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Sobre o IV CPLP: leia o texto “Ecos de Maputo”, da diretoria da Febrapsi, e o manifesto redigido pelos participantes ao final do evento, no banner ao lado

19 / maio / 2025

Ecos de Maputo

Terminou sábado, em Maputo, Moçambique, o VI Congresso de Psicanálise em Língua Portuguesa (“CPLP”), cujo tema foi: “Como se fabrica a guerra? Como se constrói a paz?” A realização do Congresso de Maputo foi, por si, uma batalha árdua. Originalmente agendado para ter acontecido no fim de 2024, o CPLP foi adiado para 2025 devido aos conflitos que estavam acontecendo no país em tempos de eleições presidenciais. Durante o período de organização do evento, ouvimos relatos sofridos e emocionantes das dificuldades cotidianas enfrentadas pelos colegas moçambicanos, que permaneceram corajosamente mobilizados e empenhados em viabilizar a realização do encontro. A decisão de reunir-se, conversar, pensar em conjunto, relatar o sofrimento dos pacientes, dos psicanalistas e dos profissionais de saúde locais constituiu-se, no contexto de ameaças e violências reiteradas que se vive em Maputo, como um ato corajoso de resistência.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), entre meados de 2023 e de 2024, ocorreram 134 guerras e conflitos armados em todo o mundo, resultando em mais de 200 mil mortes. A mesma ONU projeta que, neste ano, mais de 305 milhões de pessoas precisarão de alguma forma de ajuda humanitária para sobreviver. Os conflitos mais letais ocorreram no Oriente Médio, especialmente na Faixa de Gaza, onde mais de 45 mil pessoas perderam a vida em 2024. Outras regiões com conflitos ativos incluem o Sudão do Sul, Mianmar, Burkina Faso, Mali, Somália e Iêmen, todas enfrentando situações de violência intensa e deslocamento de populações. Este cenário reflete uma escalada sem precedentes de violência global, de invasões e de agressões terroristas, que nos remetem a do Hamas contra Israel, em uma espiral de violência que se intensifica e espraia. A todas essas atrocidades é preciso dizer não!

Em meio aos conflitos, observamos o amplo uso de estratégias que impactam emocionalmente em larga escala para fins de manipulação da opinião pública em todo o mundo. Essa utilização estratégica, continuada e frequentemente impune da mentira disseminada pelas redes sociais, aliada ao crescimento do discurso de ódio contra imigrantes, contra grupos LGBTQIAPN+ e contra intelectuais e Universidades tem servido ao propósito de excitar e manipular grandes massas mundo afora, em benefício do interesse e do lucro de poucos.

Consideramos que a comunidade psicanalítica tem um papel importante a desempenhar, seja para resistir e não se deixar calar, como fizeram nossos colegas em Maputo, para participar ativa e socialmente do debate, seja para colaborar com a criação de estratégias para denunciar o uso perverso das mentiras nas redes sociais. A paz não é, nem nunca foi, garantida. Ela precisa ser construída, cuidada e defendida.

A Diretoria da Febrapsi agradece ao empenho dos colegas africanos, portugueses e brasileiros que se dedicaram por meses para viabilizar o CPLP e se une aos que se fizeram presentes no sentido de realizar os debates, cooperar e apoiar a todos aqueles que se encontram empenhados na difícil e urgente de tarefa de construção da paz.

Um abraço fraterno e a nossa solidariedade aos colegas e à população de Moçambique, bem como a todas as pessoas que em diversos países seguem se opondo a violência e às guerras.

Cordialmente,

Diretoria Febrapsi        

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