Bom dia querides
Nos primórdios de seu trabalho, ele identificou a função encobridora de determinadas lembranças, notando que partes irrelevantes de um acontecimento poderiam se tornar memórias que substituíssem aquilo que é realmente revelador do conflito – ou do trauma.
Em “A interpretação dos sonhos” (1900), ele também apontou que um mecanismo parecido opera no trabalho de deformação do sonho. Quando bem feito, o sonho impede a emergência das verdades na sua forma “nua e crua”. Faz com que elas apareçam sob disfarce, cumprindo o intento de realização do desejo, mas sem despertar o sonhador. Do mesmo modo, o sintoma guarda uma verdade que não pode ser reconhecida pelo seu portador.
Em seu livro “Sobre o autoritarismo brasileiro”, de 2019, Lilia Schwarcz escreve o seguinte trecho: ‘A história costuma ser definida como uma disciplina com grande capacidade de “lembrar”. Poucos se “lembram”, porém, do quanto ela é capaz de “esquecer”. Há ainda quem caracterize a história como uma ciência da mudança no tempo. Quase ninguém destaca, no entanto, sua genuína potencialidade para reiterar e repetir.
Para os ouvidos de um psicanalista, as omissões, os esquecimentos, repetições e distorções são elementos que invariavelmente compõem as narrativas que os sujeitos nos contam sobre sobre si próprios.
Mas de que forma um país pode narrar a sua história? Que conteúdos nossos livros escolares ainda não conseguem nos contar? Que sutilezas afinam ou desafinam a escuta de um historiador, como ele poderia nos ajudar a identificar nossos sintomas enquanto sociedade?
https://spotify.link/