Psicanalista, filósofo e escritor, Jean-Bertrand Lefebvre Pontalis nasceu em Paris em 1924. Fez seus estudos superiores no Liceu Henri-IV e na Sorbonne e em 1945 formou-se em filosofia com trabalho sobre Spinoza. Foi aluno de Jean-Paulo Sartre e tornou-se professor a partir de 1948. Pouco tempo depois iniciaria análise didática com Jacques Lacan.
Com Jean Laplanche e sob direção de Daniel Lagache, Pontalis iniciou em 1960 o longo trabalho que deu origem em 1967 ao Vocabulário de Psicanálise. Em 1964 participou da fundação da Association Psychanalytique de France (APF), quando se distanciou de Lacan. Naquele ano tornou-se membro do comitê de direção da revista Les Temps Modernes, para a qual havia colaborado entre 1946 e 1948. Tornou-se editor das Edições Gallimard, entre as coleções importantes criadas por ele estavam as Obras de Sigmund Freud, novas traduções. Em 1968 foi eleito membro titular da APF.
Pontalis criou em 1970 a Nouvelle Revue de Psychanalyse, reunindo no comitê de redação da revista colaboradores como Didier Anzieu, André Green, Jean Pouillon, Guy Rosolato, Jean Starobinski. Começou a publicar suas obras literárias a partir de 1980: livros, ensaios, romances, permeados de referências autobiográficas e de autores que de algum modo marcaram sua vida: Sartre, Lacan, Merleau-Ponty, Claude Roy, Masud Khan, Pierre Michon.
Sua obra literária é vista como indissociável de sua obra psicanalítica. Essa condição retrata o conceito de autografia apresentado por Pontalis como “um livro onde não se escreve sobre si, mas escreve-se”¹. Em seu livro Perder de vista (1988), Pontalis destacou o parentesco evidente entre a psicanálise e a literatura: “Vemos nas duas agir, por vias diferentes, a mesma postulação: ser, pela primeira vez, escutado, reconhecido, e nesse mesmo movimento, temer ser observado pelo pensamento e pela linguagem do outro”².
Pontalis assinalou em seu livro Travessia das sombras que tudo o distanciava da adesão a uma doutrina ou discurso pretenso a ditar as próprias leis. Este ponto de vista pode ajudar a esclarecer as separações que marcaram o percurso intelectual de Pontalis – da filosofia, da revista Os Tempos Modernos, de Jean-Paul Sartre, de Jacques Lacan e ainda de Jean Laplanche. Apesar do afastamento mútuo, Pontalis e Laplanche mantiveram um respeito e reconhecimento intelectual recíproco.
As divergências surgidas entre os autores do famoso Vocabulário de Psicanálise ocorreram em função dos problemas de tradução das obras de Freud. Laplanche assumiu a publicação das Obras completas de Freud na Presses Universitaires de France (PUF) e Pontalis dirigiu a publicação das Novas traduções das obras de Freud, na editora Gallimard.
Autor de uma obra variada e erudita, característica de uma escrita clara e rigorosa, Pontalis ocupa um lugar de destaque na história da psicanálise francesa dos últimos 50 anos.
Livros publicados por Pontalis:
- Après Freud (Após Freud), Julliard, collection Les temps modernes, 1965, reeditado em 1993.
- Entre le rêve et la douleur (Entre o sonho e a dor), Éditions Gallimard, 1977.
- L’Enfant des Limbes (A criança dos limbos), Éditions Gallimard, 1998.
- Fenêtres (Janelas), Gallimard, 2000.
- Traversée des ombres (A travessia das sombras), Éditions Gallimard, 2003.
- Loin (Longe), Éditions Gallimard, 1980.
- Un homme disparaît (Um homem desaparece), Éditions Gallimard, 1996.
- L’amour des commencements (O amor dos começos), Éditions Gallimard, 1986.
- Ce temps qui ne passe pas (O tempo que não passa), seguido por “Le Compartiment de chemin de fer”(O compartimento da via férrea), Gallimard, 1997.
- Le dormeur éveillé (O endormido acordado), Éditions du Mercure de France, 2004.
- Perdre de vue (Perder de vista), Éditions Gallimard, 1988.
- La force d’attraction (A força de atração), Éditions Le Seuil, 1990.
- Frère du précédent (Irmão do precedente), Éditions Gallimard, 2006.
- Elles, Gallimard, avril 2007.
- En marge des jours (A margem dos dias), Éditions Gallimard (collection Folio), septembre 2003.
- Le songe de Monomotapa (O sonho de Monomotapa), Éditions Gallimard, 2009.
Livros coletivos:
- Jean-Bertrand Pontalis e Jean Laplanche, sob direção de Daniel Lagache: Vocabulaire de la psychanalyse (Vocabulário da psicanálise), PUF, 1967.
- Jean-Bertrand Pontalis e Jean Laplanche: Fantasme originaire, fantasmes des origines, origines du fantasme (Fantasma originário, fantasmas das origens, origem do fantasma), Hachette, coll. “Textes du XXe siècle”, 1985.
- Le Royaume Intermédiaire, J-B.Pontalis entre psychanalyse et littérature(O Reino intermediário, J.B. Pontalis entre psicanálise e literatura), Gallimard, 2007.
Artigos de Pontalis publicados na Nouvelle Revue de Psychanalyse:
- O inatingível entre dois, in “Bisexualité et différences des sexes”, N.R.P. n° 7, Gallimard, 1973.
- Questões preliminares, in “Pouvoirs”, N.R.P. n° 8, Gallimard, 1973.
- Marcos ou confins, in “Aux limites de l’analysable” , N.R.P. n°10, Gallimard, 1974.
- A partir da contratransferência, a morte e o vivo entrelaçados, in “La Psyché”, N.R.P. n°12, Gallimard ,1975.
- A propósito do trabalho de Harry Guntrip: Minha experiência analítica com Fairbairn e Winnicott, in “Mémoires”, N.R.P. N°15, Gallimard, 1977.
- Trocas de idéias com Michel de M’Uzan, in “Escrever a psicanálise”, N.R.P. n°16, Gallimard ,1977.
- Uma idéia incurável, in L’idée de guérison”, N.R.P. n°17, Gallimard, 1978.
- Confiar até… sem crer em, in “La croyance”, N.R.P. n°18, Gallimard, 1978.
- O trabalho do tecelão, in « Regards sur la psychanalyse en France », N.R.P. n°20, Gallimard.
- À propos du texte de Harry Guntrip: “Mon expérience de l’analyse avec Fairbairn e Winnicott”, in Mémoires, N.R.P. N°15, Gallimard, 1977.
- Escrever, Psicanalisar, Escrever: in “Écrire la psychanalyse”, N.R.P. n°16, Gallimard, 1977.
- O ódio ilegítimo, in “L’amour de la haine”, N.R.P. N°33, Gallimard, 1986.
- A estadia de Freud em Paris, in “Pouvoirs”, N.R.P. N°8, Gallimard, 1973.
- “Crônica livre”, em “Penser/Rêver”, Mercure de France e Éditions de l’Olivier, entre 2002 e 2006 (http://www.penser-rever.com)
Bibliografia
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Bertrand_Pontalis
¹ J.-B. Pontalis: Travessia das sombras, Gallimard, 2003.
² Perdre de vue, Éditions Gallimard, 1988, pg. 165.