Prezados colegas
Só raramente um psicanalista se sente impelido a pesquisar o tema da estética, mesmo quando por estética se entende não simplesmente a teoria do belo, mas a teoria das qualidades do sentir (Freud, 1919).
Nesse último final de semana de janeiro, o Conselho Científico da FEBRAPSI reuniu-se em Minas Gerais, para escolher o tema central do Congresso Brasileiro de Psicanálise de 2019, que ocorrerá de 19 a 22 de junho em Belo Horizonte. Durante aproximadamente três horas discutimos as possiblidades, a partir das sugestões recebidas de nossas federadas, tendo como norteadora a proposição de integrarmos os vários segmentos que comportam o escopo da psicanálise. Dessa forma chegamos ao consenso da seguinte temática: O Estranho – Inconfidências.
Sabemos que no trabalho O Estranho (Das Unheimlich, 1919), Freud propõe-se a refletir os inquietantes caminhos que estão implicados no trânsito entre as instâncias psíquicas, no seu indissociável atrelamento com a força do agente dos sucedâneos anímicos. Nesse sentido fará uma interlocução profícua entre a clínica e a cultura, valendo-se do conto de Hoffmann: ‘O Homem de Areia’. Acreditamos que impelido pelo desejo de trabalhar a qualidade da estética que remete para o além do belo, uma possível estética psicanalítica do horror. Horror que remete aos estranhamentos do humano diante das constatações da finitude, da transitoriedade, da passagem do tempo […], enfim a incompletude, que o Complexo de Castração comporta de maneira incisiva. Com esse pensar como sinalizador, encontramos na expressão Inconfidências – legado de uma história de luta em busca de liberdade – que teve por cenário a terra mineira, uma bela forma de apresentação da força desconcertante e propulsora de transformações do estranho que nos habita. Esse, como diz Freud, citando Schelling, (1919) que deveria ter permanecido oculto mas veio à luz. Vir que insita o desassossego e, ao mesmo tempo, potencializa as condições, para que o novo se crie e se recrie a partir do antigo.
Portanto, convidamos a todos os colegas para trabalharmos em cooperação, a fim de fazermos um Congresso que traduza as aspirações – as diferentes qualidades do sentir – dos psicanalistas brasileiros. Assim, em consonância com o pensar freudiano e dos nossos inconfidentes, despertar nosso espírito aventureiro (1900), ou ainda, indiscreto (1910), ousando seguir pensando e denunciando o mal-estar que compõe o sujeito e sua ordem cultural. Seguindo esse caminho, ampliar no sentido de estabelecer desdobramentos desse pensar à luz do nosso tempo.
Finalizamos com um breve recorte do poema Igual – Desigual, de Drummond (1989), a título de estimular reflexões: Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar.
Abraços e até breve.
Anette Blaya Luz Ignácio Alves Paim Filho
Presidente Diretor Cientifico