Observatório Psicanalítico – 156/2020
Ensaios sobre acontecimentos sociais, culturais e políticos do Brasil e do mundo.
Delegado Espinoza: seu nome é Luiz Alfredo.
Liana Albernaz de Melo Bastos (SBPRJ)
Para Luiz Alfredo Garcia-Roza
Chove em Copacabana. Nada do sol resplandecente que faz da praia cartão de visitas. Tudo vazio. O delegado Espinoza mastiga um quibe, comprado na Galeria Menescal, logo ali, perto da 12ª Delegacia Policial. Vai a pé para seu apartamento no Bairro Peixoto, abarrotado de livros numa eterna bagunça. Andando vai tentando juntar os fios, deduzindo e intuindo, de mais um crime a ser desvendado. Esbarra em puta, camelô, gente da rua. Gente na rua.
Confinada em casa, ruas vazias, ouço o panelaço contra mais um absurdo criminoso perpetrado por um governo que aposta, em meio à pandemia, no pandemônio.
Lembro do outro Espinoza e de sua doutrina das paixões. O afeto principal do homem é o desejo. Dele nascem a alegria, como ideia do aumento da perfeição, e a tristeza, como diminuição da perfeição. Da combinação destes surge o amor como “alegria unida à ideia de causa externa”, o ódio como tristeza, a esperança como representação de algo futuro unido à alegria, o temor como algo futuro unido à tristeza.
Ainda não havia Espinoza, o delegado, quando conheci Luiz Alfredo. Era a primeira turma do Mestrado em Teoria Psicanalítica da UFRJ. Eu, aluna, ele professor. Muita alegria e esperança na aposta da relevância da psicanálise na Universidade. O mestrado cresceu, fincou raízes e continua dando frutos, como Luiz Alfredo e suas aulas instigantes.
Luiz Alfredo aposentou-se da universidade. Foi escrever livros policiais. Criou o inesquecível delegado Espinoza, personagem ético, movido pela racionalidade e pela intuição. Não à toa foi assim batizado. Seus conflitos, sua vida amorosa tem o dedo de quem conhecia a complexidade humana dos sujeitos. De quem tinha intimidade com a psicanálise. Com Freud e com Lacan.
É nesta trança criativa da filosofia, da psicanálise e da literatura que me despeço do Luiz Alfredo. Não vou me render à tristeza e ao temor. Os Espinozas sobreviverão aos tempos de ódio. Eros saberá barrar os desígnios tanáticos dos genocidas.
“O sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente
É o Juízo Final
A história do Bem e do Mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer.” (Nelson Cavaquinho)
(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores).
Colega, click no link abaixo para debater o assunto com os leitores da nossa página no Facebook.
https://www.facebook.com/252098498261587/posts/1623044361166987/?d=n