Jornada preparatória do XXVII Congresso Brasileiro de Psicanálise – 2019
O Estranho – Inconfidências
Estamos vivendo num período especialmente marcante. Descobrimos, para o nosso espanto, que o progresso aliou-se à barbárie (Freud, Livro do exílio, 1938).
Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2018. A SPRJ, SBPRJ, APERJ, SBPMG e FEBRAPSI estarão reunidas neste dia, em uma atividade conjunta para trabalhar a temática do próximo Congresso Brasileiro de Psicanálise, que ocorrerá em Belo Horizonte, de 19 a 22 de junho de 2019.
A proposição do congresso é um convite para (re)visitarmos o trabalho de Freud (1919), O Estranho, e tecermos uma escuta reflexiva sobre os seus desdobramentos em nosso tempo, tendo como um dos motores transformadores a proposição que nos foi deixada, como patrimônio, pelos inconfidentes. Esses revolucionários que ousaram questionar as normas estabelecidas por um poder despótico – que inflige opressão, tirania e necessidade de subjugar o outro, supremacia da recusa da alteridade.
Aí estão, para o nosso espanto, questões extremamente pertinentes ao cenário do século XXI, ou seja, o conhecido que pulsa em busca de um desconhecido a revelar as diferenças que propiciem o exercício de um livre pensar, em busca do reconhecimento das singularidades em um universo plural. Singularidades, por sua vez, que renunciam a se submeter à aliança que o progresso fez com a barbárie.
Ao nos aproximarmos do território do estranho, seguimos os rastros de uma estética psicanalítica: proposta por demais ousada do iniciador e descobridor de templos, Sigmund Freud (1926). Esta estética declara a sua especificidade: sentir as sensações que remetem a um âmbito reservado, um âmbito marginal dos mistérios, do horror e do demoníaco que habita a alma humana: o habitat natural da loucura (Freud, 1900), com seus desconcertantes estímulos à criação.
Essa ideia propõe aberturas: o demoníaco lança os fundamentos para rupturas significativas que estão por se instaurar, desde a visão freudiana, na vida do homo sapiens. Outra lógica está sendo gestada, repleta de estranhamentos. A hegemonia do princípio do prazer/desprazer tem que ser ressignificada – a esse familiar será agregado o não familiar – à força de um pulsional desgarrado. O além impõe sua vigência. E a destrutividade, com sua força inquietante, reclama para si os mesmos direitos, que são outorgados à pulsão sexual: ela almeja ser reconhecida como um princípio constitutivo da psique – a inegável existência do mal (Freud, 1930) – com suas implicações na organização social.
Esses são alguns dos tópicos aos quais pretendemos nos dedicar no decorrer do encontro preparatório em terra fluminense. Trabalhamos para que esse encontro venha somar-se a outros que estão ocorrendo em parcerias da Febrapsi com as demais federadas. As atividades visam o diálogo entre os estranhos pensamentos que perpassam o exercício do ser psicanalista, tendo como meta originar uma seminal interação entre o privado e o público, acompanhada de instigantes confidências. Este é o contexto necessário para que Congresso Brasileiro de Psicanálise se perpetue como um espaço de estímulo a uma produção científica comprometida com o conhecimento e o desenvolvimento do pensamento psicanalítico brasileiro. Esse que traz consigo uma peculiar e fecunda interação entre o individual e o coletivo, mantendo como indicador a advertência freudiana: Tudo compreender não é tudo perdoar. A tolerância com o mal não é um corolário do conhecimento (Freud, 1926).
Aguardamos vocês.
Ignácio A. Paim Filho
Diretor científico da FEBRAPSI
Jornada “O Estranho – Inconfidências”
15 de setembro de 2018 – das 9h às 19h
Auditório do Edifício Cidade do Leblon
Av. Ataulfo de Paiva, 135, 18º andar – Rio de Janeiro