Observatório Psicanalítico 17/2017
Ensaios sobre acontecimentos sociais, culturais e políticos do Brasil e do mundo.
Notas sobre uma crônica de L.F. Veríssimo
Leonardo Francischelli
Não é nada simples discordar das palavras de nosso músico e cronista maior L. F. Veríssimo.
Vencendo bravas resistências, atrevemo-nos a tecer algumas considerações contra as advertências do poeta das palavras e senhor de um humor inigualável.
Ele parte – em uma crônica editada por ZH em 26/06 – do crítico literário Frederick Crews; este lúcido senhor distribui muitos adjetivos à figura de Freud, que não colocaremos aqui, em consideração aos leitores.
Contudo, se permitem os editores, colocamos aqui, isto sim, aquilo que pensa o escritor que tanto admiramos. Diz ele: “de qualquer forma, Freud não está tendo uma boa posteridade. A Psicanálise como terapia foi em boa parte ultrapassada pelo tratamento químico, e as suas teses sobre o inconsciente coletivo e sua importância no devir da História explicam, mas não influenciaram a História”.
Bem, para começo de conversa, Freud nunca falou em “inconsciente coletivo”; o autor dessa tese é outro. Obviamente, isso por si só não desacredita nosso “Anti-Freud”. Revela, porém – como diria um freudiano clássico – seu inconsciente, sobre o qual nada diremos, porque não estamos autorizados por ele.
Por outro lado, colocar que a “Psicanálise como terapia foi em boa parte ultrapassada pelo tratamento químico” revela um crítico audacioso. Entretanto, como pode alguém com todo o prestígio do mundo – seguramente, nosso estimado conterrâneo não desconhece esse fato – expressar uma opinião dessa magnitude?
Se vencêssemos a timidez diante de um gigante das letras e exímio leitor do social, nos atreveríamos a esboçar um pensamento com alguma malícia: como está escrito, não podemos pensar que expressa uma posição a favor dos psicofármacos, em oposição a um processo de subjetivação promovido pelo tratamento psíquico da alma, a Psicanálise?
A Psicanálise é como a poesia que exalta a beleza das palavras. A Psicanálise é como a música que emociona a alma e exalta a beleza da vida. Ela é como o vinho que adocica o coração.
A subjetividade e a responsabilidade da alteridade precisam ser libertadas da tirania da alienação psíquica. E onde isso pode acontecer?
Na intimidade de uma sala de análise e não em um consultório. Na simplicidade de um divã desbotado e de uma poltrona descuidada. Nesta simplicidade, trabalharemos na subjetivação do homem no séc. XXI. Não a medicalização abusiva como palavra de ordem.
Um abraço amigo para o nosso músico poeta letrado.
(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores).