Publicamos neste espaço o ensaio do psicanalista Carlos de Almeida Vieira (SPBsb e SBPSP), de sua coluna “Psicanálise da Vida Cotidiana” (Blog de Noblat, VEJA.com), no qual enfatiza que a questão da Arte e do trabalho do artista são centrais.
XXVII CONGRESSO DE PSICANÁLISE
por Carlos de Almeida Vieira
O próximo Congresso Brasileiro de Psicanálise será realizado na cidade de Belo Horizonte, nos dias 19 a 22 de junho de 2019, promovido pela Federação Brasileira de Psicanálise – Febrapsi – e pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de Minas Gerais. O tema central do encontro é “O Estranho”, um dos artigos de S. Freud, de 1919, onde a questão da Arte e do trabalho do artista são centrais.
Noemi Moritz Kon, em seu posfácio ao livro Escritos sobre Literatura – Sigmund Freud, tradução do alemão por Saulo Krieger, mostra a importância do tema “O Estranho”. O artigo de Freud mostra suas pesquisas sobre o Unheimlich (Estranho), uma experiência psíquica que todos os seres humanos têm. Escreve Noemi: “…uma sensação de estranha familiaridade, de uma expressão assustadora, que pertence ao que causa medo, ao que suscita horror”.
Freud afirma que esse Estranho um dia foi familiar e de há muito conhecido, mas que foi recalcado. São experiências primitivas, infantis, que em algum momento da vida de uma pessoa surgem sob forma de estranheza, de já ter vivido, causando temor e medo. No artigo de Freud é interessante mostrar como ele foi buscar em várias línguas o significado da palavra unheimlich, vejamos: Latim – um lugar estranho, locus suspectus; em uma noite estranha – No grego: xenos – portanto estrangeiro, alheio – Em inglês: uncomfortable, uneasy; para uma pessoa, a repulsive fellow.- Em francês: inquietante, sinistro, lúgubre – No espanhol: suspeitoso, mal agouro, sinistro e no árabe tem um significado de demoníaco, abominável. Enfim, prezado leitor, essa expressão revela estados de alma vividos por todos nós em algum momento de nossas vidas.
Na publicidade do Congresso encontramos uma frase muito profunda e provocadora para todos, principalmente para os psicanalistas que exercem esse difícil ofício: “Não desejo suscitar convicções; desejo estimular o pensamento e derrubar os preconceitos” (Freud, 1917). Vejo nessa sentença a intenção primordial do futuro Congresso: a psicanálise é uma ciência aberta, sem fundamentalismos teóricos ao contrário do que muitos críticos e pessoas pensam.
Com o passar do tempo, e lá se vão mais de cem anos, psicanalistas como W. R. Bion (indiano-inglês), em sua obra, reforçou as ideias de Freud e revendo os aspectos epistemológicos ligados à psicanálise deu ênfase à pesquisa psicanalítica mostrando que o estudo da alma humana vai além da própria psicanálise, e com isso sugere vértices de observação na clínica: os vértices científico-filosófico; estético-artístico e místico-religioso (teológico). Esse, penso, será o desafio do nosso Congresso na cidade de Belo Horizonte. Estudar o ser humano em seus vários aspectos do conhecimento.
Prezado leitor, as inscrições já estão abertas!