Democracia, sim!
Com o encerramento do primeiro turno das eleições, confirmou-se a polarização que as pesquisas já indicavam.
São inúmeros e distintos os motivos que levam as pessoas a escolher seus candidatos, bem como aqueles em quem jamais votariam. Não raro, cada um tende a achar que seus motivos estão acima dos demais.
A atual eleição foi marcada pela vitória do “não”, seja como expressão do rechaço aos posicionamentos de um dos candidatos ou da rejeição à história de um dos partidos.
Cabe a nós psicanalistas, defensores intransigentes da democracia, pensarmos o que cada um dos agrupamentos de “nãos” defende; mas, principalmente, o que eles escondem, negam, recusam. Como bem nos ensina Freud sobre o negativo no inconsciente.
Não raro, moraliza-se, critica-se, contestam-se escolhas motivadas por pressupostos diferentes dos que se têm como referências.
A democracia é uma profissão de fé. Ela pode dar guarida ao inferno que se enxerga na posição dos outros e, também, pode proteger de quem vê o demônio em nós (ou vice-versa). Fora da democracia, tratamos as diferenças com os irmãos através das torturas, fogueiras, terrorismos, exílios, patrulhamentos moralistas.
A história mostra que esse é o clima mais propício para o pior dos mundos: o aprisionamento/homicídio/suicídio da própria democracia.
A Psicanálise em seu papel de busca permanente das verdades mais profundas, como citou Roudinesco, periodicamente é atacada “como ciência judaica pelos nazistas, como ciência burguesa pelos stalinistas, como falsa ciência pelos adeptos contemporâneos do comportamentalismo”. Horenstein, ao fazer esta citação, acrescenta: como ciência satânica pelos fundamentalistas religiosos e é à democracia que se deve a sua existência e manutenção.
A Febrapsi, em tão importante momento, não foge ao seu papel. Ela é Democracia! Sem que isso implique uma negação dos seus problemas e limitações.
Como casa de intelectuais, por meio do Observatório Psicanalítico, a Febrapsi abre espaço para que pontos de vistas sejam defendidos, debatidos, rebatidos, questionados. Isso com as devidas responsabilidades pessoais pelas opiniões emitidas e pelo respeito ao direito de contraditórios. Seria estranho se nesse momento não tivéssemos divergências entre nós.
Cabe a cada um defender suas convicções. Como instituição, defenderemos o sagrado resultado da subjetividade expressa pelos votos de cada um.
Hemerson Ari Mendes
Diretor do Conselho Profissional da Febrapsi
Cláudia Carneiro
Diretora de Publicações e Divulgação da Febrapsi
Anette Blaya Luz
Presidente da Febrapsi