Talya Candi, uma amiga inesquecível

Observatório Psicanalítico – OP 219/2021

Ensaios sobre acontecimentos sociopolíticos, culturais e institucionais do Brasil e do Mundo.

 

Talya Candi, uma amiga inesquecível

Elias e Elizabeth Rocha Barros (SBPSP)

 

Conheci Talya Candi como aluna em meus seminários. Aos poucos fomos nos tornando amigos e nossas famílias se aproximaram muito. Falávamos, durante anos, pelo menos uma vez por semana, trocando ideias sobre psicanálise. Além destes encontros, jantamos juntos com seu marido Moise muitas vezes aqui e fora de SP. Nós passamos fins de semana com ela no litoral e nos visitávamos com certa frequência.

 

Sempre como famílias amigas e com intimidade. Muitas coisas nos aproximavam.

 

Talya era muito generosa, muito além de várias pessoas generosas com quem convivemos. Sua inteligência era surpreendente e usufruímos muito desta convivência. Algumas vezes, com seu português um pouco enrolado (e um francês perfeito), ela parecia misturar muitas ideias. De repente, surgia uma fala perfeita ou um texto excepcional. Era de fato impressionante. O francês e o espanhol eram suas línguas naturais.

 

Perdemos a conta de quantos textos nossos e dela discutimos. Ela era uma interlocutora permanente para meus (e nossos) textos. Acho que leu todos eles. Muitas vezes aparecia com um texto meu ou nosso, publicado em francês ou espanhol, do qual nos havíamos esquecido, e ela os reavivava com sugestões sempre interessantes. Também líamos seus textos e debatíamos, muitas vezes acaloradamente, nossos pontos de vista diferentes. Ela sempre estava aberta ao diferente e ao inusitado e os incorporava através de uma reflexão profunda.

 

Escrevemos alguns textos juntos. Juntos organizamos dois simpósios e alguns livros resultantes destes simpósios. Esses livros tiveram grande circulação, alguns se esgotaram. São livros que contém textos duradouros.

Lemos mais de uma vez seu livro sobre o pensamento de André Green e muito refletimos a respeito. O próprio André Green lhe escreveu com cumprimentos elogiosos.

 

Nossa convivência se estendeu a alguns nomes ilustres de nosso campo psicanalítico, com os quais estabelecemos diálogos prolongados. Falo de Dominique Scarfone, Fred Busch, Jay Greenberg, a título de exemplo. Tínhamos ainda vários planos conjuntos para continuarmos os Diálogos Psicanalíticos.

 

Seus netos, a quem ela adorava, eram temas constantes de nossas conversas, compartilhando conosco seus desenvolvimentos e gracinhas. Gostamos muito de Moise, seu marido, de quem nos tornamos amigos e com que temos muitas identificações.

 

Durante sua enfermidade, conversamos quase diariamente. Ela tinha plena consciência de sua seriedade e a enfrentou com enorme coragem, resignação e suavidade.

 

À sua família, diríamos para pensar em Talya sentada numa estrelinha olhando por eles e cuidando para que tudo lhes saia bem. Como analistas, diríamos que, quando conhecemos bem uma pessoa, ela sempre viverá dentro de nós, sempre será alguém com quem podemos dialogar.

 

Talya nunca será esquecida, e estará sempre presente em muitos momentos de nossas vidas. Vamos parafrasear Guimarães Rosa: Talya não morreu, encantou-se!

 

(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores)

 

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