Envolvimento Institucional: o quarto eixo

Observatório Psicanalítico – 100/2019

Ensaios sobre acontecimentos sociais, culturais e políticos do Brasil e do mundo.

Envolvimento Institucional: o quarto eixo

Anette Blaya Luz (SPPA)

Tive a oportunidade de ver nascer, sob a gestão de Daniel Delouya, através das competentes mãos de Cíntia Xavier, Carlos Frausino e Beth Mori, esse espaço tão especial e único que é o Observatório Psicanalítico. Não poderia deixar de aceitar o gentil convite de assinar o texto de número 100 do OP, afinal a Febrapsi é o guarda-chuva que abriga essa iniciativa.

O tema escolhido diz respeito à participação de nossos membros e candidatos nas instituições psicanalíticas da Febrapsi, Fepal e IPA, sejam sociedades, grupos de estudos, institutos, jornadas, congressos etc. Esse envolvimento institucional, conhecido como o quarto eixo da formação psicanalítica, centra-se na ideia de que a atividade institucional fortalece o desenvolvimento da identidade analítica. Se entendemos a instituição como o fórum ideal para o desenvolvimento da Psicanálise, onde podemos incrementar a investigação e pesquisa, o intercâmbio científico com instituições de todas as latitudes, e o convívio produtivo, criativo e colaborativo entre os membros e candidatos, escolher essa temático para o texto “100” do OP é mais do que adequado. É muito significativo.

Por que essa temática é tão significativa? Por que participar? Qual a motivação para essa participação, e porque atribuir-lhe tanta importância na constituição da identidade psicanalítica. Algumas ideias me vieram à cabeça:

  1. Nossa profissão é extremamente solitária. Embora estejamos o dia todo ao lado de alguém, o nosso paciente, nossas comunicações visam auxiliar o paciente a entrar em contato com seus sofrimentos, suas razões inconscientes e seus conflitos. Para que isso aconteça precisamos proteger o setting e assim facilitar a instalação do processo analítico. O convívio dentro da instituição é um lugar onde nossas trocas afetivas é livre do compromisso descrito acima. Brincar, “jogar conversa fora” com os colegas de profissão nos enriquece como pessoas além de ser muito gostoso esse convívio;
  1. Nosso trabalho exige que estejamos constantemente atentos ao nosso funcionamento e sempre aprendendo cada vez mais. A instituição psicanalítica é o espaço, por excelência, onde as trocas interpessoais podem e devem acontecer. Participar de reuniões científicas, debater material clínico, contribuir para a realização de um evento científico ou da editoração de nossas revistas, tudo isso faz parte da vida institucional, e essas atividades são valiosíssimas do ponto de vista científico e profundamente enriquecedoras para nós como analistas e como indivíduos, que precisam cada vez se aprimorar na troca de experiências com colegas que às vezes pensam parecido conosco, mas às vezes não. Lidar com a alteridade dentro das instituições é algo difícil, mas muito importante.
  1. Como candidatos, a participação na vida institucional oportuniza conhecer melhor colegas mais velhos e conviver com eles. É uma grande chance de eleger modelos identificatórios para além dos seus analistas, supervisores e coordenadores de seminários. Mas não só candidatos se beneficiam dessa oportunidade. Muitos que abraçam tarefas dentro da vida institucional tem a chance de conhecer outros colegas que, de outra sorte, talvez só conhecessem de nome. Além de terem a chance de se fazerem conhecer. Isso é importante para a constituição de um networking, tão essencial em nossa atividade.
  1. Por todas as razões acima podemos compreender as relações institucionais como tendo uma função continente para as angústias que enfrentamos em nossa profissão.  Tanto durante o período da formação, mas creio que principalmente quando a formação já está conclusa.

Finalizo essa breve comunicação expressando o quão vital é para mim estar envolvida nas questões referentes aos rumos da psicanálise e que muitos desses assuntos nascem e se desenvolvem dentro das nossas sociedades locais, mas também nos transportam para outros âmbitos institucionais, tais como a Febrapsi, Fepal e IPA; e, também, para além dos nossos muros institucionais, ampliando nossa percepção e inserção na cultura e na comunidade.

O Observatório Psicanalítico (OP) é um belo exemplo disso, pois nascido dentro de nossa instituição, Febrapsi, nos transporta para muito além dela, abrangendo questões do cotidiano que dizem respeito a nós psicanalistas, que agora temos um fórum oficial para dialogar a respeito delas. 

Parabéns ao OP e a todos que contribuem escrevendo, lendo ou divulgando. 

Vida longa ao OP!

(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores). 

Tags: formação | Instituição Psicanalítica | Quarto eixo da formação
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