usurpar seu patrimônio, para humilhá-lo, para infligir-lhe dor, para tortura-lo e mata-lo” (O Mal Estar da Civilização, 1930, p.76/77, Cia das Letras)

Vale lembrar que os EUA necessitam do Estado de Israel para ter maior controle do mundo árabe e que Israel fomentou a criação do Hamas, como forma de retirar força da OLP, de Arafat, que sim, representava os palestinos, era um partido, um governo, uma organização de Estado. Aí vale a máxima de maquiavélica: dividir para governar.

Voltando ao conflito, Israel x Palestina, os dois povos são de origem semita e por séculos não foram inimigos. Em 1948, a ONU cria o Estado de Israel, em terras palestinas, ocupadas por eles desde quando o império romano dominava a região. Aí e então, começou o projeto expansionista do sionismo, ideologia política criada no final do século XIX que nada tem a ver com judaísmo ou semitismo. Se olharmos o mapa da ocupação colonialista do Estado de Israel desde sua criação vemos que vão acuando os palestinos, dividindo suas terras e levando-os a viver em uma espécie de campo de refugiados, em suas próprias terras.

Finalizando a minha reflexão pública, citando Freud, mais uma vez: “Sempre é possível ligar um grande número de pessoas pelo amor, desde que restem outras para que se exteriorize a agressividade”. 

Me parece, que o povo palestino tem sido vítima dessa agressividade, por parte do Estado de Israel, há 76 anos.

(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores)

Categoria: Política e Sociedade

Palavras-chave: agressividade, Freud, Israel, Palestina, Fepal, Febrapsi

Imagem: foto Motaz Azaiza

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Tags: agressividade | FEBRAPSI | FEPAL | Freud | Israel | Palestina
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